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Publicado em 15 de junho de 2022 | 18 minutos de leitura

As Angélicas no Brasil: 100 anos do Colégio São Paulo. Cardeal do Rio participa da merecida homenagem à instituição que é reconhecida pelo seu trabalho

Madre Flávia (a irmã da esquerda) foi a primeira diretora do Colégio São Paulo 

No dia 06 de maio de 1922, chegava a Baía de Guanabara, após uma viagem feliz, o Duque de Aosta, trazendo a seu bordo quatro Religiosas Angélicas de São Paulo.

Era a primeira vez que a nossa Congregação, de origem italiana, se transportava ao Novo Mundo. Nem todas as Irmãs, porém, eram estrangeiras. Para a Superiora, a Reverenda Madre Cecília de Musso e para as outras duas que a acompanhavam, a travessia do oceano, o perfil recortado de nossas Serras, o Gigante de Pedra, as praias do nosso litoral, o verde quente da vegetação costeira, todo esse aspecto novo, constituía um deslumbramento que provocava exclamações de entusiasmo. A quarta irmã, porém, assistia calada ao espetáculo empolgante da entrada na Guanabara.

Seria insensível? Ao contrário, muito mais intensa era a sua emoção. Para Angélica Flávia Maria Monat da Rocha não constituíam um espetáculo novo o Corcovado e o majestoso Pão de Açúcar. Ela nasceu e viveu no Rio e a sua volta a sua cidade natal, após dois anos de ausência, era a oportunidade que tinha de rever a família, de abraçar a sua querida mãe, a satisfação de juntar em um só ideal os dois afetos mais caro: a Congregação vinda para pátria querida e o conjunto de emoções vibrantes que concentrava ela em seu íntimo, não deixando de elevar o espírito a Deus Onipotente, de quem esperava as mais abundantes bênçãos para o novo empreendimento.

O Primeiro prédio do Colégio São Paulo construído há 100 anos, na Zona Sul do Rio de Janeiro

De fato, a Fundação das Angélicas no Brasil havia sido longamente planejada e não de fácil realização. A partir de 1909, os Padres Barnabitas se estabeleceram no Rio de Janeiro e, desde então, o Padre Emílio Richert nutria o desejo de chamar, também, para este tão vasto campo de apostolado, as suas Irmãs Angélicas.

Vocações brasileiras apresentaram-se: a paraense Daria Taveira Lobato e a professora carioca Dulce Monat da Rocha, sentiam-se chamadas por Deus a esta Congregação.

Indo à Itália para o Capítulo Geral em 1919, o Padre Richert visitou as Irmãs Angélicas de Arienzo, cuja superiora era a Revda Madre Giovanna Bracaval. Falou-lhe sobre as duas candidatas que fariam o Noviciado na Europa, voltando para o Brasil depois de professas.

É, fato notável na história de todas as fundações e obras de Deus que as bênçãos do Senhor são atraídas pelas provações e pelos sofrimentos. “Quem semeia em lágrimas, em alegria recolhe”. “Se o grão de trigo não for esmagado, não produz…”

Tão imperfeito é o homem que as suas obras, ainda as mais bem-intencionadas, devem passar pela tribulação, para serem agradáveis ao Senhor.

Deus exige uma vítima que, unida ao sacrifício Sacrossanto do seu Divino Filho, lhe possa atrair os olhares misericordiosos. Daria devia ser esta vítima. Alma de pureza e candura celestiais, aspirava unicamente pelas núpcias do Divino Esposo e, antes mesmo de produzir o tempo legal do postulado e do noviciado, que preparam a alma para a definitiva Consagração Religiosa, o próprio Jesus se apressava em dar entrada à sua esposa nos Sacrários Eternos.

Chegando a Arienzo a 07 de maio de 1920, Daria voava, diretamente, para o céu, a 08 de junho, tendo pronunciado, no leito de morte, os Santos Votos Religiosos. A mais nova das Religiosas edificou profundamente suas Mestras pela serenidade de espírito e perfeito abandono, de que deu provas, no sacrifício supremo.

Não menos nobre foi a conformidade de Dulce, única brasileira no Noviciado de Arienzo, abandonada nas mãos da Providência, à espera de que se decidisse a sua sorte.

