Fonte: www.veja.com.br
Por Cecília Ritto, Maria Clara Vieira
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal porta de entrada para as grandes universidades brasileiras, se tornou um dos mais significativos termômetros da qualidade da educação nas escolas públicas e particulares do país. Ele é produzido anualmente a partir das notas dos alunos no exame. O resultado divulgado na manhã desta terça-feira pelo Inep, órgão responsável pelas avaliações oficiais, ligado ao Ministério da Educação (MEC), reafirma o predomínio das particulares, reitera algumas características dos colégios que costumam se sair bem no ranking e mostra uma tendência que vem se acentuando nos últimos anos entre aqueles que aparecem no topo.
No grupo das dez melhores escolas no Enem — todas particulares — há uma característica comum a sete delas. Seus alunos não cursaram o ciclo de três anos lá. Na verdade, a maioria permaneceu apenas um ano nesses colégios. Como são fortemente voltados para o vestibular, atraem alunos justamente na véspera da grande prova. “Tornaram-se espécies de cursinhos, instituições focadas fundamentalmente no Enem. Ensinam macetes para o exame, dão dicas de como fazer um bom teste e, em geral, usam muito do marketing para angariar novos alunos”, explica o especialista Marcos Magalhães.
Outro ponto une algumas das escolas que vão bem. Elas recrutam os melhores estudantes com a promessa de ótimos resultados. Entre as dez primeiras no ranking atual, referente a 2015, aparecem dois exemplos contundentes dessa lógica. O Objetivo Integrado, em primeiríssimo lugar, e o Etapa III, em sétimo, ambos de São Paulo. Repare na palavra “Integrado”, no caso do Objetivo, e no número “III”, do Etapa. Significa que essas redes se desdobraram para atender os estudantes de alto rendimento em estruturas separadas. São essas que cravam o pódio.
O Objetivo Integrado costuma atrair bons estudantes inclusive de outras partes do Brasil, às vezes até lhes oferecendo bolsas. No primeiro ano do ensino médio, são abertas turmas com aulas todos os dias, das 7h10 às 17h. Muitos não aguentam e ficam pelo meio do caminho. No fatídico ano de vestibular, contam-se uns 45 sobreviventes. “No horário da tarde, eles aprofundam os conhecimentos e chegam a aprender até matéria de universidade”, diz a coordenadora pedagógica Vera Lucia da Costa Antunes.
Também na lista da elite do ensino, o Etapa III forma uma classe à parte, exclusivamente de alunos que almejam estudar em universidades no exterior. O grupo começa a ser formado no final do 2º ano, quando os interessados têm a opção de frequentar aulas especiais de preparo para exames americanos. Caso o interesse se mantenha, no ano seguinte são separados do restante da turma e passam a seguir um cronograma de ensino diferenciado, com aulas de inglês em nível avançado, cálculo, estatística, física, química, biologia e história mundial. O macete é sempre o mesmo: separar os alunos mais interessados em turmas diferentes, com grande carga horária e foco total nas provas.
Um sobrevoo pelas cem primeiras escolas no ranking do Enem traz velhas conhecidas em boas posições. Há algumas de Fortaleza que sempre estão na dianteira: o colégio Ari de Sá, que emplacou duas de suas unidades, em 2º e 5º lugares, o Christus, em 4º, o Antares, em 9º, e o Farias Brito, em 20º. O Mobile é o terceiro melhor de São Paulo e o 17º do país. No Rio de Janeiro, o pódio ficou com o colégio Ipiranga. Os tradicionais colégios católicos também figuram entre os top cem: São Bento (27º), Santo Agostinho (o do Leblon, em 34º) e o Santo Inácio (58º).
Das 100 primeiras escolas no ranking do MEC, como já era esperado, 97 são particulares e apenas três públicas – todas as três federais, instituições que recebem mais dinheiro e fazem estreita peneira para o ingresso. No grupo das mil melhores, 49 são públicas, resultado ainda pior do que o do ano anterior: no ranking de 2014, eram 93.
Outro fator que aproxima os colégios que encabeçam a lista é o elevado nível socioeconômico dos alunos. Isso não subtrai da escola o seu papel de empurrar os estudantes em direção à excelência, mas mostra que as que estão no topo têm uma clara vantagem: recebem estudantes egressos de ambientes mais favoráveis. “São jovens que foram mais estimulados desde a infância”, resume Marcos Magalhães. A clara desigualdade entre escolas – uma das maiores do planeta – fica evidente no levantamento. Na turma de cima, as médias ficam em torno de 700 (numa escala que vai a 1000); na de baixo, por volta de 450. É um mundo de conhecimento que uns têm e outros não.
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