Artigos


Publicado em 13 de agosto de 2015 | 9 minutos de leitura

Por causa da violência, este ano escolas cariocas em áreas conflagradas já suspenderam 17 dias de aula

Moradora do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, M., de 28 anos, acordou com o estrondo de tiros, seguido do choro do filho caçula de 1 ano. Passava um pouco das 6h de terça-feira, quando o eco dos disparos levou aos prantos o menino e assustou também B., a filha de 7 anos. Pelo segundo dia consecutivo, a menina não iria à Escola Municipal Bolívia. Lição de violência compartilhada ao menos por outras 35.994 crianças e jovens em pelo menos 17 dias este ano, devido a conflitos em comunidades do Rio.

Naquele mesmo dia, perto dali, policiais faziam buscas no Morro do Chapadão, em Costa Barros, onde seis traficantes foram presos. Para não ficar sitiada na própria moradia, M. vestiu as crianças e foi buscar abrigo na casa de uma irmã, longe do Juramento. A decisão da mãe não agradou a B. Aluna do terceiro ano do Ensino fundamental, a menina queria ir à Escola. Nem mesmo o agrado feito pela mãe, que antes de sair a enfeitou com uma tiara de princesa, animou a filha.
— É triste não poder garantir a segurança dos filhos dentro da nossa casa — disse a mãe.

No entorno do Juramento, há duas Escolas municipais. A Bolívia, na Praça Cotigi, onde B. estuda, nem abriu as portas na terça-feira. Já na Escola Municipal Sergipe, numa das ruas de acesso ao morro, a frequência foi pequena. De acordo com um funcionário, menos de cem crianças, de um total de 680, tinham comparecido.

Mães ficam sem trabalhar
Há 22 anos morando no Juramento, o aposentado J., de 72 anos, disse que a neta, de 6, estava sem ir à Escola desde a sexta-feira da semana anterior.

— Melhor perder o ano que a vida, você não acha? — resumiu.
A pouco mais de seis quilômetros dali, em Costa Barros, a tensão estava estampada nos rostos de estudantes, pais de Alunos e funcionários de Escolas e Creches. Na Estrada Botafogo, uma mãe tentava levar o filho, de 2 anos, para a Creche Municipal Luiz de Souza Costa Barros, onde funcionários a orientaram a retornar para casa. O filho mais velho, de 9 anos, também não teve aula na Escola Municipal Zumbi dos Palmares. De mãos dadas com os dois meninos, P., de 30 anos, apressava o passo para chegar em casa:

— Deixei de trabalhar por não ter onde deixá-los. Não dá para contar com a Creche e a Escola por causa dos tiroteios.
A poucos metros dali, a Creche Municipal Luiza Barros de Sá Freire funcionava com poucos servidores.
— Os funcionários têm medo de ficar aqui. Eu deixei meu filho porque preciso ir trabalhar — afirmou a diarista, L., de 32 anos.

Na mesma região, a Escola Municipal Professor Estragnolle Doria recebeu apenas 30% dos 418 Alunos, segundo admitiu uma Professora, confessando que pensa em pedir transferência para uma unidade de Ensino fora da linha de tiro. Rotina de medo vivenciada também por Alunos e servidores das Escolas municipais Uruguai e Marechal Trompowsky, na área do Morro da Mangueira. As duas unidades também tiveram problemas na terça-feira, por causa de confrontos. Na Maré, a violência levou Professores a pedirem mudanças no horário Escolar. A Secretaria municipal de Educação reduziu, este mês, em meia hora diária o tempo de aula dos Alunos. Uma Professora classificou a medida como paliativa:

— Para nós, é melhor suspender (as aulas) do que reduzir o horário. Quando o tiroteio começa e estamos dentro da Escola com 1.200 Alunos, não temos como nos proteger. Já vi caveirão parar na porta da Escola e atirar contra criminosos. Há Escolas na Maré em que o Bope já entrou.

Na avaliação da Educadora Regina de Assis, Professora aposentada da Uerj, é difícil recuperar o tempo perdido com as aulas suspensas.
— Estar na Escola é um direito da criança que foi subtraído. Toda reposição (de aulas) é um recurso para remediar algo praticamente irremediável.