No dia 21 de abril de 1922, porém, embarcava em Nápoles e 15 dias depois, estava no Rio de Janeiro. Aí Nosso Senhor lhe apresentaria outras cruzes, mas a tudo estava disposta, não querendo semão o cumprimento perfeito da santa vontade de Deus.

Uma casa provisória havia sido preparada para receber as Irmãs, situada à Rua Barata Ribeiro, 218 – no bairro de Copacabana. Algumas postulantes entraram imediatamente, já aceitas pela Congregação na Itália.

No dia 01 de junho de 1922, abriu-se o Colégio São Paulo, celebrando a Santa Missa o Padre Afonso Di Giorgio, Barnabita, sempre amigo das Angélicas.

O grande Apóstolo, a quem o Santo Fundador, Antonio Maria Zaccaria consagrou as suas duas Congregações deveria ser o protetor do novo Colégio. Sete foram as primeiras alunas matriculadas e, desde logo, todo cuidado e dedicação das novas educadoras se manifestou na organização dos cursos, na orientação pedagógica e, sobretudo, na formação moral e religiosa daquelas sete, que em breve, seriam setenta e muito mais, daquelas almas que a Divina Providência lhes confiava para lhes pedir contas um dia.

Comemorações do Centenário do Colégio com a presença do Arcebispo do Rio, Dom Orani Tempeste

Sendo assim as Angélicas, trataram logo de procurar uma residência definitiva e, no mesmo ano, a festa de encerramento das aulas realizou-se na nova sede, Avenida Vieira Souto, 22 – Ipanema. “Casa da obediência”, gostava de lembrar mais tarde a nossa Madre Flávia, falando sobre os primórdios da Fundação.

Nosso Senhor, como sempre, recompensou a obediência e, logo, as Irmãs entraram em negociações com a Família Nogueira da Gama, proprietária do prédio de Ipanema, numa situação magnífica, em frente à praia.

A 25 de janeiro de 1923, Dom Leme dava o santo hábito ao primeiro grupo de Noviças e a 29 de janeiro do ano seguinte, presidia, à cerimônia da Profissão dessas Religiosas.

O Colégio, então, começou a prosperar. As bênçãos do Senhor choviam abundantes, mas como sempre, marcadas pelo selo da Cruz.

A primeira superiora enviada para o Brasil, a Revda Madre Cecília de Musso que, desde a Itália, gozava de asúde muito precária, um ano após o desembarque, foi submetida à grave operação cirúrgica. Mesmo com a grande perícia e dedicação dos médicos não foi possível evitar o cruel acontecimento, no dia 31 de agosto de 1923, a comunidade perdia o seu primeiro guia.

Com o falecimento prematuro da primeira Superiora, coube à Revda Madre Flávia Maria Monat da Rocha, toda responsabilidade desta Fundação.

Escreveu à Casa Mãe, pedindo a substituição da Madre falecida, mas a designação do Conselho Geral da Congregação foi a do seu nome, embora fosse ainda professa de Votos Temporários. Cabia-lhe, então, a superintendência da Comunidade, a formação das Noviças e a direção do Colégio.

Atuais instalações do Colégio na Avenida Vieira Souto, em Ipanema

Confiança em Deus, sabiamente orientada pelo Padre Richert e, dotada de magníficos dotes pessoais, que sabia usar exclusivamente para a glória de Deus, não poupou esforços para que prosperasse a obra a ela confiada.

Sem nenhuma ambição de número e nenhuma pressa de expansão, esmerava-se em formar bem Religiosas e alunas. A absoluta sinceridade, a simplicidade, a fortaleza de ânimo foram sempre as virtudes que mais recomendava e de que nunca cessou de dar exemplo.

“Sursum corda!” Era expressão familiar em seus lábios, “nenhuma dificuldade nos deve abater, nenhuma desgraça produzir desânimo, uma vez que nenhuma cruz nos chega, sem que o dom da graça a acompanhe”.

