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Publicado em 06 de fevereiro de 2015 | 6 minutos de leitura

Professores têm o desafio de tornar aulas mais atraentes para os alunos

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Esta semana, o Jornal Nacional exibe uma série de reportagens especiais sobre os professores brasileiros. Nesta quinta-feira (5), os repórteres Graziela Azevedo e Ronaldo de Sousa mostram que, para ensinar, não basta dominar o assunto. Também é preciso encontrar a melhor forma de transmitir o conhecimento.

Em um coral com muitas vozes, a desafinada de um ou de outro pode nem ser notada pelo público, mas o professor não é de deixar pra lá.

“Eu não aceito deixar um aluno para trás. Acho que todos têm que andar juntos e aprender da melhor forma”, diz o professor de música Edgar dos Santos.
JN: Desafinou ali…
Edgar: A gente vai parar, vai corrigir e vai cantar desde o começo todo mundo junto.

Edgar está se formando também em história, disciplina que já ensina com o mesmo rigor.

JN: Vocês gostam de professor assim mais exigente?
Alunos: Sim!

“Ele quer que a gente estude, que aprenda mesmo”, conta uma aluna.

E essa noção da importância da exigência, quase um pedido por mais rigor, ouvimos de outros alunos e também de seus pais em outras partes do Brasil.

“Se o professor não se interessa, ele não liga, você fica assim largado. Ah por que vou fazer? Ele não vai pedir mesmo aquele trabalho. Por que ir se ele nem nota minha presença na sala?”, diz uma outra aluna.

JN: Multiplicar, somar, essas coisas ele sabe?
Adilva, mãe de aluno: Não. Mais ou menos. Não sabe muito bem.

“A gente paga IPTU, paga impostos, para quê? Para gente botar um filho numa escola pública e não ter a satisfação de ver a aprendizado dos nossos filhos?”, questiona Viviane Cardosos, mãe de um aluno.

A escola que produz alunos que não aprendem voltou a constranger o Brasil nesse início de 2015. Mais de meio milhão de estudantes tiraram zero na prova de redação do Enem. As notas de matemática também caíram em relação à prova do ano passado. E ainda pior que as notas ruins é ver que metade dos jovens brasileiros simplesmente acaba desistindo da escola.

Não enxergar o valor do conhecimento, não ver sentido no que se aprende é um dos motivos do fracasso na escola.

“Esse professor, ele até procura e muitos até se saem muito bem. Mas ele não teve, na universidade, nas faculdades uma base formativa que lhe permita adentrar numa sala de aula motivando os alunos, usando multimídias, por exemplo, e usando elementos que possam mostrar a importância de cada área que se trabalha para a vida das pessoas”, explica Bernardete Gatti, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.

A aluna de pedagogia já enfrenta esse desafio. “Eu escuto sempre essa pergunta, diariamente, dos alunos: professora, por que a gente tem que aprender isso? E um aluno no quinto ano. Dez, 11 anos de idade. É difícil responder”, conta Carolina Gato, estudante de matemática e pedagogia.

Não para os professores que têm o que muitos colegas sonham conseguir: a atenção total dos alunos. E bota aluno nisso.
JN: Quantas vezes as pessoas já viram suas aulas?
César: 57 milhões de vezes. A gente até perde a conta.
Rafael: Meu canal tem 340 mil visualizações por mês.
Yvis: Um dos grandes fatores positivos da videoaula é que o aluno vai no melhor momento. Então ele vai quando está predisposto a aprender

E é com as estrelas das vídeoaulas que muitos estudantes têm tirado aquelas dúvidas antigas e aprendido o que antes parecia puro mistério.

Os estilos são variados. Mas por trás do sucesso de cada um deles tem, além da boa formação, muita dedicação e trabalho.

“Quando vou elaborar um certo tipo de assunto, mesmo tendo domínio daquele assunto, eu leio pelo menos umas sete obras distintas para ver todas as variações possíveis, para fazer uma aula a mais perfeita possível”, conta César “Nerckie” Medeiros, professor de Matemática.

“Eu criei uma rotina. Isso é bem antigo, desde adolescência, eu leio pelo menos um livro por semana. Toda semana”, diz Yvis Urquiza, professor de física.

“Eu comecei o meu canal dando 48 aulas por semana. Eu gravava meus vídeos à noite, muitas vezes entrava pela madrugada gravando”, relembra Rafael Procópio, professor de matemática.

E é assim, misturando o velho e bom conteúdo com um jeito mais descolado de ensinar, que os vídeo-professores dão a sua contribuição para que a educação brasileira avance sem desafinar e sem deixar tanta gente para trás.

“Há um sistema ruim? Há. Há leis que não são cumpridas? Há leis que não são cumpridas. Mas qual o nosso papel em sala de aula? Você quer formar um aluno que vai virar alguém – vai virar um engenheiro, vai virar um advogado – ou você quer que esse aluno desista no meio do caminho?”, conclui o professor de música Edgar dos Santos.

Fonte: Jornal Nacional – 5/02/2015


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