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Publicado em 02 de maio de 2013 | 7 minutos de leitura

Empreendedorismo nas escolas

O empreendedorismo é um termo da moda, seja no mercado empresarial, seja nas escolas. O vocábulo invadiu unidades de ensino e salas de aula de escolas públicas e privadas. Uma prova disso é que foi aprovada, em novembro do ano passado, a Lei 6.340, que institui o Programa de Educação Empreendedora (PEE) nas Escolas Públicas do Estado do Rio de Janeiro com o objetivo de desenvolver as habilidades dos jovens e prepará-los para o mundo do trabalho.

Mas a ideia não é novidade na área educacional. O tema já é trabalhado em diversas instituições de ensino por meio de oficinas ou de forma transversal em diversas disciplinas. Em algumas escolas, são criados ambientes e situaçõesproblema para estimular o lado empreendedor das crianças.

Segundo Carla Zeltzer, proprietária da Escola Zeltzer de Empreendedorismo, as escolas precisam preparar o jovem para o mundo de hoje, mas ainda estão engessadas em um modelo antigo de educação. “É preciso mudar. A educação deve preparar o jovem para lidar com os desafios que vai encontrar pela vida”, analisa a educadora.

A ideia inovadora de criar uma instituição voltada para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras surgiu quando Carla procurava uma escola para matricular sua filha. “Quando visitava as escolas, sentia falta de uma instituição que preparasse as pessoas para o mundo de hoje. O modelo escolar ainda é antigo. Por isso, a ideia de trabalhar com empreendedorismo, de oferecer aos jovens ferramentas para que possam se preparar para o mundo”, argumenta.

De acordo com a educadora, empreender não significa necessariamente abrir empresas, realizar grandes empreendimentos.“ Esta é uma visão antiga. Ao trabalharmos o empreendedorismo, temos o objetivo de dar ferramentas para que as pessoas possam se tornar autônomas; para que desenvolvam olhar, sendo capazes de enxergar oportunidades; para que se tornem pessoas com aptidões e habilidades para planejar e executar suas metas”, explica Zeltzer.

A Escola de Empreendedorismo trabalha com oficinas extracurriculares nas quais crianças, a partir de 9 anos, aprendem através da prática.  Logo no primeiro módulo, elas se deparam com uma situaçãoproblema: vítimas de um naufrágio precisam sobreviver e dar um jeito de voltar para casa. “Elas precisam elaborar uma estratégia, aproveitar as ferramentas de que dispõem para conseguir se salvar. A partir da brincadeira, começam a desenvolver suas potencialidades”, destaca Carla Zeltzer.

Como ensinar empreendedorismo

A busca por soluções desafia o aluno a raciocinar e o leva a aprender de forma sólida conceitos, conhecimentos e técnicas que ajudam a resolver problemas. Mas, como se ensina empreendedorismo? É preciso acrescentar mais uma disciplina ao currículo? A partir de que série? E os professores sabem trabalhar esta questão?

Pela Lei 6.340/12, o programa deve ter aulas práticas e teóricas, pesquisa de campo, workshop. Para o deputado estadual Luiz Martins, autor da proposta do PEE, é preciso criar atividades curriculares que possibilitem aos jovens transitar em um mundo capitalista.

A Escola de Empreendedorismo Zeltzer, além de capacitar professores, trabalha com módulos semestrais realizados em oficinas promovidas nas escolas para crianças do segundo segmento do ensino fundamental ao ensino médio. Por meio de brincadeiras, jogos vocacionais, palestras, os jovens são estimulados a desenvolver a criatividade, a organização, o trabalho em grupo e o planejamento – habilidades necessárias a todo empreendedor.

Para a idealizadora do projeto, há sempre um tema que é trabalhado. A partir de um ambiente lúdico, as crianças são motivadas a buscar soluções para seus problemas. O projeto tem várias etapas, todas adequadas à faixa etária das crianças. “Quem aprende desde cedo a resolver seus problemas tende a tornar-se um adulto com raciocínio rápido, com um olhar diferente sobre o mundo, capaz de ver oportunidades onde não estão claras, planejar o futuro e se preparar para fazer acontecer o que planejou”, explica Carla Zeltzer.

Na avaliação da professora, o empreendedor não é apenas aquele que tem uma ideia genial, que cria oportunidades. “Estes são visionários, inovadores e servem de inspiração para os empreendedores, que são aqueles capazes de executar o seu planejamento”,  afirma.

Mas nem todo projeto de empreendedorismo acontece como na Escola Zeltzer. Algumas escolas trabalham o tema de forma transversal, em ações pontuais.

Embora acredite que esse não seja o melhor modelo, Carla Zeltzer reconhece que a iniciativa é válida, principalmente em uma época em que as escolas passam por mudanças. “Estamos em um processo de melhoria, e, sempre que há uma novidade, ela é feita inicialmente devagar. É preciso experimentar para ver se dá certo. Acho que estamos no caminho correto. Ser um empreendedor aumenta as chances do jovem e cada vez mais as escolas estão reconhecendo e valorizando isso”, conclui.

 

Matéria agora é obrigatória no Mopi

O assunto empreendedorismo não é novidade para os alunos do Mopi, uma das escolas mais inovadoras do Rio de Janeiro. Há pelo menos três anos a instituição tem trabalhado o tema na grade curricular como projeto isolado. A partir deste ano, o empreendedorismo passa a ser uma disciplina obrigatória para alunos do 1º e do 2º ano do Ensino Médio, como explica o coordenador do segmento, o professor André Chaves. “Agora, vamos trabalhar o tema no Núcleo Diversificado, composto pelas disciplinas de Arte e Cultura, Ciência, Tecnologia e Sociedade e Empreendedorismo. O objetivo é desenvolver de forma mais ampla as habilidades e competências dos jovens”, diz.

Cada projeto tem duração de um semestre, no qual cerca de 20 alunos são obrigados a realizar atividades práticas. As turmas são mistas (compostas por alunos do primeiro e do segundo ano). “Nesses projetos trabalhamos o desenvolvimento de competências diversas, como, por exemplo, as competências relacionais e emocionais. A escola não deve se preocupar apenas com o conhecimento cognitivo”, afirma o professor.


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