BOGOTÁ — A secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Elizabeth Serra, se diz cética em relação ao cumprimento da lei brasileira que obriga todas as escolas a ter bibliotecas até 2020. E afirma que só a medida não basta.
Quais projetos colombianos de incentivo à leitura podem servir de inspiração para o Brasil?
O Brasil ainda não tem um sistema nem de biblioteca pública nem de biblioteca escolar. Por isso é que veio a lei. Mas, sozinha, ela não vai fazer nada. Temos que nos mobilizar. As crianças têm que aprender a usar a biblioteca na escola. No Brasil, nós temos salas de leitura e raríssimas bibliotecas nas escolas.
Por que as escolas têm que ter bibliotecas em vez de salas de leitura?
A sala de leitura não cumpre o papel de biblioteca, pois às vezes tem um tratamento biblioteconômico e às vezes não. Se não houver um procedimento de catalogação dos livros e de adequação deles na estante, não é possível ter um acervo coletivo. Isso também é um processo educativo que tem que ocorrer na escola. A organização é fundamental. A biblioteca dá continuidade à escolaridade. Se os alunos não aprendem na escola que a biblioteca é o lugar onde poderão buscar livros e estudar, eles vão interromper o processo deles. A biblioteca é o coração da escola, é onde se pode buscar informação. Na Colômbia, os cidadãos têm uma compreensão de convivência e de cidadania e sabem que este espaço é um direito. Os colombianos conseguiram perceber que uma forma de romper com o tráfico de drogas é por meio de ações sociais e culturais, e escolheram a biblioteca como ponto de referência. Nisso é que a gente tem que se espelhar.
O número de escolas com bibliotecas cresceu pouco no Brasil desde que a lei entrou em vigor. Estamos caminhando muito devagar?
Sim. Um estudo diz que nós teríamos que construir 25 bibliotecas por dia para obedecermos a lei. Isso é difícil. O professor não está bem formado, e ele seria um grande defensor da biblioteca.
A média de livros lidos por ano na Colômbia é menor que no Brasil. Devemos nos inspirar na Colômbia mesmo assim?
Na organização de bibliotecas públicas, estamos atrás deles. Mas estamos fazendo melhor a formação de leitores. Os professores brasileiros cada vez mais estão entendendo que o trabalho de formação de leitores é com livro. Aqui, muitas vezes eles douram a pílula, e fazem atividades como teatrinhos para convidar o aluno a ler.
Fonte: www.oglobo.com.br