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Publicado em 09 de setembro de 2014 | 35 minutos de leitura

Rio passa do 15º para o 4º lugar

O Ensino médio do estado do Rio de Janeiro passou de 15º colocado no Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) em 2011 para o 4º lugar entre as 27 redes estaduais do país em 2013. No Sudeste, foi a segunda melhor nota, ficando atrás apenas de São Paulo. No Brasil, foi o segundo maior crescimento na nota (12,5%), ficando apenas atrás de Pernambuco (16,1%).

Com nota 3,6, as Escolas estaduais superaram a meta estabelecida pelo Ministério da Educação, que era de 3,3 para 2013. O estado já havia apresentado avanço no último levantamento, quando deixou para trás a penúltima colocação, em 2009.

O Secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro, Wilson Risolia Rodrigues, comemorou o resultado da terceira maior nota no Ensino médio no Ideb, com base nos anos 2013/2014. Com média 3,6, o Rio ficou atrás apenas de Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul. O resultado apresenta um aumento de 13% em relação ao estudo feito em 2011/2012.

– Sabemos que temos que melhorar mais ainda. O objetivo agora é obter a melhor nota no próximo Ideb – disse o secretário.

De acordo com Wilson Risolia, um dos maiores motivos de comemoração é a possibilidade de diminuir a diferença entre o Ensino público e o privado.
– Em 2009, o Ideb da rede estadual era 2,8, e o da privada, 5,7. Em 2011, já conseguimos melhorar mais e, neste estudo atual, chegamos a 3,6, e a rede privada ficou com 4,8 – disse.
Para o secretário, isso é resultado de um conjunto de ações.

– Antes, os Alunos do Ensino médio eram avaliados só uma vez ao ano. Agora eles são avaliados a cada bimestre, e temos equipes que analisam estes resultados e dão reforço aos Alunos naquilo que eles precisam. Além disso, investimos na capacitação dos profissionais. Uma das taxas que mais comemoramos foi a redução de 16,5% que foi divulgada pelo Ideb como taxa de abandono Escolar em 2007, e chegar agora a 7,3%.

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, também comemorou o resultado.

– Hoje é um dia histórico para nós. Ficamos entre os quatro melhores, com uma diferença de 0,6 para o primeiro.
O pró-reitor da Fundação Getúlio Vargas, Antônio Freitas, que também é membro da Academia Brasileira de Educação, avalia que o resultado é consequência de uma gestão mais moderna da Educação, mas ressalta que o indicador não aponta melhorias significativas quando se amplia o prisma.
– Melhoramos de forma vegetativa, mas não competitiva, em relação a países como Rússia e China. Partimos de um nível muito baixo nos últimos anos.

Rede municipal estagnada
Na cidade do Rio de Janeiro, o quadro é de estagnação na rede municipal, com recuo de 0,1% no Ideb dos anos iniciais do Ensino fundamental. O índice caiu de 5,4 para 5,3. Ainda assim, o valor fica dentro da meta de 5,3 prevista para 2013. Já nas séries finais do Ensino fundamental, a nota permanece em 4,4 nos dois anos (a meta era chegar em 4,6 em 2013).

Apesar disso, a secretária municipal de Educação, Helena Bomeny, vê a situação da cidade de forma positiva.
– A gente teve mais de 80 dias de greve no ano passado. São quase 3 meses sem aula – disse.

A coordenadora de políticas públicas em Educação do centro de Ensino a distancia da Uerj, Bertha do Valle, que é doutora em políticas públicas educacionais, concorda que a greve atrapalhou, mas não é o único fator por trás dos resultados.

– Ainda temos um quantitativo alto de Professores desestimulados e Alunos desinteressados em sala de aula. Muitas Escolas ainda não têm um projeto pedagógico adequado – afirma.

