Mobilidade para acessar conteúdos on-line de acordo com a disponibilidade de tempo de cada um e a um custo menor. São essas as características mais marcantes da história recente da educação a distância no país e as razões que mais têm atraído alunos para a modalidade de ensino.
O número de matriculados nos cursos a distância no Brasil cresceu 58% em 2011 ante 2010. Foram 3,6 milhões de estudantes na comparação com os 2,261 milhões de alunos de 2010, segundo a Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância).
Cresce também a oferta de cursos gratuitos ou em que estudantes podem acessar material produzido por professores estrangeiros que lecionam escolas de elite.
Entre esses sites está o Coursera, lançado no ano passado por professores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, que oferece aulas de 33 universidades renomadas.
O endereço eletrônico já passou a marca de 2 milhões de matriculados no mundo.
Iniciativas assim têm colaborado para a disseminação de conteúdo on-line. Até dezembro, por meio de provas e atividades que comprovassem o aprendizado, o aluno recebia do Coursera um certificado atestando a participação nas aulas.
A partir deste ano, o portal criou o `Signature Track`, um serviço que permitirá a obtenção de um certificado oficial das universidades parceiras. Os alunos que optarem pela assinatura terão um custo de US$ 30 (R$ 61,20) a cerca de US$ 100 (R$ 204). No momento, esse certificado está disponível em apenas cinco dos cursos oferecidos.
No Brasil, a Universidade de São Paulo lançou em maio de 2012 o e-aulas USP, portal com mais de 800 videoaulas, inspirado em sites semelhantes de instituições internacionais, como MIT (Massachusetts Institute of Technology), Harvard e Princeton.
Na Unicamp, o projeto Aulas Magistrais, da Pró-Reitoria de Graduação, também oferece conteúdo on-line gratuito à comunidade.
Os números do ensino a distância mostram que os cursos livres, de atualização ou aperfeiçoamento, dispensados de autorização do Ministério da Educação para funcionar, são a maioria no setor (56%).
Já entre os 3.971 cursos autorizados pelo MEC, a maior parte dos matriculados está na graduação (75%). A pós-graduação responde por 17,5% dos estudantes -em cursos de especialização, mestrados e MBAs (Master of Business Administration, na sigla em inglês).
Nos últimos anos, houve um aumento de 56% no número de alunos matriculados nos cursos `lato sensu` da PUC-MG. `Os preferidos são os da área de direito, gestão e informática`, diz o diretor de ensino a distância Marcos André Silveira Kutova.
Já o Senac registrou uma alta de 40% na procura por cursos de pós-graduação a distância entre 2010 e 2012. Os cursos mais procurados são o de docência no ensino superior, gestão empreendedora e design instrucional.
Na Fundação Getulio Vargas, a procura por MBAs subiu 12% em 2012, com mais de mil alunos somente na modalidade a distância.
`Dentre os MBAs com ênfase em áreas específicas, o que mais tem crescido é o de gestão em projetos`, revela o diretor-executivo da FGV Online, Stavros Xanthopoylos.
Segundo o diretor, a FGV estuda lançar nos próximos meses um MBA aberto, gratuito, mas com o sistema de certificados pagos, semelhante ao usado pelo Coursera. `O aluno poderá
pagar para fazer as provas, acumular disciplinas e receber orientação para o trabalho de conclusão de curso e obtenção do diploma com um gasto menor`, explica.
O custo é outro item apontado como vantajoso pelos adeptos da pós-graduação a distância. Embora na FGV um MBA de Gestão Empresarial atinja um preço total de até R$ 20 mil, em algumas instituições o valor chega a ser em média 60% inferior ao dos cursos presenciais.
A arquiteta Joice Berth, 36, conta que o preço foi um dos fatores que a levaram a escolher um curso a distância em direito urbanístico na PUC -MG. `O curso como eu queria não existe em São Paulo e, mesmo que existisse, não teria tempo de frequentar. Também achei o valor mais em conta do que uma pós tradicional, considerando que os professores são bem conceituados`, explica a arquiteta, que pagou cerca de R$ 8.000 pela pós-graduação.
Um desafio dos cursos a distância é vencer o preconceito do mercado.
A gerente-executiva da consultoria Page Personnel, especialista em recrutamento de profissionais, Fabrícia Antunes, defende que o curso a distância na pós-graduação seja feito quando há justificativa para que as aulas não sejam presenciais.
Isso pode acontecer, por exemplo, quando o curso não é ofertado em várias cidades.
Já a coordenadora da pós-graduação do campus virtual do Centro Universitário Senac, Zilma Maria Cavalheiro de Carvalho, argumenta que a qualidade dos cursos a distância está no mesmo nível dos programas presenciais.
`O nível de dedicação exigido faz com que o aluno desenvolva ou aprimore características procuradas no mercado de trabalho, como autonomia, iniciativa, foco nos objetivos propostos, entre outras características.`
Para o gerente da divisão de finanças e contabilidade da consultoria de recursos humanos Robert Half, Danilo Haya Kawa, ainda levará tempo para que os cursos online alcancem o mesmo patamar de credibilidade dos tradicionais. `Houve uma evolução, mas ainda demora para haver reconhecimento. A troca de experiência dentro da sala de aula não é possível substituir. Essa é a perda.`
PLATAFORMAS
Nas instituições, para ter acesso ao conteúdo dos cursos a distância o aluno deve acessar um ambiente virtual de aprendizagem. Essas plataformas têm recursos diversos: concentram boa parte do conteúdo e contam com ferramentas como fóruns de discussão, wikis (para trabalhos em grupo), salas de bate-papo mediadas e avaliações, conforme explica Daniela Lopes, gerente de soluções da Pearson no Brasil, instituição especializada em educação.
No Brasil, com o avanço tecnológico e o acesso à banda larga, evoluíram também as funcionalidades das plataformas de ensino.
`Antigamente, a interação ocorria por meio do material didático. Com o tempo, evoluímos para a troca de dúvida. Atualmente, temos plataformas que suportam transmissão de vídeos, podcasts e até aulas ao vivo`, diz o coordenador acadêmico do Ibmec On-line, Vladimir Gonçalves.
Outro recurso bastante utilizado, segundo a gerente da Pearson, são as bibliotecas virtuais, que disponibilizam um acervo de livros em formato digital. `A prática nos laboratórios também pode ser aplicada pelos alunos por meio de laboratórios virtuais`, destaca Lopes.
O ensino a distância não é recomendado para todos os tipos de profissionais, ressalta o presidente da Abed, Fredric Michael Litto.
`A modalidade de ensino não serve para quem precisa de atendimento direto, elogios ou cobranças do professor. É para quem está motivado, tem autonomia e autodisciplina`, aponta Litto.
A gerente de projetos Marcela Navarro Correa, 33, concorda com a avaliação.
`O curso depende muito da sua dedicação`, afirma ela, que, por conta dos horários imprevisíveis no trabalho, escolheu o MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos a distância da Fundação Getulio Vargas.
O curso escolhido por ela, que custa cerca de R$ 25 mil, tem parceria com a Universidade da Califórnia em Irvine (Estados Unidos).
Fonte : Folha de São Paulo – ÉRIKA MOURÃO – 28/01/2013