Fonte: O Dia – 1/02/2016
Carlos Alberto Rabaça
Rio – Qual o papel da Educação num país em que não há mais visão clara de futuro? Que função devem desempenhar os educadores quando os jovens se defrontam com profundas incertezas quanto à sua sorte e às expectativas de vida estável numa sociedade em crise de valores?
Diante das desconcertantes características do momento brasileiro, muitos jovens tendem a se isolar no mundo on-line de relacionamentos virtuais, na depressão, no abuso do álcool ou de drogas. Outros se lançam a formas violentas de comportamento, como gangues de rua e grupos de protesto difuso, recursos usados pelos excluídos do mundo do consumo, mas ávidos por participar do mercado.
Indiferentes às angústias da juventude, Executivo e Legislativo se alheiam à decisão de enfatizar a Educação como prioridade e deixam claro que o “problema dos jovens” não é mais prepará-los como futura elite política e cultural da nação, mas apenas adestrá-los para o consumo, distanciando seus destinos de princípios morais e éticos.
Os valores do mundo de consumo exigem que as pessoas esqueçam hoje o que aprenderam ontem e aprendam hoje o que devem esquecer amanhã. Sendo assim, qual a tarefa da Educação nesse universo que dispensa a aprendizagem e desdenha a acumulação de conhecimentos?
Reflitamos, então, sobre a realidade da Educação. O Estado aplicou só 27% do valor previsto para 2015, a menor taxa de investimento em nove anos. A crise financeira comprometeu melhorias em escolas do Rio. O cenário de abandono é trágico. O corte de investimentos é grave. Uma boa escola deve ter, no mínimo, infraestrutura de salas de aula e recreio. A característica da rede escolar, de uso constante dos prédios, demanda permanente manutenção, o que não vem sendo feito.
Assim, não tem como haver qualidade do ensino, do trabalho pedagógico. Apesar de o acesso à Educação avançar, a universalização não é alcançada. Em média, 7,6% dos alunos abandonam os estudos no Ensino Médio. Dados reunidos pela ONG Todos pela Educação mostram, no entanto, haver impossibilidade, neste ano, da universalização do atendimento para crianças e adolescentes, entre 4 e 17 anos. Portanto, continuamos aquém de nossa responsabilidade social, sem sermos a “Pátria Educadora”.
Carlos Alberto Rabaça é sociólogo e professor