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Publicado em 15 de abril de 2016 | 6 minutos de leitura

O momento atual do Brasil e a importância da formação das próximas gerações

Se queremos mudar o Brasil não podemos apenas pensar nos terríveis escândalos de corrupção em que o país está envolvido. Temos também que refletir sobre o que precisamos fazer para solucioná-los. A mais dramática crise política e econômica já vivida pelo país só pode ser combatida com a mistura de ações imediatas e outras mais estratégicas de longo prazo. Olhar para o presente é necessário, sem dúvida, mas não o suficiente para mudar o Brasil.

Eu sou do tipo de pessoa que olha sempre para frente. Não que o momento atual não me aflija, como a qualquer brasileiro, e que ver o jornal das 10 todas as noites, não me faça ir para a cama com certa angústia. Mas de fato acho que posso contribuir mais. Quero participar da construção de um Brasil que nos orgulhe no futuro.

Há mais de 20 anos, circulo pelo mundo da educação, procurando aprender sobre o funcionamento dos sistemas e das escolas públicas e privadas.

Acredito que a educação de qualidade é o único caminho para levar nosso país a um estágio de desenvolvimento mais avançado.

 

Ainda que o ensino nas escolas privadas seja relativamente melhor do que na rede pública, o desafio de elevar a qualidade da educação em sala de aula persiste. E, nos dois sistemas, existe um fator crucial: o Professor.

Está comprovado em diversas pesquisas que o desempenho do professor é o elemento isolado que mais influencia as conquistas dos estudantes. Assim, o professor é o ator mais importante da sociedade à medida que pode impactar várias gerações.

A grande missão do professor é fazer com que o aluno se interesse pelo processo de aprendizagem e tenha curiosidade para continuar progredindo sempre.  Seu papel é fazer com que o aluno aprenda conceitos universais além de ajudá-lo a refletir sobre os fatos do cotidiano, a ser capaz de pensar, a entender diferentes pontos de vista, ser capaz de ter discernimento e  formar sua própria opinião.  Só assim este jovem poderá tomar decisões responsáveis e alinhadas com seus valores no futuro.

No convívio com o universo da educação pude conhecer profissionais extraordinários e muito capazes. Verdadeiros heróis, que apesar de todas as dificuldades encontradas nas escolas, de infraestrutura precária, parcos recursos pedagógicos e até mesmo circunstâncias complexas de crianças em situação de vulnerabilidade, conseguem desenvolver um trabalho eficiente e inspirador com seus alunos.

Porém uma parcela significativa de educadores não trabalha de forma imparcial e acaba transmitindo para seus alunos grande parte de suas opiniões pessoais. O bom educador deve ser visto como exemplo e fonte de inspiração para seus alunos, deve ampliar sua visão e não restringi-la a um único ponto de vista, que pode estar atrelado a idiossincrasias e, não raro, preconceitos. O professor doutrinador, por mais bem intencionado que seja, não será capaz de formar jovens autônomos e com aguçada capacidade de reflexão.

Segundo Katherine Merseth, doutora em educação de Harvard, que esteve recentemente no Brasil, o principal motor do aprendizado do aluno não é o livro, o currículo, o número de estudantes em sala de aula ou sua bagagem cultural. Se uma criança tem um professor de baixo desempenho e outra, nas mesmas condições, tem um professor de excelência, em três anos a diferença de aprendizado entre as duas será da ordem de 50%.

Então o fator “professor” pode ser visto como um risco ou uma oportunidade. Pois sabemos que se tivermos foco e contarmos com políticas públicas eficazes é possível fazer o Brasil dar um salto educacional em poucos anos. Atualmente, temos 2,5 milhões de professores em todo o país. Se eles são vitais na formação das próximas gerações, precisamos priorizá-los, precisamos olhar para eles como um recurso estratégico do país!

Isto significa valorização deste profissional. Significa investimentos na sua formação continuada, de forma muito bem estruturada e planejada para ser efetiva, caso contrário estaremos jogando dinheiro pela janela.

Acredito que a formação valiosa é aquela ligada às práticas dos professores em sala de aula. O professor deve ser preparado para conduzir as dinâmicas em classe, manter estudantes atentos e engajados e transmitir o conteúdo para que o aprendizado, de fato, ocorra. Ele deve também ter atenção à avaliação dos alunos, para enxergar as dificuldades de cada um e ir atrás de fazê-los aprender.

Hoje, já existem técnicas e ferramentas que garantam uma aula inspiradora e proveitosa. No entanto, o professor precisa contar com o suporte adequado para discutir suas práticas em sala de aula. O professor precisa receber feedback assim ele estará sempre motivado a se aprimorar. Esse suporte ao profissional pode e deve ser organizado dentro das secretarias de educação municipais e estaduais. É possível fazer!

Por fim, mas não menos importante, precisamos atrair pessoas de várias esferas da sociedade para serem professores. Devemos dar à carreira de professor a relevância e o prestígio que ela merece. Hoje temos 23% de nossa população em idade escolar mas eles serão 100% de nosso futuro, portanto repito, o professor é a peça-chave da sociedade.

Ouso pensar que uma das causas centrais da situação catastrófica em que o Brasil se encontra é a falta de uma educação de qualidade para todos os brasileiros. Por isso, é preciso vontade política para, de fato, transformar a educação no principal alicerce de nosso desenvolvimento.

 


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