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Publicado em 14 de julho de 2024 | 4 minutos de leitura

Por André Luiz Rodrigues Chaves Marques

                Historicamente, as ações destinadas à EJA, de modo geral, se dão por meio de campanhas emergenciais e assistencialistas organizadas em parceria com os estados, municípios e entidades privadas, ou da utilização de organizações comunitárias, com recursos insuficientes, com protagonismo para o trabalho de docência voluntário.

                Já aí, aparece uma das questões fulcrais para a superação do analfabetismo de pessoas jovens, adultas e idosas que é a necessidade da formação docente específica para o atendimento a esse grupo, com conhecimento de causa para o desenvolvimento de ações e de projetos compatíveis com as demandas observadas no grupo em questão. Isso requer políticas públicas de valorização e de investimento nessa modalidade da Educação Básica, lamentavelmente desconsiderada dentro do processo de escolarização no Brasil.

                A partir das reformas educacionais, especialmente com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996 (lei nº 9394), que traz a institucionalização da EJA como modalidade de ensino, ganha expressão o termo letramento, significando, grosso modo, relacionar o uso da leitura e da escrita em contextos diversos das interações sociais.

                Isso possibilita uma ampliação das práticas de leitura e de escrita realizadas pelas pessoas em franca relação com as práticas pedagógicas vivenciadas, em diferentes concepções e cenários. Também coloca o aprendizado da leitura como elemento primordial para contribuir com a inserção dessas pessoas em um maior número de práticas letradas.

                Em consequência dessa ação, pode-se perceber melhorias na compreensão dos sentidos e dos significados que as pessoas jovens, adultas e idosas estabelecem a partir da relação intrínseca entre seus projetos de vida e o trabalho realizado na EJA, conduzindo para o desenvolvimento tanto da alfabetização como do letramento, nesse segmento, permeados de significados e da dimensão social de pertencimento, um aspecto que requer particular atenção, especialmente na atual sociedade de informação.

                Um erro crasso, que precisa ser evitado, é utilizar com os estudantes da EJA teorias e propostas de apropriação da leitura proporcionadas às crianças, pois, ainda que contenham pontos de semelhança, de modo geral, têm objetivos distintos.

                Enfim, para o efetivo desenvolvimento de processos de alfabetização e de letramento na EJA é imperativo que haja mais investimentos em políticas públicas educacionais voltadas à formação inicial e continuada de professoras e de professores, a fim de favorecer o desenvolvimento de um trabalho docente em que, como escreveu Paulo Freire, no livro “Pedagogia da Autonomia”, ensinar não seja transferir conhecimento, mas a criação de possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

André Luiz é Coordenador Acadêmico do Colégio São Vicente de Paulo, Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Educação do CEFET-RJ.


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