O aluno Kauã Dionísio é campeão no jogo que estimula os alunos a estudarem MatemáticaEduardo Naddar / Agência O Globo
RIO – No Brasil, três em cada quatro alunos terminam o ensino fundamental sem domínio adequado da matemática. Uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) com 600 empresas revela que este quadro tem impacto não apenas na vida escolar. Ele prejudica as empresas, que apontam o analfabetismo funcional na disciplina como um de seus principais problemas.
Diante disto, a Firjan decidiu criar o programa Sesi Matemática, destinado a alunos do ensino médio de escolas públicas, em parceria com o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a Secretaria Estadual de Educação e a empresa inglesa Mangahigh.
Alguns dos recursos do programa que já estão sendo testados, com bons resultados, são os games on-line. O programa já foi implantado nas escolas do sistema Sesi e Senai e será ampliado para 11 colégios estaduais, que receberão também capacitação do corpo docente.
Segundo Andréa Marinho, diretora de educação do Sistema Firjan, a utilização dos games tenta fazer com que alunos testem conceitos de forma divertida e, assim, tenham mais proximidade com a matemática, vendo a sua importância, por meio de teoria e prática, simultaneamente.
Em um dos jogos utilizados, por exemplo, um inseto cai de um relógio e fica preso. Ele precisa subir no relógio e, para isso, o aluno têm que estudar diversos ângulos. Cada acerto faz o inseto subir um nível, e a dificuldade vai aumentando.
— Damos o concreto para que os alunos consigam abstrair. Além disso, outra preocupação é a formação continuada do professor. Nossa primeira missão é quebrar o bloqueio que existe em relação à disciplina tanto por parte dos professores quanto dos alunos. Nossa metodologia tem o objetivo de romper o medo que as pessoas têm. Para isso, usamos como material o que jovem gosta — explica Andréa.
Bruno Souza Gomes, assessor de tecnologias educacionais da federação, diz que as primeiras avaliações indicam progressos no aprendizado. Segundo ele, uma pesquisa realizada na Inglaterra mostrou uma melhora de 30% na avaliação final:
— Os jogos são atrativos e podem ser acessados 24 horas. O tempo em frente ao computador agora é para estudar, jogando — comenta Bruno.
Na escola do Sesi/Senai de Santa Cruz, Manuela Nogueira, professora de matemática, diz que a utilização dos jogos está sendo eficaz:
— Os alunos estão mais interessados, porque o aprendizado ocorre de maneira lúdica e mais atraente.
Kauê Dionísio, de 15 anos, aluno do 1° ano do ensino médio, é um dos que gostavam de matemática, mas encontrava dificuldades.
— Achei que, com os jogos, ficou mais interessante e fácil aprender — conta o jovem.
Para implantar o programa com os seus alunos, Manuela também precisou passar por um programa de reciclagem:
— Aprendi matemática da forma tradicional. Agora, percebo o crescimento dos alunos.
Para João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, na matemática o desafio é maior. Ele diz que, entre as causas para o mau desempenho do país estão o despreparo de professores, o currículo muito extenso e o material didático inadequado.
— Diferentemente de outras disciplinas, a matemática depende da escola. Os países com bom desempenho, como os asiáticos e a Bélgica, têm um currículo compacto, o que dá mais chance de o aluno aprofundar a matéria — avalia.
Ele diz que as crianças já chegam na escola com um preconceito em relação à disciplina. E que alguns pais transmitem o medo que têm da matemática para os filhos.
Como resultado, João Batista explica que, assim como há analfabetos funcionais (pessoas que, mesmo alfabetizadas, não conseguem interpretar textos), existem os analfabetos funcionais numéricos.
Andréa Marinho concorda e ressalta que um dos problemas enfrentados pelas indústrias atualmente é que, mesmo os que atestam certo grau de escolaridade, não apresentam conhecimento compatível com a série declarada.
— Muita gente escolhe a área humana por ter dificuldade com matemática. O resultado disso é que o Brasil está precisando de engenheiros — diz.
Fonte: www.oglobo.com.br – 21/10/2012