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Publicado em 27 de março de 2012 | 6 minutos de leitura

O cérebro e a aprendizagem

Garantir a aprendizagem dos alunos é o desejo de todo professor. Capacitá-los de fato para enfrentar os desafios não é tarefa fácil. Conhecer bem o conteúdo de sua disciplina e trabalhar com os recursos tecnológicos pode não ser o suficiente. Entender um pouco do funcionamento do cérebro e como ocorre a aprendizagem pode ajudar nesta tarefa. Com esse conhecimento é possível desenvolver metodologias mais eficientes, capazes de despertar no aluno o interesse pela matéria e pelo aprendizado.

O cérebro armazena fatos separadamente, entre neurônios, e a aprendizagem ocorre quando esses fatos, associados através das sinapses, são propagados. “O ato de aprender é inato do ser humano. O aprender é biológico, mas a relação de aprendizagem é afetiva. É preciso que exista uma motivação, um interesse”, explica a psicopedagoga e psicanalista Marta Relva Pires, coordenadora do curso de neurociência pedagógica da Faculdade Integrada AVM-Candido Mendes.

A especialista, que é mestre em Anatomia e Fisiologia Humana, explica que existe a aprendizagem mecânica — aquela que passa pelos estímulos — e a emocional — que está relacionada à afetividade. “O aprender é biológico, ou seja, nascemos com essa capacidade, mas a relação de aprendizagem é afetiva. O aprender significa mudar de comportamento. A informação para ser processada precisa ter coerência para o aluno”, ressalta.

O cérebro possui uma grande plasticidade e, por isso, sofre alterações constantes. Essas alterações ocorrem quando ele é estimulado. É a partir desses estímulos que começa a aprendizagem. A primeira etapa é o estímulo sensorial, que será assimilado pelo cérebro de forma rápida e curta. Nesta etapa, a memória utilizada é a de curto prazo ou de trabalho (que armazena no cérebro informações conscientes por um curto período de trabalho). Alguns recursos como filmes e músicas podem ser utilizados como estímulo.

Associação de ideias

A fase seguinte exige o uso da memória de longo prazo, pois há a associação de fatos e ideias. “Nesta fase, lidamos com a questão da coerência e da afetividade. O aluno precisa compreender a importância do conteúdo. Ver sentido no que é apresentado. Uma forma de mostrar ao aluno a importância de um tema é levá-lo a investigar sobre o assunto; é não dar respostas, e sim apresentar questões”, diz a neurocientista.

Apresentar os conceitos de forma coerente, relacioná-los com o dia a dia do aluno são pontos fundamentais para despertar no jovem o interesse pelo que está sendo passado.  “O aprender está no processo de reflexão, de análise. O cérebro retém o que acha importante. É preciso que a aula desperte o aluno.”

Provocar desafios, elaborar projetos de leitura, organizar debates, criar jogos com os assuntos debatidos, apresentar músicas, trabalhar conceitos são estratégicas que facilitam e tornam as aulas mais dinâmicas e interessantes para os jovens. “Essas aulas costumam ter bons resultados, pois os alunos sentem-se motivados a participar”, diz  Marta Pires.

A última etapa neste processo é a fixação, que deve ser feita por meio de exercícios e também de ações. “Aprender significa mudar de atitude, de comportamento, senão o que temos é um conteúdo armazenado no cérebro”, diz a especialista, ressaltando, ainda, que a atitude do professor em sala faz a diferença.

Na visão da especialista, o professor que chega, senta e faz a chamada está na contramão do processo de aprendizagem. “Esse comportamento desmotiva o aluno, a ideia que passa é que o professor está cansado e desanimado. Acaba com a curiosidade do aluno.”

Outro erro, na avaliação da psicopedagoga, é o grito. “Gritar não é papel do educador. Ele deve ser o exemplo, por isso deve manter a postura”.

Para saber mais sobre o assunto: Neurociência e Educação – potencialidades dos gêneros na sala de aula (WAK Editora), Marta Relva Pires.

Ondas cerebrais

O cérebro emite ondas elétricas passíveis de medição, através do eletroencefalógrafo: Alfa, Beta, Theta e Delta. Existe uma relação entre a produção de ondas cerebrais, estados mentais e atividades desenvolvidas pelo Ser Humano.

Beta – são emitidas quando estamos com a mente consciente, alerta ou nos sentimos agitados, tensos, com medo, variando a frequência de 13 a 60 pulsações por segundo na escala Hertz; 

Alfa – ondas emitidas quando nos encontramos em estado de relaxamento físico e mental, embora conscientes do que ocorre à nossa volta, sendo a frequência em torno de 7 a 13 pulsações por segundo;

Teta – ondas de mais ou menos  4 a 7 pulsações, caracterizando um estado de sonolência com reduzida consciência; 

Delta – quando há inconsciência, sono profundo ou catalepsia, emitindo entre 0,1 e 4 ciclos por segundo.

As duas últimas frequências de onda são consideradas patológicas.

Geralmente, costumamos usar o ritmo cerebral Beta.  Quando diminuímos o ritmo cerebral para Alfa, colocamo-nos na condição ideal para aprender, guardarmos fatos, dados, elaborarmos trabalhos difíceis, aprendermos idiomas, analisarmos situações complexas.

A meditação, os exercícios de relaxamento e as ati­vidades que favorecem a sen­sação de calma também proporcionam esse estado Alfa.


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