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Publicado em 24 de março de 2022 | 7 minutos de leitura

Especialistas analisam as mudanças no Enem

Na última semana, o Ministério da Educação (MEC) apresentou as mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que passarão a valer a partir de 2024. Entre as novidades está que a prova será dividida em duas etapas: no primeiro dia os estudantes responderão a questões voltadas para a parte comum, direcionadas pela BNCC e farão também a prova de redação. Já o segundo dia será focado na avaliação do Itinerário Formativo escolhido por cada aluno. Para essa segunda fase os candidatos poderão escolher, entre um conjunto de blocos, aquele que corresponde à sua área de interesse e à graduação que ele pretende cursar. Outra mudança importante é que as questões abertas ou discursivas passarão a ter destaque na avaliação.

Para desenhar o novo Enem, o MEC constituiu um Grupo de Trabalho (GT) que contou com a participação da FENEP, por meio de seus dirigentes Pedro Flexa Ribeiro e Eduardo Costa Gomes. Também fizeram parte do grupo representantes do Conselho Nacional de Educação (CNE), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Conselho de Secretários Estaduais de Educação (Consed) e Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec). Os trabalhos iniciaram em julho do ano passado e se estenderam por 10 reuniões.

Na avaliação de Pedro Flexa, o resultado do trabalho realizado pelo GT foi satisfatório, pois o novo Enem corresponde aos interesses e ao direito dos estudantes. “Os debates foram longos, mas ao final prevaleceu o bom senso. Proporcionar ao aluno uma experiência relevante implica dar centralidade ao Projeto de Vida e ao primeiro esboço de escolha profissional. Isso demanda Itinerários integrados de forma a que tenham correspondência com determinadas áreas de atuação profissional”, pontua o dirigente. Por essa razão, a FENEP apresentou uma proposta com apenas três blocos: para carreiras nas Áreas de Ciências Humanas e Sociais, nas Áreas de Engenharias e Exatas (STEM) e para carreiras Biomédicas. Pedro Flexa entende que após tantos anos de currículo unitário, esses três blocos já ofereceriam ao estudante uma considerável margem de escolha, e que, nesse primeiro momento, de adaptação, já representaria para as escolas um considerável desafio.

A proposta não foi aceita no GT e o MEC optou por inserir ainda um quarto bloco, que no entender da FENEP, seria desnecessário nesse momento. “O desafio gerencial de viabilizar a oferta de tantos Itinerários levará muitas escolas a organizar sínteses e aglutinações. Mas do ponto de vista das ementas cabe agora organizar expectativas”, salienta o dirigente. Na avaliação de Pedro Flexa, o próximo desafio será gerenciar o nível de aprofundamento dos conteúdos apresentados no novo Ensino Médio e as expectativas das universidades. “O currículo brasileiro atribui ainda ao Ensino Médio conteúdos específicos demais, que não devem estar na Educação Básica. Não cabem nem na Formação Geral Básica e nem tão pouco em Itinerários Formativos. Eles devem ser reenderaçados para os cursos de graduação.  Cabe amadurecer a reflexão acerca das expectativas das universidades e do que faz sentido que estabeleçam como critério para o ingresso. Preocupa que exigências descabidas continuem a sobrecarregar a escolaridade dos estudantes. Assegurar certas aprendizagens deve ser papel da graduação”, destaca o educador.

Pedro Flexa acredita que mesmo tendo sido voto vencido, para a FENEP foi importante participar do processo. “A interação com representantes de diversas outras entidades foi muito produtiva. A contribuição que o setor traz para a sociedade vai tendo um reconhecimento cada vez maior e antigas resistências à escola particular vão sendo superadas. Isso abre um promissor caminho para participarmos do debate educacional.”

Para a pedagoga, especialista em implantação do Novo Ensino Médio e BNCC, Priscila Boy, a nova proposta apresentada pelo MEC é coerente pois dialoga com a BNCC. “Uma vez que a BNCC é um instrumento normativo para construir os currículos do ensino médio, não seria justo que o Enem fosse diferente”, salienta. Para ela, uma das mudanças que deve chamar a atenção das escolas é a substituição de questões de múltipla escolha por discursivas. “Esse formato de questão é importante e fazia falta no processo avaliativo, o Pisa já trabalha dessa forma. A ideia é fazer com que o aluno mostre que passou pelo Ensino Médio e aprendeu, construiu argumentos com base em teorias. Será uma avaliação mais sofisticada”, avalia Priscila, que também é diretora da Priscila Boy Consultoria e Idealizadora da Escola da Transformação. Ela acredita que esse novo formato exigirá mudanças na forma como as escolas vinham preparando os estudantes.

Outra alteração no exame que chamou a atenção das escolas foi o bônus que os alunos dos cursos técnicos receberão, ao escolher um curso superior com aderência a sua formação técnica. Para Priscila, essa diferenciação será importante porque o aluno do técnico não terá o mesmo aprofundamento nos campos do conhecimento que o estudante que optou por outro itinerário. “O aluno do técnico aprofundou em conhecimento técnico, para a sua prática profissional. Esse bônus possivelmente vai equalizar, permitindo uma competição de igual para igual. Acho justo”, pondera a especialista.

 

Próximas etapas

O novo modelo de prova do Enem deve entrar em vigor apenas após a total implementação das mudanças no Ensino Médio, ou seja, em 2024. O Enem segue em 2022 e 2023 o mesmo formato das avaliações aplicadas em anos anteriores.

Após a homologação do MEC, caberá ao Inep definir quais serão as diretrizes da nova avaliação e o formato das questões. Ao final, as universidades também terão autonomia para definir como usarão as notas e como aplicarão as bonificações. Para Pedro Flexa, as escolas de Educação Básica têm importantes contribuições a dar, e a FENEP está empenhada em continuar participando do debate.

Fonte: fenep.org.br 




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