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Publicado em 27 de março de 2012 | 8 minutos de leitura

Aprender a lidar com dinheiro

Educação financeira ajuda a combater o consumismo e a criar cidadãos mais conscientes 

Nas últimas décadas, a indústria descobriu o poder infantil e as crianças viraram alvo das empresas de publicidade. Diariamente são bombardeadas por propagandas que estimulam a compra e criam ávidos consumidores. Então, ensinar o jovem a lidar com o dinheiro é mais um desafio para os educadores, sejam eles pais ou professores.

No Colégio Anglo-Americano, na Barra da Tijuca, a Educação Financeira é incentivada desde cedo. Como a filosofia do colégio é formar alunos empreendedores, o assunto é tratado no 9º ano do Ensino Fundamental, dentro da Matemática Financeira. A disciplina trabalha cálculos e conteúdos matemáticos a partir da relação com o dinheiro.

— A ideia é fazer com que os jovens percebam como a economia é fundamental em nossa vida. Mostramos o cálculo de juros simples e compostos, a partir do dinheiro. Isso faz com que eles descubram que é preciso responsabilidade para lidar com o dinheiro. A partir de exemplos práticos do dia a dia, ministramos o conteúdo e também fazemos com que percebam que não se pode gastar sem controle — diz o professor Jorge Luiz Coppolo, coordenador do ensino fundamental.

Para o professor, trabalhar a questão financeira com o os jovens tem um efeito futuro.

— Eles percebem desde cedo que é preciso cuidado e atenção para lidar com o dinheiro, mesmo quando ele vem fácil (como no caso da mesada), e exige responsabilidade.

Na rede estadual, a secretaria de Educação já incluiu em algumas escolas o Programa de Educação Financeira e os resultados, na avaliação dos professores, é positivo. “Percebemos que o aluno passa a consumir com mais responsabilidade e isso reflete em toda a família”, relata Vanesa Costa da Cruz, diretora do Colégio Estadual Antonio Houaiss, no Méier.

Para a educadora, incluir o tema no Programa Político Pedagógico da escola é contribuir para a formação do cidadão pleno. “Os alunos amadurecem, refletem constantemente sobre a importância de gerirem seus recursos desde cedo e acabam sendo multiplicadores em suas famílias”, avalia.

Conceitualmente, educação financeira é ensinar a consumir com responsabilidade, utilizando o dinheiro de forma sustentável. Na prática, significa ensinar a administrar ganhos e gastos, a evitar o endividamento, a priorizar o consumo de bens que agregam valor à vida das pessoas, como explica Reinaldo Domingos, diretor do Instituto Dsop de Educação Financeira:

— É um tipo de ensinamento que não deve se restringir a cálculos matemáticos e à elaboração de planilhas. É claro que são ferramentas importantes para ter controle do orçamento, mas consumo é atitude, é escolha, e isso é influenciado pelos hábitos e costumes de cada pessoa. Portanto, para a educação financeira ser eficiente precisa ter uma abordagem comportamental.

Segundo o especialista, é preciso ajudar as crianças a perceberem a importância de fazer escolhas, pensando no presente e no futuro. “As crianças são muito observadoras e cedo começam a perceber que o dinheiro tem uma força. Frequentemente, elas veem os adultos entregarem dinheiro, cartões e cheques em vários locais em troca de mercadorias. Ou seja, observam que troca-se dinheiro por coisas que se quer ter. Ao mesmo tempo, crianças e jovens estão expostos às mensagens publicitárias que estimulam o desejo de ter”, diz Reinaldo, ressaltando que, quanto antes as crianças forem orientadas a lidar bem com seus recursos financeiros, mais qualidade de vida poderão ter.

Educação financeira começa na infância

O aprendizado deve começar cedo. A partir dos três anos, as crianças já podem aprender a lidar com o dinheiro.  Para essa faixa etária, as lições devem ocorrer de forma lúdica e prazerosa. “Desde cedo é preciso mostrar à criança que, para realizar aqueles sonhos que o dinheiro compra, é preciso saber quanto eles custam e que, dependendo do valor e, de sua importância, leva mais ou menos tempo para juntar o valor necessário para comprar”, explica Reinaldo.

Quanto aos adolescentes, a educação financeira deve ajudá-los a tornarem-se cidadãos mais autônomos, com visão crítica e capazes de idealizar e realizar projetos individuais e coletivos, assimilando, desde cedo, a importância do equilíbrio financeiro para o bem-estar individual e social.  “A abordagem deve considerar os desafios típicos da idade: escolha da profissão, primeiro emprego, gastos com diversão, roupas, acessórios e estudos. Temos de ajudá-los a refletir sobre o padrão de vida que querem ter e como poderão se preparar para essa conquista, assim como apresentá-los aos mecanismos de compra, de crédito e de investimentos, com suas vantagens e riscos, para saberem fazer a melhor escolha”, explica Reinaldo Domingos.

Como se trata, praticamente de um conhecimento que envolve todos os setores da vida, a educação financeira é uma disciplina que deve ser trabalhada de forma transversal, podendo ser ensinada por meio de disciplinas como Português, História, Ciências, Ética, Estudos Religiosos e Matemática. O fundamental é que o ensino seja contínuo e evolua conforme o amadurecimento natural dos alunos. Assim, em cada ano letivo o tema pode se repetir, com base na mesma metodologia, porém com abordagens e exercícios relacionados ao momento da criança. “Mas é importante que a aula não pareça uma coletânea de dicas financeiras. Dicas não levam à mudança de comportamento. É preciso fazer conexões com as situações da vida prática do aluno para que ele encontre sentido naquilo que está aprendendo”, frisa o especialista.

Aprendizado traz benefícios para as famílias e para as escolas

Enquanto os pais estão buscando caminhos para ensinar os filhos a lidar com o dinheiro, a escola pode ajudar incluindo o tema no Programa Político Pedagógico. “Quando a escola decide compartilhar esse conhecimento, os benefícios têm um efeito em cadeia, que atinge professores, alunos, famílias e a comunidade ao redor. Os alunos compartilham o aprendizado com irmãos, pais, amigos e outros familiares. Há depoimentos comoventes da transformação que algumas crianças promoveram em seus lares. Os pais também são instruídos por meio de palestras, workshops e reuniões de conscientização”, destaca Reinaldo Domingos.

A mudança a que se refere o especialista foi vivenciada pela diretora do Colégio Antônio Houaiss. “Pude participar de uma aula e o discurso de uma aluna deixou claro o impacto do programa em sua vida. Ela contou que sua mãe estava com muitas dívidas, vários cartões bloqueados e que ela sentia-se incomodada e triste com essa situação. Porém, aquelas aulas estavam contribuindo para que ela ficasse mais consciente e responsável. Disse, ainda, que repassava o que aprendia para a mãe”. A professora ressalta que, na sua escola, o programa continuará sendo realizado.

Para as escolas particulares a Educação Financeira pode representar a solução para um grande problema: a inadimplência. “Há, também, os benefícios para a própria escola que, além de se diferenciar no mercado por oferecer um ensino distinto, pode ter a inadimplência reduzida ao estender o ensinamento para os pais, ajudando-os a lidar melhor com suas finanças”, conclui Reinaldo Domingos.

Para saber mais sobre o assunto, ver o documentário:
“Criança, a alma do negócio” (www.alana.org.br).
Instituto Dsop de Educação Financeira – www.dsop.com.br


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