Cid Gomes ficou 76 dias à frente do Ministério da Educação. O ministro pediu demissão nesta quarta-feira (18) após participar na Câmara dos Deputados de sessão em que declarou que deputados “oportunistas” devem sair do governo. Gomes foi o quarto chefe da pasta desde o início do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Antes dele, Dilma teve à frente do MEC Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Henrique Paim.
O Palácio do Planalto informou após a demissão de Cid Gomes que o secretário-executivo da pasta, Luiz Cláudio Costa, comandará o Ministério da Educação interinamente. Costa já foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e foi secretário-executivo do MEC em 2013. Ele já estava na função de ministro interino desde o dia 10, quando Cid Gomes se afastou por motivos de saúde.
Gomes assumiu em 2 de janeiro com o foco no slogan principal lançado pela presidente Dilma Rousseff: “Brasil, Pátria Educadora”. Em dois meses e meio no cargo, Gomes enfrentou problemas como orçamento não aprovado, que afetou vários programas do MEC.
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‘Larguem o osso, saiam do governo’, diz Cid a ‘oportunistas’ na Câmara
O ministro da Educação, Cid Gomes, fez nesta quarta-feira (18), na tribuna da Câmara, um apelo aos deputados “oportunistas”, que detêm cargos na administração federal mas não dão apoio ao governo no Congresso, para que “larguem o osso, saiam do governo”.
Mesmo afastado até a próxima sexta-feira (20) por motivos de saúde, Cid Gomes foi à Câmara por convocação, devido a uma declaração dada no último dia 27, durante palestra a estudantes da Universidade Federal do Pará. Na ocasião, afirmou que a Casa tem de 300 a 400 parlamentares que “achacam”. “Eles [deputados federais] querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”, disse o ministro em Belém.
Ex-governador do Ceará, Cid Gomes (PROS) iniciou a fala na Câmara dizendo que “respeita” o Congresso e admitindo que deu a declaração. “Que me perdoe, eu não tenho mais idade, não tenho direito de negar aquilo que, pessoalmente, num ambiente reservado, num contexto, falei numa sede do gabinete do reitor”, afirmou.
Ele justificou afirmando que era uma posição “pessoal” e que não a manifestou como ministro de Estado. De acordo com o ministro, os “400 ou 300” são os que apostam no “quanto pior, melhor”, mas ele pediu “perdão aos que não agem desse jeito”.
“Isso não quer dizer que concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos, que mesmo estando no governo têm uma postura de oportunismo”, declarou.
Vários deputados protestaram e reagiram com irritação ao discurso do ministro, tentando interrompê-lo aos gritos.
Em seguida, o ministro afirmou que os partidos que compõem a base de apoio à presidente Dilma Rousseff deveriam adotar postura condizente.
“Eu não quero aqui me referir ao nobre deputado Mendonça Filho [líder do DEM], partidos de oposição, que têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo, vão pra oposição. Isso será mais claro para o povo brasileiro”, disse.
Diante das manifestações em plenário, Cid Gomes subiu o tom e chegou a apontar o dedo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que prefere ser acusado pelo peemedebista de ser “mal educado”, a ser acusado de “achacar” empresas, no esquema de corrupção da Petrobras.
“Eu fui acusado de ser mal educado. O ministro da Educação é mal educado. Eu prefiro ser acusado por ele [Eduardo Cunha] do que ser como ele, acusado de achaque”, afirmou Cid Gomes.
Internação hospitalar
O comparecimento do ministro da Educação à Câmara estava previsto para a semana passada, mas foi adiado porque ele teve que ser internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, com um quadro traqueobronquite.
Em seu discurso na tribuna, Cid Gomes questionou a comissão de deputados criada com o aval de Eduardo Cunha para verificar seu estado de saúde no hospital após o pedido para adiar a convocação. Os parlamentares foram ao hospital, mas não obtiveram autorização para visitar o ministro.
“Quem custeou as despesas desses deputados que foram lá? Ao que me consta, não houve aprovação pelo plenário”, afirmou, dirigindo-se a Cunha.
O presidente da Câmara rebateu dizendo que o envio da comissão não teve custo algum para a Casa. “Não teve ônus para a Casa, às despensas dos parlamentares, porque essa Casa se dá o respeito”, devolveu.
Reações dos deputados
A fala gerou protestos em plenário. O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), afirmou que o ministro “perdeu a condição de exercer o cargo”.
“Cobraremos ao governo que diga se permite e orienta os ministros a desrespeitar o Parlamento. Não reconheço a autoridade de vossa excelência para criticar o Parlamento”, declarou.
O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), criticou o ministro por não ter feito um pedido desculpas. “Ele reiterou e disse, em alto e bom som, que esta Casa tem 400 achacadores. O ministro fez uma ressalva com relação à atuação da oposição, o que leva a crer que (…) os achacadores são os 400 deputados da base governista”, disse.
Ele cobrou ainda que a presidente Dilma Rousseff diga se “referenda” o que afirmou o ministro da Educação no plenário da Câmara.
“Fico pasmo com a capacidade do governo de produzir crises, embaraços, situações vexatórias”, declarou. Para o deputado da oposição, a fala de Cid Gomes “desmoraliza” o Congresso e demonstra que o governo Dilma é capaz de produzir “uma crise por dia”. “Tenho vergonha de assistir uma sessão que coloca o parlamento literalmente no chão.”
O líder do Solidariedade, Arthur Oliveira Maia (BA), classificou a declaração de Cid Gomes de “destemperada” e criticou a “agressão” do ministro ao presidente da Câmara e pediu a ele que renuncie.
“Sou obrigado a dizer que vossa excelência respondeu a essa indagação dizendo que os 300 ou 400 achacadores se encontram na base governista, e não na oposição. Estão na base governista que elegeu a presidente Dilma”, disse.
Para o deputado, Cid Gomes tem de renunciar. “Ou então a única alternativa que resta à presidente Dilma é lhe demitir sumariamente”, afirmou.
O líder do PSC, André Moura (SE), também pediu a saída do ministro do cargo e disse que o governador usou recursos públicos para viajar pela Europa. “O ministro perdeu a condição de ser ministro. E eu pergunto aqui ao plenário. Achacadores dos recursos públicos somos nós ou achacador é quem, como governador do Ceará, alugou jato particular para viajar por toda a Europa com recursos pagos pelo povo do Ceará? E ainda levou a sogra a tiracolo?”
Irritado, Moura elevou o tom e disse que o ministro era “desqualificado” e não tinha “dignidade” nem “moral” para continuar no cargo. Cid Gomes reagiu e disse que quem não tinha moral era o deputado. O bate-boca seguiu e Moura afirmou que o ministro “envergonha o estado do Ceará”.
O deputado Domingos Neto (PROS-CE) saiu em defesa de Cid Gomes e ironizou dizendo que a saída do ministro interessaria a alguns parlamentares de olho na vaga. “Será que é nisso que estão pensando quem defende a sua renúncia?”, questionou.
Fonte: G1 19/03/2015