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Publicado em 09 de janeiro de 2013 | 8 minutos de leitura

Idioma falado fora da sala de aula

SÃO PAULO — Lucas Marquesini fez aula de inglês no hotel, no intervalo entre reuniões de trabalho numa de suas viagens a negócio. Fábio Martini baixa os podcasts das aulas e escuta no carro. Alice Muscas conseguiu aprender espanhol no computador de casa, mesmo tendo a agenda cheia durante o dia. Os três são exemplos de alunos que, cada vez mais, buscam em escolas on-line uma maneira de aprender idiomas e que não conseguiram encontrar, em cursos presenciais, o que buscavam. No entanto, aprender uma outra língua pela internet requer cuidados, segundo especialistas.

Não há estatísticas oficiais sobre quantos brasileiros aprendem idiomas em cursos on-line, mas empresas do ramo afirmam que o número de matriculados tem crescido no país e que o total deve continuar aumentando. Como são considerados cursos livres, eles não são regulados pelo Ministério da Educação(MEC).

Flexibilidade no horário atrai alunos

A Associação Brasileira de Ensino à Distância (Abed) também não tem dados específicos sobre cursos de idiomas on-line. No entanto, de acordo com levantamento feito pela entidade, o número de alunos que fizeram cursos à distância saltou de 528 mil em 2009 para 2,3 milhões em 2010. Entre os estudantes que optaram por esse tipo de aprendizado em 2010, 755 mil faziam cursos livres, categoria na qual se incluem os de idiomas.

É a facilidade de poder estudar em horários mais flexíveis que os disponíveis em cursos presenciais o maior atrativo desse tipo de aprendizado, segundo os alunos.

— Eu não tinha tempo de fazer o curso de espanhol presencial. Faço faculdade em período integral, longe da minha casa. Aprendi espanhol estudando no computador em casa, à noite — afirma a estudante paulista de Engenharia Química Alice Antunes Muscas, de 20 anos.

Há cursos de idiomas, como Open English, EF Englishtown e Portal da Educação, que afirmam ter professores estrangeiros disponíveis 24h por dia em sua plataforma on-line para aulas de conversação ao vivo. As aulas começam de hora em hora, sem necessidade de agendamento prévio.

De acordo com o vice-presidente de Marketing da escola Open English no Brasil, Pupo Neto, estudantes que participam das aulas durante a madrugada não são raros.

Consultor monitora desempenho

Atualmente, o curso Open English tem dez mil alunos matriculados no Brasil e 80 mil no mundo. Em 2011, logo no início das operações no país, eram 40 e, em julho de 2012, já chegavam a 1.500. A empresa criou a figura do consultor pessoal que telefona pelo menos uma vez a cada 15 dias para cada aluno.

— As pessoas não ficam sozinhas. O consultor pessoal liga para o aluno para incentivá-lo e saber como ele está indo, o que também ajuda a personalizar o curso — afirma Pupo Neto.

Segundo a professora de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva, um dos principais cuidados que o aluno de um curso on-line deve ter é manter a disciplina:

— O aluno precisa ter disciplina e agir. Numa aula tradicional, há estudantes que entram mudos e saem calados, não querem falar. Não dá para ser um aluno passivo — diz Vera Lúcia.

O consultor financeiro Lucas Marquesini, de 31 anos, diz que se policiou para ser disciplinado. Ele fazia as aulas entre 21h e 22h, durante suas constantes viagens a trabalho, e, antes de ir a uma para o exterior, intensificou o aprendizado, praticando até três horas por dia:

— Se você se matricula em um curso no qual tem que ir até a sala de aula, acaba se obrigando a comparecer, porque está pagando. No on-line, que pode ser feito em casa, existe o risco de você deixar o curso de lado — diz Marquesini, que sente falta de material didático impresso para marcar os assuntos mais importantes e memorizar melhor as lições.

A privacidade dos cursos on-line também é apontada como uma vantagem por estudantes. Em vários cursos, um aluno não pode ver o outro nas conversações em grupo on-line, apesar de eles poderem enxergar o professor.

— Eu tenho 43 anos e, às vezes, tenho vergonha de não falar inglês muito bem. No curso on-line, ninguém te vê. É uma forma de você se preservar — afirma o médico Fábio Marins de Martini, que está no nível intermediário do curso de inglês.

Professores devem identificar erros

A professora Vera Lúcia diz que outro ponto a ser observado em cursos on-line é a necessidade de os alunos receberem um retorno sobre seu aprendizado, para que possam saber onde estão errando e como podem melhorar. Mesmo que esse retorno seja dado por uma máquina. Há cursos em que o computador corrige a fala dos alunos, que recebem fones de ouvido e microfone especiais para captar melhor a fala.

Empresa que oferece cursos em 30 idiomas em todo o mundo, a escola Rosetta Stone atende funcionários de órgãos públicos e de grandes empresas no Brasil. O curso desenvolveu um programa especial para dar um retorno sobre a fala dos alunos quando eles fazem exercícios.

— O software grava o que o aluno fala, compara com milhares de amostras de pronúncia de nativos que temos no nosso banco de dados e diz ao aluno se ele errou. E gráficos mostram para o estudante como é a fala do nativo daquele idioma, para ele corrigir. Quando ele está fazendo uma aula ao vivo, o professor dá o retorno na hora — conta Paulo Rodrigues, gerente de relações institucionais da Rosetta Stone no Brasil.

Internet precisa de conexão boa

A prática de conversação é um dos principais aspectos dos cursos on-line que devem ser observados pelo aluno na hora da matrícula. E ela pode ser prejudicada pela qualidade de acesso à internet que se tem.

— Há uma limitação no caso de ensino de línguas, que é a prática oral, da fala. Você pode escutar vários áudios, mas ainda temos o problema da dificuldade de acesso do aluno. Às vezes, a conexão de internet não é tão boa. Muitos estudantes não têm banda larga. Isso acaba dificultando o aprendizado da língua — explica a coordenadora da área de Espanhol do curso de Letras da Universidade de São Paulo (USP), Mônica Mayrink.

A fisioterapeuta Felice Marques, de 33 anos, fez aulas de inglês por seis meses, há três anos, e desistiu. Entre os motivos citados por ela para não concluir o curso está a falta de sincronia entre os temas abordados nas lições escritas e na aula de conversação:

— As aulas de conversação em grupo exigiam um conteúdo maior do que o que eu tinha aprendido nas lições. E os alunos que faziam as aulas tinham níveis diferentes — conta Felice.

De acordo com a fisioterapeuta, como só conseguia ter um bom acesso à internet em casa — não tinha tablet ou smartphone —, o estímulo para fazer as aulas diminuiu.

Fonte: www.oglobo.com.br – 7/12/2012




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