Antônio Gois é jornalista e colunista da “Formou!”
O distrito escolar de Kyrene, no Arizona, iniciou em 2005 um projeto piloto que equipou suas escolas com o que de mais sofisticado havia na época. Em vez do quadro negro, professores e alunos trabalhavam com uma tela interativa. Cadernos foram praticamente abolidos para dar lugar a laptops equipados com softwares pedagógicos. Tudo era novo e revolucionário naquelas salas de aula do futuro. Em 2011, o jornal “The New York Times” visitou o local e constatou que apenas uma coisa não havia mudado após sete anos e US$ 33 milhões de investimento: a nota dos alunos.
A história acima exemplifica bem o que se sabe hoje a respeito do impacto das tecnologias no aprendizado. Apesar de algumas iniciativas promissoras aqui ou ali, ainda não há evidência consolidada de que elas são capazes de melhorar o desempenho dos alunos em larga escala. Mesmo assim, diante de nossa angústia em busca de respostas rápidas e fáceis, universidades e escolas públicas ou privadas são constantemente seduzidas com ofertas de novos produtos, apresentados como soluções simples para problemas educacionais complexos. No caso da tecnologia, a tentação é ainda maior diante do deslumbramento com aparatos que dão à tradicional sala de aula um ar de parque de diversão tecnológico. Parece que robôs, computadores, videogames ou ambientes virtuais tridimensionais farão, num passe de mágica, as aulas mais eficientes. Ou que basta entregar um laptop ou tablet na mão de um professor para que ele vire um profissional mais capacitado.
Os entusiastas das novas mídias digitais defendem a tese de que não podemos fechar os nossos olhos para o potencial que elas trazem. É um argumento válido. O problema é que toda essa parafernália custa caro. Talvez um dia tenhamos provas de que é um investimento que compensa. Até lá, antes de torrar dinheiro público em equipamentos custosos, melhor seria apoiar projetos bem embasados pedagogicamente, avaliando rigorosamente seus impactos, para só depois massificá-los. A lógica é mais ou menos a do refrão de uma famosa música dos Titãs: “Só quero saber do que pode dar certo”. Não temos tempo, muito menos dinheiro, a perder.
Fonte: www.oglobo.com.br – 4/03/2013