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Publicado em 16 de janeiro de 2015 | 6 minutos de leitura

Como o gosto pela leitura pode ser estimulado na Educação Infantil

Em um contexto de pouca valorização da leitura, como a escola pode contribuir para a formação de leitores no Brasil? Como superar seus desafios e formar leitores autônomos que gostem de ler? Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso mesmo, uma das mais fantásticas que existem.

O estímulo à leitura pode começar desde cedo, ainda na educação infantil. Veja abaixo o cenário da formação de leitores na primeira infância, seus desafios e exemplos de práticas.

Cenário
A Academia Americana de Pediatria recomenda aos médicos que orientem os pais a lerem para os seus filhos. Desde o nascimento, a superestimulação tem se tornado uma constante em casa e invadido o espaço escolar. Livros no banho e e-books são elementos cuja proposta é desencadear o gosto pela leitura logo cedo. O equilíbrio entre inseri-los na cultura letrada e “forçar” funções para as quais ainda não estão preparados, defendem os especialistas, depende de bom senso.

Desafio
Como mediadores, pais e educadores têm a missão de apresentar os livros, as histórias e o mundo da imaginação a seus filhos e alunos. A falta de materiais de trabalho nas escolas é um problema a ser enfrentado. Pesquisa da pedagoga Cyntia Girotto revela que os livros do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) não contemplam crianças dos 0 até os 3 anos. O estudo “Literatura e Primeira Infância: dois municípios em cena e o PNBE na formação de crianças leitoras” foi realizado de 2011 a 2014 em Presidente Prudente e Marília, interior paulista. “Negar o acesso desse material aos pequenos é negar a eles a possibilidade de forjarem para si, desde a tenra infância, uma identidade leitora”, diz Cyntia, professora na Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp-Marília.

Exemplos de práticas
O primeiro passo é o professor ter um critério para a escolha dos títulos. Afinal, nessa fase pré-alfabetização eles têm especificidades e mudam conforme a idade. “O livro do bebê é especial: tem de ser cartonado, ou emborrachado, e o texto imagético deve se agregar ao texto escrito, o que aguça as percepções, atenção, linguagem oral e memória”, explica Cyntia Girotto. A partir dos 3 anos, obras que se utilizam do lúdico e da fantasia despertam a imaginação. A leitura em voz alta e a contação de histórias são práticas que devem estar presentes na escola. Para as crianças maiores, vale investir em rodas de leitura e na elaboração de ilustrações ou dramatizações a partir de um texto. “Quando partilhada, a leitura se torna saborosa, se transforma em uma experiência formadora”, defende Gilda Carvalho, mestre em Literatura Brasileira e uma das autoras do Manual de reflexões sobre boas práticas de leitura (Editora Unesp).

Após a alfabetização, desafio do professor é inserir as crianças na cultura letrada

Em um contexto de pouca valorização da leitura, como a escola pode contribuir para a formação de leitores no Brasil? Como superar seus desafios e formar leitores autônomos que gostem de ler? Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso mesmo, uma das mais fantásticas que existem.

Após a alfabetização, é importante que as crianças sejam estimuladas a participar ativamente da cultura letrada. Veja abaixo o cenário da formação de leitores no ensino fundamental 1, seus desafios e exemplos de práticas.

Cenário
Um dos problemas dessa etapa é avançar para além da alfabetização. “Quando se acompanha uma geração de alunos percebe-se que, em muitos casos, alcançadas as metas de alfabetização plena, os esforços para oferecer atividades de leitura diminuem”, lamenta o relações-públicas Volnei Canônica, coordenador do programa Prazer em Ler do Instituto C&A. A educação no Brasil ainda tenta avançar no que diz respeito ao aprendizado de leitura nos primeiros anos do fundamental. A pesquisa Geres (Estudo Longitudinal da Geração Escolar 2005), feita em parceria por seis universidades e realizada em 303 escolas públicas e particulares, de 2005 e 2008, mostra que, ao final do EF 1, os alunos de escolas públicas apresentam uma defasagem equivalente a dois anos de aprendizado em relação aos estudantes de instituições privadas.

Desafio
Desenvolver e consolidar a fluên­cia na língua e a compreensão leitora são os grandes desafios da etapa. Ao mesmo tempo, seguir estimulando a participação ativa na cultura letrada numa hora em que já é possível dar autonomia para esse pequeno leitor. Professores podem e devem indicar livros, mas precisam propiciar à criança momentos em que ela possa fuçar bibliotecas e livrarias para descobrir o que a encanta. “A natureza, os animais, mistérios e fantasias atraem garotos e garotas”, diz Zoara Failla, gerente executiva de projetos do Instituto Pró-Livro.

Exemplos de práticas
Para trabalhar a fluência, a compreensão leitora e promover o interesse pela leitura, Gilda Carvalho, da Unesp, propõe o ensino da língua através de textos literários. “Ao mesmo tempo que aprendem a gramática, as crianças estão lidando com vários tipos de textos, gêneros e autores”, diz. Além disso, a criança recém-alfabetizada precisa ser estimulada a ler em voz alta. “O professor pode priorizar desde textos que contribuam para a alfabetização, com sílabas bem marcadas e rimas, até outros mais complexos, com narrativas mais engendradas, além de livros ilustrados e gibis”, recomenda Gilda. Rodas de leitura devem fazer parte da rotina em sala. “Encontros com autores e produções de texto também estimulam”, completa.

Fonte: Revista Educação – 16/01/2015


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