Dos 92 municípios do Rio, 44 atingiram as metas estabelecidas para os anos iniciais do Ideb quando se analisa apenas Escolas da rede municipal. O município de Comendador Levy Gasparian, com 8.180 habitantes, foi o primeiro colocado na pesquisa. A cidade atingiu nota 6,5. O resultado é 1,4 ponto percentual acima da meta projetada e fica 1,2 ponto percentual acima de Três Rios, que também atingiu a meta. Os cinco municípios com maior nota possuem menos de 50 mil habitantes. Apenas um não alcançou a meta estipulada pelo Inep: São José de Ubá, com menos de oito mil habitantes, ficou com 5,9 (a meta era de 6,4).

Já municípios com mais recursos ficaram para trás. Belford Roxo ficou 0,9 ponto percentual aquém da meta, atingindo a nota de 3,7, atrás somente de Macuco, que tirou 0,1 a menos no Ideb. Campos de Goytacazes pela segunda vez seguida não conseguiu atingir as metas. Em 2013, ficou com 3,9. Na prova anterior, há dois anos tirou 3,6. Em 2013 ele empatou com Nova Iguaçu, que também não atinge a meta pela segunda prova seguida.

Dentre as cidades que nas quatro avaliações (2007, 2009, 2011 e 2013) conseguiram atingir a meta se destacam Paty dos Alferes, atrás apenas de Levy Gasparian, com 6,2 na última avaliação; Rio das Ostras, com 5,7; Teresópolis, com 5,5; Resende e Itatiaia, ambas com 5,2. O Rio de Janeiro também atingiu suas metas nas últimas quatro avaliações, ficando com 5,3 em 2013. O resultado colocou a capital do estado em 20º lugar no ranking geral.

 

 

Ensino médio fica estagnado e preocupa 
O Brasil continua registrando avanços na qualidade do Ensino nos primeiros anos do Ensino fundamental, mas essa melhoria não chega ao Ensino médio, como mostram os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb), divulgados ontem pelo MEC. Referentes ao ano de 2013, os dados revelam que foram alcançadas as metas estabelecidas apenas nos primeiros anos do Ensino fundamental (1º ao 5º ano). Na etapa final do Ensino fundamental (6º ao 9º) e no Ensino médio, o país ficou a dever.

O resultado mais grave é no Ensino médio: pela primeira vez desde 2005, não foi registrado avanço na média final, que foi de 3,7 numa escala de zero a dez. As notas do Ideb caíram no Ensino médio de 16 redes públicas estaduais de 2011 para 2013. Nos anos finais do fundamental, chegou a ocorrer um avanço mínimo, com o índice passando de 4,1 para 4,2. Ainda assim, foi insuficiente para chegar à meta.

O Ideb considera tanto o aprendizado de Alunos medidos por testes de português e matemática quanto taxas de aprovação em Escolas públicas e privadas de todo o país.

Demora na divulgação
Os resultados foram anunciados pelo ministro da Educação, Henrique Paim, dois dias após o GLOBO revelar que o material estava pronto havia mais de duas semanas e que seu teor tinha sido repassado à Casa Civil da Presidência da República. O governo negou interferência política e justificou a demora afirmando que analisava recursos apresentados por mais de 300 Escolas. Políticos de oposição criticaram o atraso na divulgação.
Ontem, Paim reconheceu a dificuldade, especialmente no Ensino médio:
– Não é nem consenso, é unanimidade: nós precisamos rever o Ensino médio.

O ministro destacou a melhoria contínua do índice nos anos iniciais do fundamental. Ele admitiu, porém, que a onda de progresso observada no primeiro ciclo do Ensino fundamental, entre 2005 e 2011, não chegou com a força esperada aos anos finais do fundamental e, menos ainda, ao Ensino médio.

– O que nós estamos vendo, no Brasil, é que essa onda não tem um grau de intensidade tão forte como nós imaginávamos que teria. Ela esbarra em questões estruturais. A primeira delas é a complexidade que nós temos na gestão dos anos finais do Ensino fundamental e no Ensino médio. Nós temos nos anos finais do Ensino fundamental e no Ensino médio uma quantidade maior de Professores, Escolas maiores, e precisamos de uma maior sofisticação da gestão nessas etapas da Educação básica – disse Paim.

