8 de março - Dia Internacional da Mulher

 

Para homenagear todas as mulheres que dedicam suas vidas à educação, neste dia 8 de março destacamos a carioca, escritora, educadora, jornalista, advogada e acadêmica, Rosiska Darcy de Oliveira.

Considerada uma das principais líderes feministas do Brasil desde a década de 60, Rosiska revela que há alguns anos deixou de falar do movimento de mulheres e passou a destacar as mulheres em movimento. “Na minha juventude a luta era de uma minoria que agia por uma causa. Hoje as mulheres em movimento são quase todas elas, basta ver o perfil da nossa sociedade. O mercado de trabalho e as universidades são ótimos exemplos”, afirma. 

Atual detentora da cadeira de número 10 da Academia Brasileira de Letras, na sua vida profissional Rosiska pautou a educação como ferramenta para a prática da liberdade de cada indivíduo. Conceito adquirido ainda muito nova, quando se iniciou na carreira acadêmica na Suíça, durante seus anos de exílio em decorrência da ditadura militar.

De volta ao Brasil na década de 80, teve a oportunidade de participar da concepção e implementação do projeto dos Cieps no Estado do Rio de Janeiro, cujo objetivo principal era viabilizar o ensino de qualidade para todos, sobretudo para crianças pobres.

Autora de 13 livros, dos quais quatro falam sobre o universo feminino, é a sua versão escritora que Rosiska mais gosta de destacar. Confira abaixo a íntegra da entrevista que concedeu com exclusividade para o site do SinepeRio. 

SinepeRio - Ao longo de sua carreira, a senhora reuniu relevantes títulos e condecorações e assinou significativa obra literária. Hoje ocupa uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Qual o momento da sua carreira foi o mais significativo, em sua opinião?   

Rosiska Darcy - Eu acho que houve fundamentalmente dois momentos. Um foi há alguns anos, em 1995, quando tomei posse da presidência do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Na época o Ministério da Mulher não existia e isso tinha um pouco essa função no Governo. E a outra foi, indiscutivelmente, quando eu fui eleita na Academia Brasileira de Letras e tomei posse. Foram as maiores alegrias na minha carreira.

Outro momento que considero muito agudo na minha carreira foi a publicação do meu primeiro livro, Elogio da Diferença, quando eu ainda era muito jovem.  O primeiro livro que a gente publica é sempre uma grande alegria para o autor. Sobretudo, tive razões de sobra para tanta alegria porque ele teve muita boa receptividade pelo público, majoritariamente feminino.  É um livro que escrevi para as mulheres e tem entre elas, e para o movimento feminista, suma importância. 

Na minha vida pessoal, é difícil dizer porque tive uma vida muito longa, mas talvez o fato de eu ter agora mais de 55 anos de casada é significativo. Sobretudo porque somos um casal que decidiu não ter filhos e estamos casados até hoje, acho um quadro significativo. Não poderia dizer um momento significativo, mas acho que toda a minha vida como feminista para mim foi muito importante.

SinepeRio - Durante o seu exílio na Suiça, a sra. teve a oportunidade de conhecer Paulo Freire e Jean Piaget, dois relevantes pensadores do século XX, que exerceram influência para a sua entrada no ramo da educação. Alguns anos depois, de volta ao Brasil, a senhora teve a oportunidade de trabalhar diretamente com Darcy Ribeiro, personalidade a quem a senhora nutre grande admiração. Qual o maior aprendizado que a senhora teve com cada um deles?

O Paulo Freire não foi apenas uma pessoa que conheci na Suiça. Eu convivi estreitamente com ele durante 15 anos. Trabalhamos juntos, fomos grandes amigos. Ele foi muito solidário comigo no período de exílio. Eu aprendi muitas coisas com ele, tanto no plano da educação como no pessoal, pelo exemplo dele como homem, como pessoa,  como chefe de família. A casa dele para mim era um aprendizado. Mas o que aprendi com ele na educação, que mais me aproximou desse universo, foi o princípio da educação como prática da liberdade. E isso foi uma convicção que se instalou em mim até hoje e que, à medida das minhas forças, procurei passar adiante, junto a educadores com quem eu trabalhei a vida toda. 

