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Publicado em 27 de agosto de 2013 | 7 minutos de leitura

A escola do futuro

 

O fim da fragmentação do ensino em disciplinas e plataformas virtuais para o processo de aprendizagem são os caminhos para a escola  adequar-se  às  exigências de um público cada vez mais tecnológico e informado. Essa é a visão da coordenadora do ensino médio do Colégio Notre Dame, Maria Elisa L acerda.

Com a experiência de quem trabalha com jovens há  muitos anos, a professora diz que é preciso mu- dar o modelo educacional para tornar a escola atrativa e interessante para os jovens que hoje têm acesso livre à informação e ao conheci- mento. “O modelo que temos não atende mais aos jovens dessa geração”, diz Maria Elisa Lacerda, que acredita  que  o  futuro  do  ensino está nos ambientes virtuais e que a mudança para um novo modelo deve começar pelo professor.

“O professor tem que trabalhar com a motivação das crianças e jovens. Hoje, é fundamental ele saber silenciar para escutar o que o jovem tem a dizer e orientá-lo; ter  sensibilidade  para  despertar a curiosidade do aluno, que está cada vez mais conectado com o mundo.  Se  o  professor  cortar  a fala do jovem, ele pode não entrar mais no processo de aprendizagem”, avalia Maria Elisa.

A era dos tablets, Ipads, note- books e celulares multifuncionais, que derruba os muros da escola no processo educativo, pode trazer algumas  perdas,  mas  é  impossível pensar, hoje, em educação sem usar essas ferramentas. “O jovem tende  a  escrever  menos  e,  com isso, perde um pouco a habilidade da escrita e de sua motricidade fina, mas não podemos fugir da realidade que se impõe no mundo. Gostando-se ou não, a tecnologia está aí e vamos ter que usá-la para despertar o interesse do jovem. Com essas novas ferramentas, o aprendizado está em qualquer lugar”, diz a coordenadora do Notre Dame.  Ela  acredita  que  o  futuro da educação está nas plataformas virtuais, programas em que alunos e professores podem montar e participar de aulas e interagir em ambientes dinâmicos e específicos para cada tipo de trabalho.

“O município do Rio de Janeiro já está se adequando a essa novidade e creio que esse é o caminho. O jovem quer ir para a escola para interagir, quer participar, ser também  autor  do  processo.  Não dá mais para pensar o aluno apenas  como  receptor  das  informações passadas pelo professor. Por isso, é fundamental criar novos espaços de aprendizado e exigir também uma mudança de postura do professor”, dia Elisa Lacerda.

Diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Mauro Pequeno, que atua na área de Ciência da Computação, com ênfase em Informática Educativa, diz que a escola deve evoluir para que os alunos possam ter maior participação nas atividades. “Ainda temos um modelo de escola que é muito centrado na fala do professor e os alunos apenas escutam ou realizam exercícios. Deve-se pensar  em  um  modelo  de  escola em que o professor aborde o conteúdo em um formato investigativo. A exposição de conteúdos deve ser usada para sistematizar conhecimentos que tenham sido pesquisados pelos alunos”, diz o especialista.

Para Mauro Pequeno, a tecnologia deve estar disponível não apenas na sala de aula, mas em outros espaços da escola. “Uma gama diversificada da tecnologia deve ser aproveitada em diversas situações, explorando suas potencialidades. Por exemplo, computadores, notebooks, tablets ou celulares podem ser usados de diversas formas: para acessar conteúdos em vários formatos (texto, vídeo, imagens); para produzir e publicar conteúdo dos alunos (vídeos,  apresentações,  fotos);  para se comunicar com colegas ou professores, desenvolver trabalhos cooperativos; e ainda para acessar recursos interativos (simulações, jogos etc.)”, ressalta o educador.

Além  disso,  ele  acredita  que o uso de dispositivos móveis dá maior dinamicidade e praticidade ao processo, estendendo (ou até derrubando) os muros da escola e dotando a educação de uma forma holística como a própria vida.

MUDANÇA NO CURRÍCULO

Outra mudança que se impõe está nos currículos. A fragmentação em  disciplinas,  que  muitas  vezes são lecionadas de forma isolada e sem conexão com as outras matérias, parece não fazer muito sentindo em um mundo onde tudo está conectado, interligado.

“Muitas vezes, os professores lecionam as matérias de forma estanque. Mostram o conteúdo, explicam a teoria sem mostrar a relação que aquilo tem com o dia a dia do jovem, sem mostrar como isso está presente em sua vida. Com isso, ele não vê utilidade para aquele aprendizado. Essa fragmentação não faz sentindo. Acredito que vamos ter uma mudança e que a interdisciplinaridade será cada vez mais presente, e que, no futuro, teremos um currículo dividido pelas áreas do conhecimento, nos moldes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não mais por disciplinas, como temos hoje”, avalia Maria Elisa Lacerda.

Mauro Pequeno concorda. Ele diz que é preciso mudar a forma de abordagem das disciplinas. “O conteudismo que impera nas nossas escolas precisa ser substituído pelo discernimento em saber buscar, se- parar e formular o pensamento crítico que conduz à verdadeira aprendizagem. Em todas essas situações, que são comuns tanto num processo de ensino presencial como a distância, o emprego das tecnologias está sendo inserido de forma quase natural pela própria especificidade de suas características”, diz o diretor da Abed.

 No Notre Dame as novidades vêm sendo implementadas. A escola usa tablets, quadro interativo, data show e outros recursos para dinamizar as aulas, mas, além da tecnologia para transmitir o conteúdo didático, outro aspecto é relevante no processo de ensino: a questão dos valores. “A educação, hoje, além da questão da instrução, não pode se furtar à formação de valores. Com os pais trabalhando fora, a formação também passou a ser um dos papéis da escola moderna”, conclui Elisa Lacerda.

Além  disso,  a  escola  do  século XXI deve ser mais democrática. Estar aberta à comunidade, ouvir pais e alunos;  integrar o conteúdo escolar à tecnologia, ao desenvolvi- mento social para formar cidadãos conscientes e críticos.


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