Ele afirmou ainda que, nas séries mais avançadas, há necessidade – e maior falta – de Docentes de disciplinas variadas, como química, física, biologia e matemática.

Segundo o ministro, a proposta do MEC de redução do número de disciplinas no Ensino médio, anunciada na divulgação do Ideb de 2011, continua em discussão. Para Paim, o Plano Nacional de Educação ajudará nesse sentido, já que prevê a definição de uma base curricular comum para todo o país. Mas há uma pedra no meio do caminho:
– Não há consenso do que deve ser essa base nacional – disse o ministro.

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Chico Soares, afirmou que o Inep prepara um indicador de qualidade Docente, a fim de aferir as características da formação e das condições de trabalho dos Professores que têm maior impacto na melhoria do Ensino. Para 2015, o MEC avalia também a possibilidade de utilizar as notas do Exame Nacional do Ensino médio (Enem) no cálculo do Ideb. Isso porque atualmente o Ideb do nível médio baseia-se em provas aplicadas por amostragem, enquanto no fundamental, a Prova Brasil é realizada na maioria das Escolas.

Soares disse confiar que o Brasil atingirá a meta de melhoria do Ideb traçada para 2021, véspera do bicentenário da Independência. No caso dos anos iniciais, essa meta é 6 e corresponde à nota média dos Alunos de países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne nações desenvolvidas, além do México.
– Acho que vamos atingir nos anos finais e ultrapassar nos anos iniciais. No Ensino médio, existe uma dificuldade estrutural – disse Soares.

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, comemorou e politizou os resultados do Ideb de 2013, divulgados ontem. Aécio diz que o governo Dilma Rousseff reconheceu que o estado “tem a melhor Educação” no país.
– Os dados do Ideb divulgados hoje pelo Ministério da Educação particularmente são especiais para mim, pois Minas Gerais continua tendo a melhor Educação pública nos anos iniciais e finais do Ensino fundamental. Os dados mostram que o trabalho que iniciei em 2003 vem a cada dia se consolidando e avançando – disse Aécio Neves, que governou Minas Gerais entre 2003 e 2010.
Dilma e Marina Silva (PSB) não comentaram ontem os resultados do Ideb.

O Ideb mostrou que a nota de Minas Gerais nos anos iniciais do Ensino fundamental foi de 6,1. Era de 5,9 em 2011. E nos anos finais do Ensino fundamental, a nota foi de 4,8, contra 4,6 em 2011. No Ensino médio, porém, o desempenho das Escolas mineiras não foi bom. Caiu de 3,9 par 3,8.

Especialistas na área de Educação avaliam que o resultado é preocupante e criticaram a demora na apresentação dos dados, o que gerou especulações de que o governo não queria divulgá-los agora porque sabia que seriam ruins, o que se confirmou, principalmente, no Ensino médio.

O presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, critica também a forma da divulgação dos dados do Ideb:
– A falta de transparência e a mudança na forma de divulgação, em conta-gotas, não ter uma data certa para divulgar, isso tudo é muito ruim. Há uma politização da Prova Brasil no pior sentido da palavra. As poucas melhorias não são explicadas por políticas consistentes de Educação. Enquanto continuar o modelo de grande quantidade (de Alunos) e qualidade ruim na rede pública, a tendência é piorar. Não há razão para se esperar grandes flutuações nos resultados, pois não há políticas públicas que justifiquem mudanças.

O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o cientista social Daniel Cara, afirmou que os dados demonstram que o país está patinando e afirmou ser urgente que se implemente o Plano Nacional de Educação (PNE), que já foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff e virou lei.

– É fundamental e urgente que os governantes e a sociedade civil se dediquem à implementação do PNE. Por conta das eleições, esse debate está paralisado. O importante é avançar na oferta de um Ensino de qualidade – disse Daniel Cara.

