AMARO FRANÇA *
Os processos que forjam a gestão educacional são constituídos por diversas dinâmicas de forças históricas, concepções ideológico-politicas, perspectivas pedagógicas, administrativas e também forças motrizes das novas tecnologias num cenário de mudanças.
Ultimamente, costumamos ouvir o “alarde” em algumas esferas sociais: “Estamos em tempo de grandes transformações, tempo de mudanças.”
É bem verdade que a mudança, a transformação é condição sine qua non do nosso existir — como uma lei da vida. Nesse sentido, afirmava o filósofo pré-socrático Heráclito: “Nada existe de permanente a não ser a mudança.” E , assim, cada geração certamente viveu e enfrentou o seu próprio tempo, os seus desafios e as suas transformações. Pois o tempus fugit — “o tempo voa” –, dizia-me meu velho mestre e amigo Ir. Getino Alvarez nos ensinamentos de base sobre a gestão da vida e da escola, repetindo a expressão latina consagrada do poeta romano Virgílio.
Porém, não podemos deixar de afirmar que a nossa temporalidade cronológica vigente segue, hoje, frequência e intensidade jamais vivenciadas historicamente por aqueles que nos precederam. E isso tem um profundo impacto no modo como encaramos as nossas relações organizacionais e, principalmente, o nosso fazer enquanto gestores de instituição de ensino.
Numa sociedade cognominada do conhecimento, paradoxalmente um dos traços marcantes é que essa também se manifesta como uma sociedade líquida de consumo — um dos aspectos do cenário de mudança. Sobre esse enfoque o sociólogo polonês Zygmunt Bauman nos alerta que “se nós não resistirmos à sociedade de consumidores, caminharemos para uma biodegradação” — ousamos acrescentar: perdendo a dimensão de sentido do nosso próprio existir e, por que não dizer, da nossa ação profissional.
Entre os elementos marcantes que compõem a sociedade líquida, temos a velocidade e o volume de in- formações que, de certa forma, vão sendo introjetados no espaço escolar e nas relações pedagógicas de várias maneiras. Mas, sobretudo, através do trato que é dado ao conhecimento
— cada vez mais abrangente e rápido —, causando sensíveis impactos quanto à identidade institucional escolar, quanto ao papel social da escola e sua eficácia frente às necessidades do cotidiano.
Nesse sentido, alguns teóricos apontam a “ineficácia” da escola, condenando-a ao seu próprio fim. Outros mais moderados anunciam que a solução para a sua eficácia e das ações gestoras educacionais está na adoção das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). E alguns ousam comentar que a alternativa se encontra na inovação pedagógica em sintonia com uma gestão educacional de resultados.
Concordamos, sem dúvida, que muitos dos processos pedagógicos e da gestão educacional precisam ser revistos. No entanto, apresentamos a nossa resistência às “pseudoanálises” ou “receitas prontas” para os referidos processos. Pois a escola está imersa numa sociedade complexa e, por conseguinte, é em si, também, um sistema complexo.
Devemos estar atentos quando se tenta restringir a identidade, a relevância da escola e a gestão educacional a padrões de indicadores muitas vezes frutos de resultados de processos equivocados de avaliações parciais. Sem nenhuma dúvida, o trabalho cognitivo, humanizador e integral desenvolvido na educação escolar manifesta a grande face do papel social da es- cola e, por conseguinte, da gestão educacional, constituindo, assim, o cerne do seu existir e da própria formação da sociedade.
Diante dos desafios e inquietações da escola frente ao cenário atual, é pertinente ao papel da gestão educacional o fomentar do sentido da ação gestora-pedagógica, da promoção da aprendizagem e da favorabilidade do clima organizacional escolar.
Esses elementos intrínsecos ao processo da gestão educacional devem estar em sintonia com a formação humano-profissional e o exercício da liderança do gestor, que busca adquirir conhecimento, aproximar-se dos outros, ampliar a visão de mundo e caminhar rumo à sabedoria, segundo Ken Blanchard e Mark Miller, autores do livro “Grandes líderes de sempre”.
Certamente, é a sabedoria que contribuirá aos gestores educacionais “mudar para gerir e gerir para mudar”, cuidando do que é importante e não simplesmente do urgente — cônscios do seu legado para a humanidade. E, assim, sentirem-se recompensados e felizes quando forem confrontados com a pergunta existencial: “Afinal, qual é a tua obra?”
REFERÊNCIAS:
BAUMAN, Z. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
BLANCHARD, K. & MILLLER, M. Grandes líderes de sem- pre: como o desenvolvimento pessoal determina o sucesso da liderança. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão. Petrópolis: Vozes, 2012.
* Diretor-Geral do Colégio Sagrado Coração de Maria (Sacré-Coeur) do Rio de Janeiro, mestrando em Educação pela Universidade da Madeira (Portugal), graduado em Pedagogia (UFRN) e MBA – Gestão Acadêmica e Universitária (FIPEL-MG).
E-mail: amaro-franca@hotmail.com