Presente em nosso cotidiano, a tecnologia ganha espaço como ferramenta pedagógica e está cada vez mais presente na sala de aula. Por meio de tablets, celulares e computadores, alunos e professores estão conectados ao mundo, mas estar equipado não garante a melhora do aprendizado. No final do ano passado, o resultado de um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em escolas de 31 países mostrou que aqueles que investiram em tecnologia não obtiveram melhora significativa na aprendizagem dos alunos nas disciplinas básicas (Leitura, Matemática e Ciências). O estudo analisou o impacto da tecnologia em escolas de diversos países.
Atuando há mais de 30 anos na área de Educação, Claudia Stippe, presidente do Instituto Paramitas – ONG que desenvolve ações educativas com o uso de tecnologia –, acredita na melhora da qualidade educacional por meio da tecnologia digital. De acordo com a especialista, a questão é utilizar a ferramenta de forma adequada. “A tecnologia está disponível. Acredito que o acesso não é mais o problema. Todos têm celulares, por exemplo. Os computadores estão presentes nas escolas, talvez de uma forma mais sistematizada e controlada na rede particular, mas o sistema público também já oferece. Essa etapa do acesso já foi superada”, explica Claudia, que atuou como consultora da Unesco em programas de implantações de tablets nas escolas.
Para a especialista, a questão principal é tornar o professor agente do processo, transformando numa construção coletiva. “Hoje a tecnologia leva a ações individuais em sala. Os professores passam tarefas e jogos, e cada um faz isoladamente em seu aparelho. Essa visão deve ser alterada. O professor precisa participar e interagir com os alunos. Somente assim a tecnologia será usada de forma eficiente e capaz de gerar os resultados esperados”, esclarece.
Para que os professores consigam participar dessa construção, Claudia destaca que é preciso investir na formação continuada. “É preciso acabar com a formação estanque. O professor vai, faz um curso e pronto, acabou. Alguns ficam sistematicamente fazendo cursos. Mas a formação continuada não deve ser assim. Acredito que após aquele momento comum, é necessário criar ambientes virtuais ou outras formas que permitam um acompanhamento do que foi trabalhado durante o curso, durante a palestra. É preciso mostrar a continuidade, a aplicação do que foi discutido; do contrário, não tem muito sentido, pois, muitas vezes, a experiência se encerra junto com o fim da palestra”, explica a professora.
Além de investir na formação continuada, Claudia acredita que é necessário estimular os professores a usarem as ferramentas disponíveis, o que pode ser feito de forma simples, como, por exemplo, a partir da criação de grupos de estudos pela internet. “Como não há mais o problema do acesso, esse estímulo pode ser facilmente executado pelo whatsapp, blogs e redes sociais. Coordenadores podem criar espaços para debates e trocas de ideias. Isso, de certa forma, vai familiarizar o professor com as ferramentas que ele precisa conhecer”, avalia.
Para garantir a eficiência do uso da tecnologia, um dos pontos ressaltados pela especialista é que é preciso inserir a tecnologia no Plano Político Pedagógico (PPP) da escola. “A unidade escolar deve mostrar aos professores que é preciso lidar com essas ferramentas para trabalhar em sala. A instituição deve deixar claro que isso faz parte do PPP e mostrar que é algo real e não está apenas no papel. É necessário usar também as ferramentas para interagir com os docentes e, de certa forma, obrigá-los a navegar nessas redes”, finaliza.
Dicas para se ambientar no mundo virtual
Para conhecer profundamente essas tecnologias é preciso usá-las. Algumas dicas podem ajudar os professores que desejam navegar nesse mundo virtual:
– Criar uma página ou blog da disciplina onde os alunos podem se atualizar e interagir, além de ver a matéria, é uma boa opção. O espaço deve ser um lugar de construção de conhecimento, onde todos possam interagir;
– Criar grupos de discussões para a disciplina em que alunos e professores possam trocar informações e manter-se conectados com a disciplina;
– Pesquisar sobre aplicativos e plataformas educacionais para conhecer suas possibilidades;
– Há muitas ferramentas que auxiliam os professores como mapas, filmes e jogos. Verifique qual deles pode ser usado;
– Mantenha a mente aberta para essa nova ferramenta educacional. Só assim é possível aprender e descobrir suas possibilidades.
Ed. Livros de Safra, 2013.