Alejandra Velasco, do movimento Todos Pela Educação, afirma que a questão é muito maior que os problemas no Ensino médio e que é inaceitável essa redução nos indicadores mostrados pelo Ideb.

– A questão vai além do Ensino médio. O Ensino fundamental também preocupa. Até agora vinha se cumprindo as metas e agora cumpriu mais. Já vínhamos verificando que o Ensino médio estava estagnando, e essa queda é muito preocupante. É preciso adotar medidas específicas. Considero inadmissível essa regressão nos indicadores – disse Velasco, que entende ser necessário um regime de colaboração entre os governantes.

A Professora da Universidade de São Paulo (USP) Paula Louzano, doutora em Educação pela Universidade de Harvard, lamentou o Ministério da Educação não ter divulgado ontem o resultado completo do Ideb, com a tabela do Prova Brasil, que traz os resultados por Escola e município.

– O governo simplifica a informação, o que impede uma análise mais profunda. Não sabemos que nota subiu, se de português ou matemática – disse Paula Louzano.

Falta de continuidade
O Educador português José Pacheco, renomado internacionalmente por causa da experiência inovadora da Escola da Ponte, diz não ter se surpreendido com os dados.

– O Brasil possui a Escola do século XIX, o Professor do século XX e o Aluno do século XXI. No poder público, a Educação brasileira está entregue a gente que não entende de Educação: economistas, políticos, administradores, e não Educadores. Para mim, não é surpresa a notícia de que o Brasil não cumpriu as metas do Ideb no Ensino médio.

Doutora em Educação pela PUC-Rio, Andrea Ramal atribui o não atingimento de metas nos anos finais do Ensino fundamental e no médio principalmente à falta de continuidade nas políticas públicas para a Educação.

– Nos últimos 10 anos, tivemos cinco ministros da Educação, nem todos especialistas na área. Emana do próprio poder central, do MEC, um senso de descontinuidade, que se reflete também nos estados e municípios. Temos Escolas com notas comparáveis às da Coreia do Sul, mas são casos isolados. Para melhorar o conjunto, só com uma continuidade de gestão. Reinventa-se a roda continuamente, sem sair do lugar – diz Andrea.

 
Em MG, a cidade com melhor média do país 
Entre as cidades mais bem colocadas no ranking do Ensino fundamental, a pequena São José da Barra, em Minas Gerais, alcançou o topo da lista com média 8 muito provavelmente graças aos recursos que arrecada: com apenas 7 mil habitantes, a cidade tem um PIB per capita que ultrapassa os R$ 60 mil, segundo dados do IBGE de 2011. A cidade tem duas Escolas estaduais e quatro municipais – mas apenas duas participaram do Ideb porque as outras não atingiram o número mínimo de Alunos.

É comum que cidades de pequeno porte, com poucas Escolas, apareçam entre as melhores do país no Ideb. Seus resultados, no entanto, tendem a variar mais do que o de municípios grandes. Outras cidades que atingiram média 8 e lideram o ranking dos primeiros anos do Ensino fundamental são Serranopolis do Iguaú (PR) e São José do Cedro (SC).
São José da Barra tornou-se município apenas em 1995, mas começou a se formar no início da década de 1960, quando o antigo vilarejo foi inundado com o enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Furnas, na região Sul de Minas Gerais.

O segredo da Educação básica por lá, dizem os Educadores, são a atenção com o Aluno e a estrutura das instituições. A especialização dos Educadores também é apontada pelos gestores como um trunfo. Mas é claro que a riqueza do município, que tem como principal fonte de renda os impostos pagos por Furnas, tem papel importante:

– Oferecemos merenda, transporte e uniforme para nossos 600 Alunos, além de dar suporte para as Escolas estaduais. O estudante aqui tem gasto zero – afirma o secretário municipal de Educação, Paulo Marcio Barbosa.

