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Publicado em 07 de março de 2016 | 5 minutos de leitura

Formação de professores deve caminhar junto com a Base

Fonte: www.porvir.org  – 4/3/2016

 

por Marina Lopes 

As discussões sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNC), que segue em consulta pública até o próximo dia 15 de março, trazem à tona outras questões fundamentais para desencadear mudanças nas salas de aula brasileiras. Para o documento ser implementado, um dos primeiros passos é investir na formação de professores, uma medida que assegura que ele sejam envolvidos no processo e estejam alinhados aos princípios da BNC.

As experiências de outros países que já construíram um currículo nacional apontam para a importância da adoção de tal estratégia. No Estados Unidos, a implementação do Common Core pode ser vista como um exemplo disso. No último ano, ao visitar o Brasil para participar do Seminário Internacional do Centro Lemann, o pesquisador norte-americano David Plank, professor de políticas educacionais da Universidade de Stanford, apresentou reflexões sobre esse processo, atribuindo os bons resultados no estado da Califórnia ao envolvimento e formação dos profissionais de educação. Na outra ponta, porém, Plank também demostrou que as dificuldades enfrentadas por Nova York tiveram como principal motivo a falta de adesão dos professores.

Para o professor Paulo Blikstein, diretor do centro de pesquisas em educação do Centro Lemann, na Universidade de Stanford, essa análise pode ser interessante para o caso brasileiro. Entrevistado pelo Porvir durante a série de reportagens sobre a Base, ele também defendeu que será necessário um investimento massivo na preparação dos professores que, de fato, vão colocar as mudanças em prática.

“Se não tiver uma boa formação, você pode estabelecer a Base e ela pode ser entendida como apenas uma lista de conteúdos”, explica Luiz Fernandes Dourado, representante do Conselho Nacional de Educação. Relator do parecer homologado pelo MEC (Ministério da Educação), em julho de 2015, com novas diretrizes para a formação de professores no país, incluindo o aumento da carga horária dos cursos e maior integração com a educação básica, ele afirma que os professores deverão ter uma formação ampla e sólida, que possa garantir condições de trabalhar com a Base, seja na educação infantil, ensino fundamental ou médio.

E um dos meios para se conseguir isso, segundo Dourado, é tomar os princípios e eixos da BNC como objeto de discussão nos cursos de licenciatura. “É preciso pensar a formação desse profissional com a capacidade de transitar e ter clareza das diretrizes curriculares nacionais para a educação básica, sabendo o que deve ser garantido no ensino fundamental e qual é a centralidade do ensino médio. Nesse sentido, uma Base Nacional construída a partir de eixos pode ser extremamente enriquecida por uma boa formação dos profissionais da educação. Senão, nós vamos reeditar os parâmetros curriculares”, defende, ao mencionar as diretrizes curriculares lançadas em 1997 não tiveram o impacto que deveriam justamente pela ausência do professor no debate e por sua falta de articulação com o processo de formação.

Outros especialistas em educação ouvidos pelo Porvir para a série de reportagens Formação de Professores também chamaram a atenção para a necessidade de se pensar a preparação dos novos profissionais articulada ao documento. De acordo com Anna Helena Altenfelder, superintendente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), os professores e futuros profissionais precisarão de uma política de apoio que ofereça instrumentos e acompanhamento para alinhar o trabalho pedagógico à BNC. “A Base não dá conta de tudo. Tem uma porcentagem grande que cabe ao professor desenvolver, e ele vai precisar entender isso”, diz. No entanto, Altenfelder ainda adverte que não se pode cair na armadilha de localizar toda a responsabilidade no professor.

No momento, o texto preliminar do documento ainda está em discussão e recebe contribuições pelo site. “Quando ele estiver consolidado, a formação de professores deverá levar em conta essa proposta nacional. Não vai ter um impacto no sentido de mudar a formação, já que a mudança também passa por outros canais, mas esse professor não vai poder desconhecer a Base Nacional Comum. Parte das práticas de ensino vão ter que levar em conta esse documento”, reflete a pesquisadora Bernardete Gatti, vice-presidente da Fundação Carlos Chagas.


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