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Publicado em 06 de maio de 2022 | 7 minutos de leitura

Especialistas discutem os impactos com a aprovação do homeschooling no Brasil

Na noite da terça-feira (03/05), a FENEP promoveu uma live para discutir o projeto de lei que regulamenta o ensino domiciliar no Brasil, também conhecido como homeschooling e os impactos se a proposta for aprovada no Congresso Nacional. O evento ocorreu no canal do Youtube da entidade e contou com a participação da consultora em educação e idealizadora da Escola da Transformação, Priscila Boy, do psicólogo, especialista em comportamento de crianças e adolescentes, Tiago Tamborini, do consultor em Educação e Gestão, Renato Casagrande, e da vice-presidente da Fenep e conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE), Amábile Pacios. A live foi apresentada pelo presidente da Federação, Bruno Eizerik. Clique aqui para assistir ao evento na íntegra.

Na abertura da live, Eizerik salientou que o projeto de lei preocupa o setor e que é preciso valorizar a escola. “Sabemos que a escola pública tem suas dificuldades, mas não é tirando o aluno desse ambiente que vamos resolver o problema. Já, no ensino privado temos escolas com diferentes perfis – laicas, conteudistas, construtivistas, religiosas, entre outros – então não faltam opções para a família escolher dentro do que ela deseja e mais se identifica”, reiterou.

A consultora em educação Priscila Boy trouxe dados de uma pesquisa que aponta que um dos principais fatores que leva algumas famílias a buscarem o ensino domiciliar é a questão moral e ideológica. “Existem casos isolados de abuso na escola com relação à ideologia? Sim, existe. Mas quantos alunos foram salvos pela escola? Quantos projetos maravilhosos foram feitos lá? A escola tem muita coisa boa. Além disso, é a guardiã do direito de aprender, temos pessoas qualificadas e espaços propícios para isso”, salientou. Priscila lembrou que mesmo que os filhos não estejam na escola será preciso seguir as normas que regulam a educação no país, como a própria BNCC. “Tem pais que são preparados e vão garantir esses direitos de aprendizagem aos seus filhos, mas outros que não terão a menor condição de ministrar as aulas porque não tem formação para isso”, ponderou.

O consultor em Educação e Gestão, Renato Casagrande, vê oportunismo e ideologia por trás da proposta do homeschooling. “É doloroso vermos uma proposta assim no Brasil, num momento em que estamos precisando de uma união de esforços das instituições educadoras – família e escola – e não de uma separação. Já vivemos uma polarização ideológica e essa proposta vem colocar uma rixa entre família e escola. É um puxadinho ideológico e oportunista que os professores e pais devem ficar atentos”, destacou o palestrante. Casagrande lembrou que a escola teve um grande impacto na sua vida, influenciando na sua escolha pela carreira docente. “Enquanto a minha família cumpriu papel fundamental de construção de caráter e valores na minha vida, a escola complementou esse trabalho, contribuindo para o meu autoconhecimento, para a minha capacidade de relacionamento com outras pessoas, para o civismo. Todas as diferenças vividas no espaço escolar me fizeram crescer como ser humano”, pontuou.

O psicólogo, especialista em comportamento de crianças e adolescentes, Tiago Tamborini, questionou as razões pelas quais algumas famílias querem educar seus filhos fora da escola. Para ele, embora existam outros espaços fazendo trabalhos parecidos, as instituições de ensino ainda são insubstituíveis. “Temos youtubers ensinando tão bem quanto professores, outros espaços que também promovem a socialização, além da escola, assim como ambientes que oportunizam o aprendizado sobre disciplina e regras, como a prática de um esporte como o judô. Mas, então, por  que a escola é insubstituível?”, questionou. Para ele, para se tornar insubstituível é preciso fazer melhor o que outros já fazem. Ele acredita que as escolas estão com dificuldades de ser insubstituíveis, ou de demonstrar que são melhores. “As famílias que acreditam na ideia de que o filho pode ter educação fora da escola é porque não entenderam que a escola faz muito melhor aquilo que eles acham que filho pode fazer fora da escola. Portanto, é nossa responsabilidade mostrar isso a elas”, salientou o psicólogo.

Para a vice-presidente da Fenep e conselheira do Conselho Nacional de Educação, Amábile Pacios, é preciso entender o que a sociedade quer e ir ao encontro do que as famílias desejam, focando no melhor homeschooling para os alunos. “Na pandemia tivemos famílias tirando as crianças da escola e contratando tutores para darem aulas. Muitas “escolas” existiram em forma de garagens. Temos que nos preocupar com isso, esse profissional precisa de formação”, salientou. Amábile lembrou que a escola tem todo um procedimento para funcionar, obedece a um conjunto de legislações para garantir o direito de aprendizagem dos alunos. “Precisamos que isso esteja garantido no homeschooling”, ponderou a dirigente.

Segundo a conselheira, o projeto de lei prevê que a regulamentação do ensino domiciliar seja feita pelo CNE. “Já temos uma comissão no Conselho estudando o assunto, da qual faço parte. Para essa regulamentação, a ideia é fazer um grande fórum de debate, para depois construir o parecer. Vamos ouvir especialistas, famílias, estudantes para que tenhamos o melhor homeschooling possível, dentro da nossa realidade”, adiantou a conselheira.  Para ela, a preocupação com relação ao projeto que está tramitando no Congresso é o espaço que se cria para a terceirização. “A família poderá nomear um terceiro para educar seu filho. Nos preocupa essa questão, não só no âmbito da escola particular, mas especialmente no caso daquelas crianças de classe social menor, de como será esse entendimento e como será feita essa formação”, alertou.

Fonte: Portal Fenep                




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