E assim, junto às Angélicas e, também, junto às alunas, Madre Flávia apresentava a vida sob o seu prisma real, sem ocultar os espinhos do caminho, sem fantasiar miragens ilusórias, sabendo, ao mesmo tempo, incutir coragem e bravura do verdadeiro soldado de Cristo. “Avante! Coragem! ”

Desenvolvia-se a obra, já se podia pensar em outra Fundação; ao cabo dos primeiros 5 anos, as primeiras Noviças já tinham professado os Votos Perpétuos.

Muito mal na Casa de Asúde, o Padre Richert foi consultado a respeito, em agosto de 1927. Entusiasmou-se de tal modo com a proposta que a encorajou insistentemente, sugerindo ideias e lugares tendo, ainda, a sorte de saber da sua realização um mês e meio antes do seu falecimento no dia 30 de novembro. “Vá, disse a Madre Flávia, vá para iniciar os trabalhos da Fundação, ainda haverá tempo”. Referia-se à sua morte.

Em comunicação com vários Prelados (bispos, arcebispos, chefes de ordem religiosa) de todos, a Madre recebia aprovação e convites. Resolveu-se pela Diocese de Niterói, o planejamento de uma casa em Teresópolis.

Pela primeira vez, abria-se um Colégio religioso na bela cidade Serrana, a três horas da Capital da República, oportuno que isso fosse feito ainda em vida do bom Padre Richert, alma da Fundação.

Deus tinha pressa desta Fundação; planejada em agosto, realizava-se em outubro de 1927, no dia 15, Festa de Santa Teresa de Jesus, Padroeira daquela cidade. O Cônego Bento, Premonstratense (Cônego Regular), acompanhado de numerosa comitiva, esperava na estação ferroviária o pequeno grupo de Angélicas, encaminhando-as ao Colégio, onde celebrou a Santa Missa.

Um mês após, 15 de novembro, chegava a nomeação da Superiora designada para a nova Comunidade, Madre Maria Cândida Rocha, e no dia 08 de janeiro, inaugurava-se o nosso segundo Colégio São Paulo. Embora as alunas já o viessem frequentando desde 01 de novembro.

O campo de apostolado era vasto e, através das alunas, era preciso atingir às famílias. Por isso, a disciplina suave, as Religiosas amigas e compreensivas, o ensino conscienciosamente ministrado, o uniforme com avental branco, o mobiliário claro, tudo atraia a simpatia das meninas e das famílias. A união entre as educandas tornou-se tal que elas se consideravam como irmãs e, ainda hoje, apesar de muitos anos já passados, os filhos de muitas delas chamam de tias as colegas das mães, não sendo poucas as que consideram as Angélicas, sua segunda mãe.

A primeira turma de neo-comungantes contava com meninas crescidas. Batizados, casamentos religiosos, convites para festas religiosas, insinuação sobre a necessidade dos Sacramentos aos doentes, tudo seria usado, para despertar o povo teresopolitano de seu marasmo espiritual.

O Colégio se instalava numa bela chácara na Várzea, comportando externato e um pequeno internato. Sob a mesma orientação moral e pedagógica do Colégio do Rio, organizou-se o novo Educandário que, graças a Deus, produziu muitos frutos consoladores.

E as Religiosas, de boa vontade, passavam de um a outro trabalho, pela satisfação de poderem proporcionar à mocidade diversões honestas e formação espiritual. Mas, quanto esforço ininterrupto!

Alegres e despreocupadas decorriam as férias para as alunas; passeios, piscina, excursões de ônibus e, às vezes, de caminhão, de charrete, a cavalo, de bicicleta, enchiam as tardes e as manhãs, depois da Santa Missa; à noite, agradáveis concertos de piano e canto. A educação das meninas merecia, também, atenção especial, evitando o que a nossa Madre chamava “verniz de educação”, isto é, só a aparência. Este cuidado contínuo da alma das jovens preparou, de fato, ótimas mães de família, numerosas professoras de valor, funcionárias dedicadas e até Religiosas bem compenetradas do dever, entre as Angélicas e várias outras Congregações de vida mista e de clausura.

Assim, progrediam os dois Colégios, o do Rio e de Teresópolis, e no dia 20 de agosto de 1929, ganharam eles mais uma protetora na eternidade, com a morte santa da Irmã Josefina da Cruz.

