Artigos


Publicado em 26 de maio de 2022 | 5 minutos de leitura

O que aprendemos com a pandemia

Frederico Venturini

Muito já foi escrito e falado sobre as consequências da pandemia na educação de nossos alunos, em função do grande período em que as escolas ficaram fechadas: perda cognitiva, dificuldades de alfabetização, problemas de socialização no pós-pandemia, previsão de diminuição de renda das gerações futuras.

Este texto irá abordar nosso aprendizado, em função da pandemia, em termos de gestão das nossas instituições de ensino; um momento único e de extrema dificuldade da escola particular, mas que deixou um legado de aprendizagem bastante significativo.

A importância de uma eficiente gestão do caixa foi fundamental para que todas as escolas pudessem passar por esse período de pandemia, em que tivemos quedas nas receitas e aumento de algumas despesas, principalmente para adaptação das instituições aos protocolos sanitários e implementação do ensino híbrido. O caixa deve ser acompanhado diariamente, num exercício contínuo de antecipar receitas e negociar despesas. Do lado das receitas, uma eficiente gestão do caixa parte principalmente da premissa de cobrança eficiente: aceitação de diferentes formas de pagamentos, disponibilização aos responsáveis de diferentes canais de pagamentos, cobrança amigável, contratação de escritórios de cobrança. Pelas despesas, a eficiência passa pela escolha dos fornecedores, negociação de prazos de pagamentos e descontos.  

Possuir algum tipo de reserva financeira também foi fundamental para atravessar esse período de forma mais amena. Embora as margens da escola particular venham caindo há alguns anos, com dificuldade de acumularmos reserva, é ideal que sobras de caixa sejam direcionadas para investimentos com liquidez. Durante a pandemia, tais investimentos foram importantes para compensação das quedas de receitas.

A transformação digital foi outra característica marcante da pandemia, escolas que já utilizavam ferramentas tecnológicas saíram na frente e tiveram menos dificuldades. Entretanto, mais importante do que trabalhar previamente com ferramentas tecnológicas, foi o fato de possuir colaboradores flexíveis, afeitos às novas ferramentas e dispostos a aceitar mudanças. Foram muitas as instituições com dificuldades em função da resistência de alguns profissionais na utilização de tecnologia. Educadores tiveram de enfrentar, do dia para a noite, uma nova forma de ensinar, com ferramentas digitais, gravações de vídeos, utilização de chats etc. Aprendemos que ter profissionais “antenados”, “tecnológicos” e com a mente aberta para mudanças foi um diferencial na travessia da pandemia. Estas características do atual profissional da educação foram reforçadas e são uma realidade sem volta.

O governo federal implementou diversas linhas de crédito durante a pandemia, com taxas de juros bastante atrativas, além de programas de redução de carga horária, com subsídio governamental no pagamento dos salários. Quem soube aproveitar essas linhas e “brigou” por elas para a sua obtenção, certamente atravessou o período de forma mais amena. O setor de educação é pessoal intensivo, diversos empregos foram mantidos nas escolas que conseguiram captar estes empréstimos e aderiram aos programas de redução de carga horária.

A importância da comunicação também foi reforçada no período da pandemia, tanto a comunicação com os colaboradores quanto com alunos e familiares. Instituições que já possuíam canais de comunicação ativos tiveram mais facilidade para “virar a chave” quando o contato presencial foi interrompido. Existem diferentes opções no mercado – aplicativos escolares, WhatsApp, e-mail – cada escola deve descobrir o canal de comunicação remoto mais eficiente. 

Por fim, o período de pandemia foi marcado pelas incertezas, desinformação, falta de sintonia das autoridades de saúde e educação (municipais e estaduais), além de ter sido um período bastante fértil para políticos que apresentaram projetos de leis populistas, como o de redução das mensalidades escolares. As instituições filiadas aos Sinepes certamente tiveram acesso mais rápido às informações, notadamente decisões das autoridades, novos protocolos sanitários, modelos de ensino híbrido. Também puderam compartilhar suas angústias e problemas com outros gestores de escolas associadas, tornando a travessia desse período menos dolorosa.

Frederico Venturini é diretor da Tre-Le-Lê Creche Escola e do Sinepe Rio


Associe-se
Rolar para cima