Piaget foi outra relação, dele eu fui aluna durante os dois últimos anos em que ele lecionou na Universidade de Genebra, antes de se aposentar. Foi um privilégio raro, que poucas pessoas terão tido. Depois disso só nos revimos quando eu fui ser professora na universidade onde ele ainda possuía um escritório onde ia de vez em quando. Mas com ele eu aprendi fundamentalmente o pensamento científico. Ele era um grande cientista, talvez um dos maiores do século passado. Todos os educadores sabem disso. Ele foi na educação o que Freud foi na psicanálise. Eu como aluna, ele organizou a minha maneira de olhar os objetos de estudo. Como se transforma uma intuição de uma problemática em conhecimento sobre a mesma. Eu acho que eu nunca teria feito a minha tese de doutorado sem ter sido aluna dele. Ele não era só psicólogo, era também epistemólogo. Me ensinou também toda uma reflexão e construção sobre a inteligência, e isso me possibilitou entender muito melhor o que é processo educativo. Isso associado à educação como prática da liberdade, foi o culto muito feliz, de ter tido a convivência com o Paulo sendo aluna do Piaget, com quem eu também aprendi imensamente.

De volta ao Brasil, já era formada intelectualmente, fui trabalhar com o Darcy Ribeiro. E ele me ensinou o Brasil, o que era uma educação voltada para os brasileiros, e essa ideia de que era necessário levar uma educação de qualidade em termos de escola pública. Isso também veio ao encontro de uma convicção que eu já tinha, porque eu fui aluna de escola pública e tenho por ela o maior entusiasmo. Trabalhei com ele no projeto nos Cieps, projeto que concebemos juntos, acompanhei todo o processo. O Darcy também era uma convivência extremamente inspiradora. Ele subitamente se virava e dizia: “Como é bom estar vivo”. E isso era muito comovente, na boca de um homem que se sabia condenado por uma doença muito grave. Ele aproveitava o que lhe restava de vida ao máximo. Da mesma maneira, quando começava a desanimar de alguma coisa, ele não deixava ninguém desanimar de nenhum projeto, e concluía sempre dizendo “havemos de amanhecer”. E essa foi uma mensagem que também passei adiante. Eu costumo sempre citar o Darcy, sobretudo quando se fala do Brasil e quando encontro plateias desesperançosas, citando esse lema. E eu como ele acredito nisso.

Então essas foram as três grandes influências educativas que eu tive. O Darcy foi o homem que pensou a escola pública para o maior número possível de crianças, sobretudo crianças pobres, que precisavam e salvar na escola. Esse era o espírito dos Cieps. Ele era devotado ao Brasil, vocacionado para o páis, e ele me passou isso. Uma vocação que tive junto às mulheres e à educação brasileira, como prática e defesa da liberdade. Então eu realmente fui uma grande privilegiada, porque três pessoas que cruzaram o meu destino em momentos diferentes da minha vida, e que afinal de contas me construíram.

No fim adolescência eu tive um amigo, muito mais velho, um grande crítico de arte, grande professor, chamado Mario Pedrosa. Foi proporcionou uma abertura de horizontes muito grande para mim. Me abriu para o mundo da arte. Foi também uma pessoa que teve uma importância central na minha vida.

Eu tenho um livro chamado “Baile de Máscaras” que é dedicado ao Mario, ao Paulo e ao Darcy, que considero que são presenças sempre na minha vida. Tenho foto de todos três no meu escritório até hoje.

SinepeRio – Desde os tempos do seu exílio na Suíça, no final da década de 70, até os dias de hoje, em sua opinião, quais foram os principais ganhos da Educação no Brasil? 

Rosiska Darcy - Eu acho que a primeira básica é a matrícula, o fato de você ter cada vez mais crianças na escola. Ainda que haja repetição, abandono escolar, isso tudo são problemas que estão hoje equacionados, mas naquela época eles eram invisíveis.  Eu diria que o segundo ganho é que hoje a educação é estudada, discutida, é um tema de debate no Brasil. Vários talentos se debruçam na questão como cientistas, com conhecimentos acumulados, existe a ideia de avaliação dos processos educativos, a consciência de uma filosofia da educação que passa, necessariamente, por Paulo Freire.