 Educação, mais uma vez, na linha de tiro

Moradora do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, M., de 28 anos, acordou com o estrondo de tiros, seguido do choro do filho caçula de 1 ano. Passava um pouco das 6h de terça- feira, quando o eco dos disparos levou aos prantos o menino e assustou também B., a filha de 7 anos. Pelo segundo dia consecutivo, a menina não iria à Escola Municipal Bolívia. Lição de violência compartilhada ao menos por outras 35.994 crianças e jovens em pelo menos 17 dias este ano, devido a conflitos em comunidades do Rio.

Naquele mesmo dia, perto dali, policiais faziam buscas no Morro do Chapadão, em Costa Barros, onde seis traficantes foram presos. Para não ficar sitiada na própria moradia, M. vestiu as crianças e foi buscar abrigo na casa de uma irmã, longe do Juramento. A decisão da mãe não agradou a B. Aluna do terceiro ano do Ensino fundamental, a menina queria ir à Escola. Nem mesmo o agrado feito pela mãe, que antes de sair a enfeitou com uma tiara de princesa, animou a filha.
— É triste não poder garantir a segurança dos filhos dentro da nossa casa — disse a mãe.

No entorno do Juramento, há duas Escolas municipais. A Bolívia, na Praça Cotigi, onde B. estuda, nem abriu as portas na terça- feira. Já na Escola Municipal Sergipe, numa das ruas de acesso ao morro, a frequência foi pequena. De acordo com um funcionário, menos de cem crianças, de um total de 680, tinham comparecido.

MÃES FICAM SEM TRABALHAR
Há 22 anos morando no Juramento, o aposentado J., de 72 anos, disse que a neta, de 6, estava sem ir à Escola desde a sextafeira da semana anterior.
— Melhor perder o ano que a vida, você não acha? — resumiu.

A pouco mais de seis quilômetros dali, em Costa Barros, a tensão estava estampada nos rostos de estudantes, pais de Alunos e funcionários de Escolas e Creches. Na Estrada Botafogo, uma mãe tentava levar o filho, de 2 anos, para a Creche Municipal Luiz de Souza Costa Barros, onde funcionários a orientaram a retornar para casa. O filho mais velho, de 9 anos, também não teve aula na Escola Municipal Zumbi dos Palmares. De mãos dadas com os dois meninos, P., de 30 anos, apressava o passo para chegar em casa:

— Deixei de trabalhar por não ter onde deixá- los. Não dá para contar com a Creche e a Escola por causa dos tiroteios.
A poucos metros dali, a Creche Municipal Luiza Barros de Sá Freire funcionava com poucos servidores.

— Os funcionários têm medo de ficar aqui. Eu deixei meu filho porque preciso ir trabalhar — afirmou a diarista, L., de 32 anos.

Na mesma região, a Escola Municipal Professor Estragnolle Doria recebeu apenas 30% dos 418 Alunos, segundo admitiu uma Professora, confessando que pensa em pedir transferência para uma unidade de Ensino fora da linha de tiro. Rotina de medo vivenciada também por Alunos e servidores das Escolas municipais Uruguai e Marechal Trompowsky, na área do Morro da Mangueira. As duas unidades também tiveram problemas na terça- feira, por causa de confrontos. Na Maré, a violência levou Professores a pedirem mudanças no horário Escolar. A Secretaria municipal de Educação reduziu, este mês, em meia hora diária o tempo de aula dos Alunos. Uma Professora classificou a medida como paliativa:

— Para nós, é melhor suspender ( as aulas) do que reduzir o horário. Quando o tiroteio começa e estamos dentro da Escola com 1.200 Alunos, não temos como nos proteger. Já vi caveirão parar na porta da Escola e atirar contra criminosos. Há Escolas na Maré em que o Bope já entrou.

Na avaliação da Educadora Regina de Assis, Professora aposentada da Uerj, é difícil recuperar o tempo perdido com as aulas suspensas.

— Estar na Escola é um direito da criança que foi subtraído. Toda reposição ( de aulas) é um recurso para remediar algo praticamente irremediável.

Fonte: O Globo  – 13/08/2015




Associe-se
Rolar para cima