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Publicado em 18 de dezembro de 2018 | 7 minutos de leitura

Perspectivas da Economia em 2019

Frederico Venturini

Chegamos ao final de mais um ano, esperanças renovadas e muita expectativa sobre o governo que assumirá o comando do país em janeiro de 2019. Empresários e executivos de todos os segmentos fazem contas, elaboram orçamentos, traçam cenários em que a principal questão é a capacidade do presidente eleito e sua equipe em reverter o triste quadro econômico. A negociação com um Congresso fragmentado para aprovação de reformas estruturais da economia, sem o tradicional fisiologismo, também é prática nova, gerando incertezas quanto aos resultados.   

Consideremos, inicialmente, a situação atual do país: embora a recessão tenha ficado para trás e a inflação esteja controlada, ainda temos 13 milhões de desempregados e convivemos com déficit nas contas públicas da ordem de R$ 88 bilhões – valor dos últimos 12 meses, representando 1,29% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo Temer herdou uma economia em desordem, no curto período de dois anos conseguiu reverter o quadro recessivo e iniciar uma agenda de reformas – a trabalhista, o teto de gastos públicos e a recém-aprovada reforma do ensino médio. Apesar da agenda surpreendentemente positiva, fracassou em aprovar outras reformas estruturais em função do envolvimento do presidente no escândalo da JBS, ou seja, estancou a destruição econômica promovida pelo governo Dilma, mas fracassou na continuidade de implementação de mudanças.  

Ao longo dos governos petistas, tivemos breves períodos de crescimento econômico, até mergulharmos na maior recessão da história do país, em 2015 e 2016.  O modelo de Estado controlador e principal protagonista dos investimentos fracassou, engolido pela “gastança” e consequente descontrole fiscal. É importante mencionarmos também a desordem dos preços da economia provocados pelo controle artificial das tarifas públicas.  Ademais, a austeridade do início do período Lula e a euforia provocada pela elevação dos preços das commodities, sucumbiram ao pensamento econômico marxista, predominante no segundo mandato de Lula e no período Dilma.

A principal questão é o motivo pelo qual não conseguimos nos livrar de um modelo de crescimento econômico conhecido como voo de galinha, ou seja, períodos de breves crescimentos alternados com estagnação e recessão. A resposta está na implementação de uma agenda de reformas que nos livre das amarras do atraso estatizante e cartorial e faça o país avançar de forma consistente rumo ao crescimento econômico e social. A aprovação das reformas será o grande desafio de Bolsonaro e sua equipe, a começar pela Reforma da Previdência, uma vez que os gastos previdenciários correspondem a 60% dos gastos públicos. Estudos indicam que, caso nada seja feito, em 2030, o país efetivamente quebra, com previdência atingindo o insustentável patamar de 70% dos gastos.

Analistas políticos dizem que a “lua de mel” da opinião pública com novos governos dura 6 meses.  Desta forma, a negociação com o Congresso e rápida aprovação da Reforma da Previdência aumentará este período de complacência, abrindo caminho também para a reforma tributária, as privatizações e a abertura comercial do país.  Um sistema tributário mais simples – uma vez que o nosso é burocrático, complexo e aplicado por vezes em cascata – a diminuição do tamanho do Estado e uma efetiva abertura comercial com redução de alíquotas são essenciais para nosso crescimento econômico. A agenda de medidas microeconômicas para desburocratização, tornando o país menos hostil à iniciativa privada, também faz parte do grande desafio da nova equipe econômica – diretores de escola particular sonham com um Estado que simplesmente os deixem trabalhar, sem um emaranhado de regras confusas, repetidas, divergentes e, na maioria das vezes, inócuas.

No cenário internacional, o fator de maior preocupação é a guerra comercial entre Estados Unidos e China, com aumento de tarifas de importação em ambos os países. O agravamento da situação pode levar a um processo de retração da economia mundial, o que traria reflexos negativos para nossa economia, historicamente exportadora de commodities e importadora de manufaturados. Resta ao novo governo brasileiro rezar para que as duas maiores potências do mundo cheguem a um acordo; o governo Bolsonaro deve agir de forma pragmática, sem tomar partido – afinal, tanto Estados Unidos quanto China são prioridades no campo externo, logo, o país deve abrir sua economia e estreitar os laços com as duas maiores potências econômicas globais.

O sucesso da implementação das reformas na economia fará com que as previsões otimistas de indicadores para 2019 venham a se concretizar: inflação estável no patamar de 4,25%, PIB com crescimento de 2,5% e dólar entre R$ 3,70 e R$ 3,90. O fracasso fará com que fiquemos próximos de nossos hermanos argentinos: o governo Macri, tendo herdado uma economia em ruínas do Kirchnerismo, não teve competência para implementação de agenda liberal, notadamente um ajuste fiscal rigoroso. Certamente não queremos isso para nosso país.

Para mantenedores e diretores de instituições de ensino, o próximo ano será ainda de muito trabalho e paciência. Como nosso ciclo de captação de alunos é anual – a exceção da Educação Infantil – quando a economia melhora, os reflexos chegam em nosso mercado de forma retardada.  Ademais, também dependemos da geração de renda através do emprego, última variável a cair em períodos de recessão e, igualmente, a última a reagir positivamente em ciclos de crescimento. Já conseguimos vislumbrar uma luz no fim do túnel e, dessa vez, parece certamente não ser uma locomotiva vermelha vindo em nossa direção.

Frederico Venturini é diretor do Sinepe Rio


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