SinepeRio – Se arrepende de ter voltado para o Brasil?

Rosiska Darcy – Nunca me arrependi de ter voltado para o Brasil nem de nada que me levou ao exílio. Foram anos difíceis e sofridos, mas ao mesmo tempo muito felizes e muito proveitosos. Não tenho queixas sobre isso. Mas adoro o Rio de Janeiro. 

Sinepe Rio - A senhora também participou do movimento feminista desde muito cedo. Em maio completam-se 55 anos desde as manifestações que tomaram as ruas de Paris. Desde então, como avalia os desdobramentos do movimento feminista? O que a Rosiska feminista de hoje falaria para a Rosiska feminista dos anos 60?

Rosiska Darcy - Eu diria parabéns, cuidado e não será fácil, porque é um caminho muito arriscado. Mas eu tenho duas coisas claras: a minha geração quebrou um paradigma milenar. E isso é um privilégio que nem todas as gerações conhecem, e que nós pagamos um preço muito caro. Porque nós levávamos a vida ao pé da letra. O que eu escrevia, eu vivia, e o fazia de maneira pioneira. Foi um caminho de bravura num certo sentido, de toda essa geração. Passamos por coisas muito duras, muita humilhação, deboche. Houve um tempo em que ser feminista era uma ofensa. 

Eu diria também, sem medo de me enganar, que o feminismo foi a única revolução do século XX que deu certo. Aquela que não se desfez e que suas lideranças não a renegaram.  Pelo contrário, temos nisso o maior orgulho. 

Mas eu acho que estamos entrando numa fase, já há alguns anos, em que eu parei de falar no movimento de mulheres e passei a falar em mulheres em movimento. O feminismo era uma minoria que lutava por uma causa.  E hoje, todas as mulheres estão em movimento de alguma maneira. Basta ver o perfil da sociedade, o mercado de trabalho e as universidades são bons exemplos. Ainda não se encontrou exatamente a equidade que se buscava. Ainda não, mas estamos vindo de muito longe. E já trilhamos um bom caminho. 

Agora parece estranho dizer isso em um país onde o feminicídio é tão frequente. Paradoxalmente, foi o sucesso do feminismo que causou essa reação violenta. Isso é, digamos assim, um estertor de revolta daqueles que perderam o poder sobre nós. E a essa perda se responde a pancada, tiro a toda forma de boçalidade. Tenho certeza que esse movimento não anda para trás. As mulheres não vão parar o seu caminho em busca de liberdade, autonomia e independência. Mulheres não dependem nem de pai e nem de marido. Foram vitórias que foram duramente conquistadas.

SinepeRio - E qual o conselho daria para os jovens da geração atual? 

Rosiska Darcy - Sou meio avessa a conselhos, mas uma coisa que eu acho muito importante e vale para homens e mulheres: seja você mesmo e não perca o seu horizonte de liberdade. Eu acho que o horizonte das pessoas deve ser a sua liberdade. Uma vez me perguntaram: “afinal, o que querem as mulheres”? E eu achei muito boa a pergunta, porque pela primeira vez, deixavam as mulheres dizerem o que elas querem, porque até então elas já nasciam com o destino já traçado e ninguém perguntava nada. Mas na hora que você pergunta é ótimo, porque elas têm o direito de falar e cada uma quer uma coisa diferente. Isso é a liberdade. Não tem um modelo politicamente correto. O importante é a pessoa poder escolher a própria vida, em liberdade. Menos que um conselho, isso é uma opinião que compartilho com as pessoas. 

SinepeRio - A senhora costuma dizer que a pílula anticoncepcional foi uma quebra de paradigma na vida das mulheres. De lá para cá, que outras conquistas femininas a senhora destacaria como as mais significativas?

