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Publicado em 23 de agosto de 2013 | 6 minutos de leitura

Mudar para gerir e gerir para mudar

 

AMARO FRANÇA *

Os processos que forjam a gestão educacional são constituídos por diversas dinâmicas de forças históricas, concepções ideológico-politicas, perspectivas pedagógicas, administrativas e também forças motrizes das novas tecnologias num cenário de mudanças.

Ultimamente, costumamos ouvir o “alarde” em algumas esferas sociais: “Estamos em tempo de grandes   transformações,   tempo de mudanças.”

É bem verdade que a mudança, a transformação é condição sine qua non do nosso existir — como uma lei da vida. Nesse sentido, afirmava o filósofo pré-socrático Heráclito: “Nada existe de permanente a não ser a mudança.”  E ,  assim,  cada  geração  certamente viveu e enfrentou o seu próprio  tempo,  os  seus  desafios e as suas transformações. Pois o tempus  fugit  —  “o  tempo  voa” –, dizia-me meu velho mestre e amigo Ir. Getino Alvarez nos ensinamentos de base sobre a gestão da vida e da escola, repetindo a expressão latina consagrada do poeta romano Virgílio.

Porém,   não   podemos   deixar de  afirmar que  a  nossa  temporalidade  cronológica  vigente  segue, hoje, frequência e intensidade jamais   vivenciadas   historicamente por aqueles que nos precederam. E isso tem um profundo impacto no modo como encaramos as nossas    relações    organizacionais  e,  principalmente, o nosso fazer enquanto gestores de instituição de ensino.

Numa sociedade cognominada do conhecimento, paradoxalmente um dos traços marcantes é que essa também se manifesta como uma sociedade líquida de consumo — um dos aspectos do cenário de mudança.  Sobre  esse  enfoque  o  sociólogo polonês Zygmunt Bauman nos alerta que “se nós não resistirmos à sociedade de consumidores, caminharemos para uma biodegradação” — ousamos acrescentar: perdendo a dimensão de sentido do nosso próprio existir e, por que não dizer, da nossa ação profissional.

Entre os elementos marcantes que compõem a sociedade líquida, temos a velocidade e o volume de in- formações que, de certa forma, vão sendo introjetados no espaço escolar e nas relações pedagógicas de várias maneiras. Mas, sobretudo, através do trato que é dado ao conhecimento

— cada vez mais abrangente e rápido —, causando sensíveis impactos quanto à identidade institucional escolar, quanto ao papel social da escola e sua eficácia frente às necessidades do cotidiano.

Nesse sentido, alguns teóricos apontam a “ineficácia” da escola, condenando-a ao seu próprio fim. Outros mais moderados anunciam que a solução para a sua eficácia e das ações gestoras educacionais está na adoção das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). E alguns ousam comentar que a alternativa se encontra na inovação pedagógica em sintonia com uma gestão educacional de resultados.

Concordamos,  sem  dúvida, que muitos dos processos pedagógicos e da gestão educacional precisam ser revistos. No entanto, apresentamos a nossa resistência às “pseudoanálises” ou “receitas prontas” para os referidos processos. Pois a escola está imersa numa sociedade complexa e, por conseguinte, é em si, também, um sistema complexo.

Devemos estar atentos quando se tenta restringir a identidade, a relevância da escola e a gestão educacional a padrões de indicadores muitas vezes frutos de resultados de processos equivocados de avaliações parciais. Sem nenhuma dúvida, o trabalho cognitivo, humanizador  e  integral  desenvolvido na educação escolar manifesta a grande face do papel social da es- cola e, por conseguinte, da gestão educacional, constituindo, assim, o cerne do seu existir e da própria formação da sociedade.

Diante dos desafios e inquietações da escola frente ao cenário atual, é pertinente ao papel da gestão educacional o fomentar do sentido da ação gestora-pedagógica, da promoção da aprendizagem e da favorabilidade do clima organizacional escolar.

Esses   elementos    intrínsecos ao processo da gestão educacional devem estar em sintonia com a formação   humano-profissional   e o exercício da liderança do gestor, que busca adquirir conhecimento, aproximar-se dos outros, ampliar a visão de mundo e caminhar rumo à sabedoria, segundo Ken Blanchard e Mark Miller, autores do livro “Grandes líderes de sempre”.

Certamente, é a sabedoria que contribuirá aos gestores educacionais “mudar para gerir e gerir para mudar”, cuidando do que é importante e não simplesmente do urgente — cônscios do seu legado para a humanidade. E, assim, sentirem-se recompensados e felizes quando forem confrontados com a pergunta existencial: “Afinal, qual é a tua obra?”

 

REFERÊNCIAS:

BAUMAN, Z. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

BLANCHARD, K. & MILLLER, M. Grandes líderes de sem- pre: como o desenvolvimento pessoal determina o sucesso da liderança. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão. Petrópolis: Vozes, 2012.

* Diretor-Geral do Colégio Sagrado Coração de Maria (Sacré-Coeur) do  Rio de Janeiro, mestrando em Educação pela Universidade da Madeira (Portugal), graduado em Pedagogia (UFRN) e MBA – Gestão Acadêmica e Universitária (FIPEL-MG).

E-mail: amaro-franca@hotmail.com




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