Desde 1927, apresentaram-se as primeiras turmas a exames oficiais, de acordo com os vários regimes que, desde então, tem o governo estabelecido: exames no Pedro II, bancas examinadoras, ginásios fiscalizados, primeiro e segundo ciclos do Ensino Secundário.

A todas essas reformas, tem-se adaptado o Colégio São Paulo, embora muito houvera lucrado se mais liberdade tivesse em prosseguir, não uniforme e rotineiro, mas progressivamente, em um plano pessoal e livre.

Faz-se obrigação a ampliação do prédio e um primeiro aumento em 1931, constrói-se a linda Capela e diversas salas de aula. Imensa foi a alegria da Madre Flávia, quando inaugurou a Capela, no dia 08 de setembro do mesmo ano, vendo-a realmente bela, acolhedora e simples.

Focalizar na mente o local desta Capela, idealizada com tanto amor e carinho, é relativamente fácil, entretanto, recordar o que ela representou para todos os que tiveram a felicidade de um encontro com o Deus vivo, sob seu teto acolhedor, é reservado à eternidade.

Ministros do Altíssimo nela ofereceram o Santo Sacrifício, Religiosas ali pronunciaram os Santos Votos, alunas e Mestres, diariamente a visitavam para um instante de recolhimento de ação de graças, de desafogo em lágrimas silenciosas, mas confiantes na solução que só do céu poderia vir! Quantas coisas diriam aquelas paredes alvas!

Estava realizado o sonho de Madre Flávia, dar a Jesus um ninho de amor e de reparação… Quantas e quantas vezes a isso se referia na sua linguagem quente de afeto pela causa de Deus.

Inicia-se o ano de 1932 e a Casa Mãe envia a circular de convocação para o próximo Capítulo Geral, a realizar-se em agosto. Era a segunda reunião capitular, após a supressão da clausura e, agora, já com os representantes das casas da América, como costumam dizer as italianas.

Dóceis à voz da obediência que as chamava ao cumprimento do dever, a 15 de julho de 1932, partem como Capitulares: Madre Flávia, superiora da Casa do Rio, Madre Maria Cândida, superiora de Teresópolis e Madre Nazarena, delegada das Religiosas do Brasil.

Iniciam-se os trabalhos do Capítulo, após alguns dias de retiro e, Madre Flávia foi surpreendida com a sua eleição para Superiora Geral.

Conhecidos os seus dotes pessoais e as graças de escol, aquilo que pode ser visto como o melhor, que o Senhor lhe concedera, deram-lhe o voto ás suas Irmãs de hábito, para ocupar o mais alto posto da Congregação.

A eleita devia permanecer em Milão. Muito mais amplo seria o seu campo de atividades, muito mais variado o seu apostolado, bem mais diverso o ambiente.    Porém, dificilmente se conformaria, do mesmo modo que as suas filhas do Brasil, que mesmo sendo uma honra, tão elevado cargo, antes queriam vê-la novamente entre elas.

Diversamente, pensava a Autoridade, sua Eminência o Cardeal Schuster, que presidindo o Capítulo, confirmou a eleição, indiferente ao pedido das brasileiras.

Terminando o Capítulo, regressaram ao Brasil somente as outras duas Religiosas, edificadas com os exemplos de virtude que presenciaram.

Não sabiam o que mais apreciar: se a humildade da que deixava o cargo, Madre Giovanna Maria Bracaval ou a da Madre Flávia, curvando-se sobrenaturalmente à vontade de Deus.

Passados 100 anos, o Colégio São Paulo, segue promovendo uma educação evangelizadora, que se baseia no amor, que provém dos valores cristãos inseridos no Evangelho, presente nas ações de Santo Antônio Maria Zaccaria, à luz dos ensinamentos de São Paulo e no Carisma da Congregação, que é “Renovar o fervor cristão”.

Observando as Diretrizes Curriculares Nacionais, a Pedagogia Zaccariana destina-se ao desenvolvimento integral do aluno, cognitiva e emocionalmente, e está voltada para a formação ética, social e religiosa.

Ir. Sandra Mabiele Morbach

                                                                                                        Diretora

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