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Publicado em 25 de janeiro de 2016 | 7 minutos de leitura

Celular em sala de aula: ligar ou desligar?

Hoje, um dos maiores desafios dos professores é controlar o celular em sala de aula. Cada vez mais cedo, os jovens têm acesso ao aparelho e não conseguem “se desconectar” de seus smartphones. Diante da tecnologia, despertar o interesse do aluno tem sido uma tarefa árdua para quem está em sala. Para evitar problemas, alguns estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Ceará, entre outros, já proibiram o uso do aparelho em sala, mas a lei não significou o fim da polêmica. Enquanto alguns educadores vetam o aparelho, outros acreditam que ele pode e deve ser usado como aliado do processo educacional.

Diretora Técnica do Instituto Crescer, Luciana Allan acha que a lei é inadequada. “Algumas cidades a adotaram por questão de insegurança. É difícil educar, mas o fato é que a tecnologia é importante para o aprendizado”, diz a especialista, que acredita que as escolas devem repensar suas metodologias educacionais. “É preciso buscar novas estratégias de ensino para que elas sejam mais interativas. Hoje, os alunos não estão envolvidos nas tarefas e é preciso buscar esse envolvimento”, afirma.

Entre os problemas apontados pela especialista está o fato de professores e alunos terem objetivos diferentes, dificultando, assim, o processo de ensino-aprendizagem. “Os professores estão perdidos e eles são os mais impactados com as mudanças. Muitas vezes, não têm facilidade para inovar porque a escola é fechada às novidades, mas a realidade é que esse é um caminho sem volta e a tecnologia estará cada vez mais presente nas escolas”,
explica.

Para quem tem dúvidas sobre como o celular e outras tecnologias móveis podem ser usados em sala, Luciana Allan dá algumas dicas: “São inúmeras as oportunidades. Eles podem ser utilizados para apresentar conceitos complexos, para buscar interação com outras escolas, na apresentação de trabalhos e na realização de pesquisas”, orienta a educadora. Ela lembra, ainda, que antes a tecnologia estava apenas no laboratório de informática, hoje, está em qualquer lugar. “A internet, com o wi-fi, daqui a pouco será como a luz, teremos em todos os lugares e não podemos fugir dessa realidade. A tecnologia está disponível dentro da sala de aula e os professores devem aproveitar isso.”

O projeto Escola com Celular (ECC) da área de Gestão de Tecnologias em Educação da Fundação Vanzolini (GTE/FCAV) propõe o uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) como estratégia para trabalhar conteúdos curriculares do Ensino Fundamental e/ou Médio. Renata Simões, gestora da GTE/FCAV, acredita que a lei, além de impossibilitar a utilização dos recursos que os dispositivos oferecem, faz com que as escolas se omitam da responsabilidade de qualificar e de apoiar os alunos na utilização dos celulares como ferramentas que ampliam suas possibilidades de aprendizado.

“É necessário refletir e discutir o uso responsável e ético do celular. As noções de privacidade, ética e confidencialidade de informações na troca ou publicização dos conteúdos produzidos por meio do celular são temas com os quais a escola deveria se ocupar. Na verdade, acaba se ocupando quando fotos inadequadas são compartilhadas, por exemplo. Entretanto, é possível questionar essas leis ou desenvolver atividades com o uso de telefones celulares articuladas aos currículos das escolas”, analisa Renata Simões. Ela ressalta que não há idade para começar a trabalhar com as tecnologias em sala de aula. “Tudo depende das aprendizagens esperadas e das estratégias que o professor pretende mobilizar”.

Sobre os professores, a gestora diz que a cada dia eles estão mais interessados e preparados para lidar com essa nova realidade. “O Projeto Escola com Celular ofereceu, em duas edições, um curso com o intuito de incentivar a formação continuada e apoiar o trabalho docente (uma parceria das Edições SM e da Fundação Vanzolini). O curso, em modalidade EAD, propunha o uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) como estratégia para trabalhar conteúdos curriculares. As duas mil vagas, em cada uma das edições, foram rapidamente preenchidas e os professores apresentaram, como atividade do curso, projetos muito interessantes”, destaca.

Apesar das possibilidades oferecidas pelos recursos tecnológicos, os professores ainda são reticentes quanto ao uso do telefone em sala. “Os alunos são muito dispersos e nem sempre dá para controlar se estão fazendo atividades pedagógicas ou usando para outra coisa, como ficar nas redes sociais ou ouvir música”, diz a professora Renata Pontes. Além disso, ela relata que já tentou desenvolver atividades com o aparelho em sala e o resultado não foi o esperado. “Na hora de usar para uma atividade pedagógica, muitos reclamaram que não tinham internet ou que estavam sem bateria. Foi tudo muito difícil”, lembra a professora.

A dispersão gerada pelo uso do telefone pode realmente atrapalhar o aprendizado. Em maio deste ano, foi publicado pela London School of Economics and Political Science (LSE) o resultado de uma pesquisa das Universidades do Texas e de Louisiana sobre o uso de aparelhos celulares em quatro cidades inglesas. Ele mostrou que as escolas que baniram os dispositivos registraram uma melhora de até 6% nas notas dos seus alunos.

Apesar da polêmica, para quem deseja trabalhar com o dispositivo em sala, a Unesco divulgou no ano passado as Diretrizes Políticas para Aprendizagem Móvel, que trazem um roteiro e uma exposição de motivos para formuladores de políticas e outras pessoas que buscam transformar os aparelhos móveis em ferramentas da educação. A publicação traz 10 recomendações para ajudar governos a inserir o uso de celulares em escolas e lista 13 motivos para fazer dos aparelhos aliados da educação.

 

Mais informações sobre o assunto:

Guia Unesco: http://migre.me/slXIJ

Escola com Celular: http://www.escolacomcelular.org.br/

Instituto Crescer: http://institutocrescer.org.br/

Legislação do Estado do Rio de Janeiro: Lei Estadual Nº 5.222, de 11 de abril de 2008 e Lei Municipal nº 4.734 de 4 de janeiro de 2008.


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