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Publicado em 17 de julho de 2012 | 6 minutos de leitura

Homenagem à professora Edília Coelho Garcia

A vida nos ensina que as coisas estão unidas por vínculos secretos. As memórias que hoje nos ocorrem encerram e resumem toda uma existência. Evocá-las é como viver de novo aqueles momentos distantes, carregados de admiração e respeito.

 Coube-me, nesta cerimônia, o privilégio de evocar a memória da professora Edília Coelho Garcia, mulher corajosa, desbravadora de caminhos, que sempre soube transitar, com elegante sabedoria, entre a ética das convicções e a ética da responsabilidade. Virtudes presididas pelo discernimento, pelo bom senso, que nossa homenageada exerceu em alto grau.

 Vamos relembrar uma vida exemplar, tal como nós a percebemos hoje e que é consenso entre todos aqueles que conviveram com a professora Edília, que dividiram com ela o sabor da luta.

 As biografias que merecem ser lembradas exigem a disponibilidade da memória afetiva, por isso divido com todos os que conviveram com ela a lembrança daqueles tempos heroicos, quando muito estava por se fazer no terreno  da educação.

 Sabia buscar a verdade das coisas antes de seus limites, por isso, em sua vida ativa, imperava a serenidade, pois nunca foi refém de fatos consumados. Aliás, em toda ela, repousava uma beleza clássica, discreta; por esta razão exercia sobre nós uma presença acolhedora, fraternal, silenciosa, mas que era sempre o prelúdio de sua altivez. Conduzia com suave segurança os mais difíceis desafios.

 Em sua vida profissional exerceu inúmeras atividades e ocupou importantes funções, tanto no setor privado como no público. Professora, Diretora e Fundadora de Escolas, autora de livros, Presidente do Sindicato das Escolas Particulares, sub-Secretária Estadual de Educação do RJ, membro do Conselho Federal de Educação, Presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro, entre vários outros cargos.

 Lembro-me quando era um jovem educador, atuando no ensino em nosso Estado, fui por ela convidado a participar como conselheiro do Conselho Estadual de Educação, no ano de 1975, convite que foi estendido a outros jovens educadores. Disse jovens porque estávamos em nossos trinta e alguns anos de vida: Carlos Alberto Serpa, Edgar Flexa Ribeiro, Fátima Cunha, Arnaldo Niskier. Creio que era justamente o que pretendera: queria gente nova, com novos ares, com visões abertas, sem o viés confortável do que é cômodo, do já visto e feito. Queria ousadia, cenários novos, fronteiras mais distendidas, porque, para Edília Garcia, educar não combinava com segmentações ideológicas  ou de interesses.

 Nossa tarefa, entre outras, era a de normatizar a educação no recém criado Estado do Rio de Janeiro. 

 Fomos crescendo com a professora Edília, Presidente do Conselho e sub-Secretária Estadual de Educação. Aprendemos a pensar a educação a partir de um contexto mais amplo, de atos e fatos que efetivamente mudavam o rumo das coisas, sem preconceitos, sem descaminhos. Nossa mestra exercia a política em seu sentido mais original e puro, cujo escopo foi sempre o interesse público e a defesa do ensino de qualidade.

 Tivemos o privilégio de fazer parte de sua vida exemplar e, se não tínhamos consciência plena disto, ao menos desconfiávamos estar vivendo um momento especial que nem os arroubos da juventude nos impediram perceber. Hoje, da bruma fina do tempo, tenho certeza disso.

 Diz Cecilia Meirelles, poeta, e notável educadora, que “a vida só é possível reinventada”. Como não é de bom alvitre contrariar poetas, a vida exemplar de Edília Coelho Garcia merece, sim, ser reinventada, por nós, seus admiradores, seus seguidores, aqui e agora. Uma reinvenção que vale um capítulo na história da educação no Rio de Janeiro.

 Em reconhecimento por tudo que nos proporcionou, a Diretoria deste Sindicato, de que foi ela presidente, criou a Medalha Professora Edilia Coelho Garcia a ser outorgada aos educadores que, com inconteste reconhecimento, prestarem relevante contribuição à educação.

 Quanto à sua memória, cuja presença aqui se acrescenta em seus filhos, Edison, Fábio e Vanessa, e que fazemos reviver neste instante, merece esta homenagem que é apenas uma pálida tentativa de reinventar uma vida tão significativa, tão plena de realizações.

 Mas este Memorial de uma vida não estaria completo se não fosse possível convocar a sabedoria de um poeta. São eles que nos ofertam, em linguagem concentrada, como é natural na poesia, o resumo de tudo o que é raro e belo na alma humana.

  Penso que nossa homenageada viveu como todos nós, de sua rotina cotidiana, em seu dia a dia, entre sofrimentos e alegrias, como é próprio a qualquer vida. Teve vitórias e impasses, exerceu com coragem suas virtudes, marcou seu nome na história da educação em nosso meio, foi mãe e mulher, educadora, líder inconteste na área da educação.  Seu nome é uma legenda.

 Contemplando, agora, o panorama dessa vida exemplar, que lamentavelmente já não habita mais entre nós, enquanto matéria, encontro em Fernando Pessoa, o numeroso Pessoa, a síntese de uma história, que é também a síntese de uma existência. É o ensinamento que gostaria de compartilhar com todos, como uma espécie de aprendizado, porque foi esta a lição que ela seguiu e que nos deixou como legado:

 Segue teu destino

Rega as tuas plantas

Ama as tuas rosas

O resto é sombra

De árvores alheias

 

* Texto apresentado pelo Diretor do Sinepe Rio, Henrique Zaremba

da Câmara, no lançamento da Medalha Edília Coelho Garcia, durante 8º Congresso Rio de Educação


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