Chama atenção na lista das 20 melhores também a presença de 4 cidades cearenses entre as 20 primeiras colocadas, um ranking dominado por cidades do Sul e do Sudeste. O bom desempenho das Escolas do Ceará é puxado pela experiência de Sobral (a quinta do ranking deste ano, com média 7,8), que apareceu no mapa da Educação nacional nos últimos anos ao adotar um novo modelo de gestão que transformou-a em exemplo de reforma educacional: em cinco anos, o percentual de crianças que não sabiam ler e escrever no 3º ano do Ensino fundamental caiu de 48% para 3%. A cada edição do Ideb, Sobral mostra os frutos colhidos com investimentos em Educação, começados ainda em 2001. Em 2005, primeiro ano com notas do índice, a cidade tinha alcançado média 4. Em 2007, 4,9, pulando para 6,6 em 2009 e 7,3 em 2011.

Uma das iniciativas foi o lançamento, em 2007, do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) no Ceará, medida que propunha alfabetizar todas as crianças e realocá-las nas séries adequadas a seu desenvolvimento na Escola. Em 2001, quando 48% das crianças não sabiam ler, elas seguiam avançando nas séries, o que acabava gerando deficiência de aprendizagem como uma bola de neve.

– Por isso decidimos começar do zero, construir a base. É preciso que as crianças saibam o básico, ler e escrever, para só depois começarmos a ensinar outras coisas. Não tem jeito, o tempo não volta – afirmou Maurício de Holanda, secretário estadual de Educação do Ceará, ontem, durante o evento “Educação 360”, promovido pelo GLOBO e pelo Extra.

Qualificação e prêmios
Somadas a isso, outras políticas públicas conseguiram zerar o índice de evasão Escolar. Outros pontos fortes da administração educacional no estado são o planejamento e a qualificação profissional.

Os Professores recebem treinamento constante e o município começou uma política de concursos públicos a cada dois anos, resultando hoje em uma proporção de 85% de Professores titulares no quadro Docente. Além disso, há gratificações baseadas em avaliações e prêmios por desempenho. As iniciativas ajudaram, nos últimos anos, a melhorar as Escolas para além de Sobral, em cidades como Novo Oriente, Cariré e Groaíras, hoje entre as 20 melhores no Ensino fundamental.

 
Presidente do Inep: ‘Temos problema estrutural no Ensino Médio’
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Francisco Soares, negou ontem, durante sua participação no encontro Educação 360, que a demora na divulgação dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb), criticada por Educador es e políticos, tenha sido motivada pelo calendário eleitoral.

Apresentados na sexta-feira, os dados de 2013 mostraram que o Brasil não teve avanço na média final do Ensino médio, que ficou em 3,7, aquém da meta de 3,9. Nos anos finais do Ensino fundamental, a meta era 4,4, mas anota geral ficou em 4,2 (confira os números no quadro ao lado). —Não reconhecemos atraso . Ontem (sex ta-feira) foram divulgados todos os dados. Tudo que alguém pudesse ver pode ver desde ontem (sexta) — afirmou. Soares atribuiu a demora na divulgação a uma grande quantidade de recursos de Escolas. A justificativa foi a mesma dada pelo Ministério da Educação (MEC) depois que O GLOBO revelou que o relatório já estava em poder da Casa Civil havia mais de 15 dias. —A explicação é razoavelmente simples.

O Ideb se transformou em algo tão central para a Educação brasileira que a gente tem que estar muito seguro sobre o resultado. Os números foram para as Escolas . A sistematização é que demorou um pouco . Apesar de relativizar a demora o presidente do Inep admitiu que o período final da Educação básica sofre de problemas graves: —Nos anos iniciais do Ensino fundamental, observamos um avanço significativo desde 2005 (quando foi aferido o primeiro Ideb). Nos anos finais do fundamental, o resultado é menos colorido . E, no Ensino médio, temos um problema estrutural.

‘DADOS CONFIÁVEIS’
Durante sua conferência magna no Educação 360, a última do evento , ele pregou a necessidade de acesso a dados confiáveis de Escolas a fim de se replicar boas experiências educativas desenvolvidas isoladamente.