Rosiska Darcy - A pílula abriu caminho para a liberdade sexual e quebrou uma certa escravidão sexual ao impedir que uma mulher tenha 21 filhos. Agora um desafio para as mulheres nos dias de hoje, e eu já escrevi um livro sobre isso, chamado Reengenharia do Tempo, é o uso do tempo em suas vidas, as 24 horas do dia. Porque o mundo não se preparou, as sociedades, o mercado de trabalho, não estão desenhados para as mulheres. Começa a haver um pouco um debate sobre isso, em algumas empresas começam a fazer adaptações. Mas normalmente, grande percentual das empresas brasileiras ignora completamente a questão da vida privada, o que condena as mulheres a limitações imensas. Porque essa questão não é um problema privado, tem uma dimensão pública, porque é nessa articulação entre essas duas dimensões que a sociedade se define. 

Se as mulheres são as responsáveis pelo lar, é porque isso representa algo para elas. Mas o que me preocupa é que elas são os personagens que mantêm de pé as vidas privadas. Mas não necessariamente devem ser feitas apenas pelas mulheres. É muito importante a defesa dos espaços de afetividade, de família, mas não necessariamente de responsabilidade única das mulheres. Então essa é a segunda grande conquista. A possibilidade de que isso seja estudado e procurado soluções para isso. 

A grande conquista é ter conseguido mostrar à sociedade mundial que existem dois sexos no planeta, e não apenas um e seu avesso. As mulheres não são ao contrário dos homens. Então eu acho que essas são as grandes vitórias do século XX que foram trazidas pela minha geração. As outras agora são por conta da meninada que está aí.

SinepeRio – Que mudanças aconteceram nas relações conjugais e que novos desafios os atuais casais enfrentam? 

Rosiska Darcy - Eu acho que na minha geração foram desafios gigantescos. As pessoas que ficaram casadas, que foram poucas, casaram várias vezes dentro do mesmo casamento. Viveram com pessoas que foram evoluindo e se modificando junto com elas. 

Os outros romperam, não suportaram a pressão dos novos tempos. Uma das coisas que provocou essa ruptura foi a questão do tempo. As mulheres foram para as universidades, queriam um outro lugar na sociedade, trabalhar, ter suas carreiras em busca de autonomia e independência, um salário que lhes dessem uma liberdade que não tinham antes. E os homens queriam que elas ficassem em casa. 

Hoje os problemas conjugais ainda estão um pouco presos a essa questão dos papéis. Olhando em volta de mim, eu não tenho nenhuma amiga ou relação muito próxima com uma mulher que não trabalhe. São pessoas que têm renda própria, o que é importante, e eu acho que isso continua sendo um problema conjugal forte.

Problemas conjugais são normais e estão na ordem do dia. Acho que eles hoje repousam no fato que as relações se orientam muito mais pelos caminhos da afetividade do que pelos princípios do dever conjugal, que eram muito rígidos. É o que não fosse imortal posto que é chama. Muitas vezes os casais passavam a vida inteira um com outro sem se gostarem, o que era muito comum. Hoje as mulheres quando não estão mais felizes têm mais recursos pessoais e mais cabeça para saírem da relação. Hoje o casamento tem que ser satisfatório para os dois, o que é mais difícil de conseguir. 

SinepeRio – Como a senhora enxerga o papel da mulher na sociedade hoje e o equilíbrio de seus diversos papéis: a mulher, a esposa, a mãe, a profissional?

Rosiska Darcy – Eu acho que ela tem que identificar onde estão os obstáculos, porque às vezes eles não são necessariamente o marido, e sim as empresas onde o casal trabalha. Mas acho que elas não têm necessariamente um papel a cumprir. Repito o que já disse antes, cada um deve ser o que quiser ser. Se quiser ter filhos terá, mas deve ter em mente a sua realização pessoal, porque uma mulher não é só mãe. Hoje em dia ela pode casar com quem quiser, não casar, viver com quem quiser, bem entender. E isso não provoca mais escândalo nenhum, em ninguém. Há uma margem de escolha. Eu escolhi não ter filhos e tenho uma amiga que tem sete. 

Não existe norma de felicidade. Tem uma pessoa que se devota completamente à sua arte, e é feliz com isso. Outra que não pode conceber a vida sem a maternidade.  As pessoas são diferentes. O problema é que a mulher sempre tinha que ter um papel: o de mãe e esposa. E isso não existe mais obrigatoriamente.  Aumentou o direito de escolha, o que é muito mal recebido pela faixa conservadora da sociedade. Por isso eu digo que os problemas não estão resolvidos, mas muitos deles estão encaminhados. Essa foi uma função fundamental da minha geração: desocultá-los e chamá-los de problema. Situações que eram consideradas um senso comum, e eu não concordo com isso. 

SinepeRio – O que as mulheres ainda precisam conquistar, ou provar, na sua opinião?

Rosiska Darcy – Eu acho que não se deve aceitar essa ideia de que tem que provar coisa nenhuma. Acham que as mulheres têm que provar que elas são capazes de fazer a mesma coisa que os homens. E eu espero que não sejam, que não queiram ir à guerra. As mulheres são diferentes dos homens. Tenho um livro que se chama “Elogio da Diferença”. Uma das armadilhas em que nós caímos foi a de achar que nós tínhamos que provar para os homens que nós éramos como homens. Não tinha que provar coisa nenhuma. Os homens é que tinham que construir um mundo onde coubessem as mulheres. É isso que eu falo que existem dois sexos no mundo. 

Já sobre conquistar, eu acho duas coisas, fundamentalmente: a autoestima e a autonomia financeira. Muito bem formulado pela Virginia Woolf lá atrás, nos anos 20 do século passado, quando ela disse um quarto para si e uma renda anual. Ou seja, um teto que ela possa pagar e um dinheiro que ela possa sobreviver. E isso significa acesso à educação, à universidade, ao mercado de trabalho, reengenharia do tempo, enfim, tudo isso.

SinepeRio – Essa sua posição já responde em parte à próxima pergunta. Certa vez a vi falar em uma entrevista que o comportamento “masculinizado” das mulheres no mercado de trabalho foi uma decepção. Como acredita ser o comportamento ideal de uma mulher nos dias de hoje, profissional e socialmente?

Rosiska Darcy – Exatamente, responde sim. Nós não temos que provar que somos como homens. Ao contrário, acho que isso é uma expectativa masculina, mas não deve ser a a nossa, daí eu falar em autoestima. Eu dou um exemplo sempre que é muito forte: eu li várias histórias da civilização. Em nenhuma menciona como marco civilizatório o fato de pegar uma criança recém-nascida, que é um bichinho, e entregar na escola aos sete anos sabendo se vestir, escovar os dentes, comer com garfo e faca, tomar banho, se limpar, tudo isso. Ou seja, transformá-lo em um ser humano. Esse fato civilizatório, por referência, qualquer mulher, por mais ignorante que seja faz, passou sob silêncio na história. No entanto, os homens que escreveram essas histórias tiveram uma mulher que ensinou a eles tudo isso, mas eles esqueceram de mencionar esse fato.  Eu acho isso um espanto.

SinepeRio – Fazendo uma retrospectiva da sua vida, teria feito alguma coisa de forma diferente na sua história?

Rosiska Darcy – Eu acho que teria escrito mais livros, mais variados. Eu teria me concentrado mais na literatura do que me concentrei. De uns anos para cá, eu tenho feito isso constantemente. Eu gosto muito, eu sou uma escritora e feliz de sê-lo. Talvez eu tivesse feito mais isso. Mas tive que trabalhar, ganhar a minha vida, não pude escolher tanto. Mas hoje, olhando para trás, talvez fosse a única coisa que eu mudasse mesmo. Ou outras coisas talvez, porque é muito fácil dizer agora o que teria feito naquela época, mas eu sempre tive o princípio de fazer o que queria. E o que eu queria naquela época foi o que eu fiz, não é o que eu quero hoje. Estou falando que queria ter escrito mais livros, mas estou falando de boca cheia, porque escrevi 13, mas assim mesmo poderia ter escrito mais. Mas ao mesmo tempo não poderia, porque vivi por 15 anos numa língua que não era a minha e isso me dificultou enormemente. Meus dois primeiros livros eu escrevi em francês, mas só depois de ter dominado completamente a língua, o que levou anos. 

Talvez eu tivesse viajado mais do que viajei. Apesar de ter viajado imensamente. Gosto muito de viajar. Devia ter tomado mais banhos de mar.

SinepeRio – Se a senhora pudesse se resumir em uma frase, qual seria?

Rosiska Darcy – Uma escritora brasileira.