Para Soares, conhecer e imitar os bons exemplos é um dos caminhos para a necessária reforma de todo o sistema. Ao longo de seu discurso , pontuado por histórias bem-humoradas, o presidente do In ep citou meta s prevista s no Plano Nacional da Educação (PNE), aprovado em junho pelo Congresso. Um dos objetivos é a universalização do Ensino infantil nos próximos dez anos .

Hoje , de acordo com o Inep , 93% das crianças de 4 a 6 anos estão na Pré-Escola. Por outro lado , no Ensino médio, a realidade é ruim: somente metade dos jovens de 15 a 17 anos estão nesse estágio da Educação formal, quando a meta é chegar a 85%. Mais: apenas 66% dos brasileiros de 16 anos terminaram o Ensino fundamental, o que o próprio gestor considerou uma “situação preocupante ”. Ele defendeu ainda a construção de uma base nacional comum curricular , demanda antig a de Professor es . Com esse conteúdo , no qual o governo começou a trabalhar recentemente, estará mais definido o que os Alunos devem aprender em cada etapa. —Base nacional comum não é currículo Escolar . Não temos , de Brasília, que dizer como cada unidade vai funcionar . Mas temos que definir certas coisas que o Aluno deve sair sabendo. Para isso , é preciso qualificação . Hoje, quem está na Escola dos bons Professores aprende corretamente. Mas quem não está não aprende — ponderou.

Os dados do Ideb
Apresentados na última sexta-feira, os números de 2013 do índice mostraram que duas das três metas previstas não foram cumpridas em nível nacional. Odesempenho decepcionante também da rede privada de Ensino teria contribuído em parte para o mau resultado.

3,9 (NUMA ESCALA DE 0 A 10)
Era a meta estabelecida para o Ensino médio, somadas as médias das redes pública e privada. O índice atingido foi 3,7.

4,4
Era a meta para os anos finais do Ensino fundamental em 2013, também somadas as redes pública e privada. O total aferido foi 4,2.

4,9
Era a meta para os anos iniciais do Ensino fundamental, somadas as redes pública e privada. Com 5,2 atingidos, este foi o único nível que superou o resultado esperado temos problema estrutural no ensino médio’

Sistema integral dá resultados em goiás 
O Colégio Lyceu, na região Central de Goiânia, é uma das unidades que ajudaram o estado a conquistar o 1º lugar na avaliação nacional do Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb). A Escola, fundada em 1937, trocou o sistema regular pelo integral. O novo modelo é elogiado pelos Alunos, como Tuani Cardoso, de 21 anos, que cursa o 3º ano do Ensino médio. Ela diz que o Ensino integral melhorou seu rendimento.
– Antes eu não sabia estudar. Agora, recebo reforço específico e faço avaliações semanais – compara.

A Escola faz parte de um programa piloto que hoje inclui 22 unidades no Estado e vem atraindo os estudantes. Semaias Alves Lima, de 17 anos, mora em Trindade, na região Metropolitana de Goiânia, e viaja 27 quilômetros de ônibus todos os dias para estudar no Lyceu. Ele conta que na prova do Ideb, em 2013, teve dificuldade em matemática, mas buscou reforço e já se prepara para o Exame Nacional do Ensino médio (Enem).

Outra mudança na rede pública estadual, apontada pelo diretor do Lyceu, Edijar Júnior Barbosa, é o regime de dedicação exclusiva dos Professores.

– A evolução nas notas da rede pública é visível – afirma, comparando o resultado com a rede particular em Goiás, que ficou praticamente estagnada, com nota 5,5 considerando os últimos índices divulgados. Ele acrescenta que a evasão Escolar também caiu com o novo sistema.

O topo do ranking nacional no Ideb foi comemorado pelo governo goiano, que atribui a conquista ao chamado Pacto pela Educação, implantado nas Escolas públicas há três anos. O Ideb avalia o desempenho dos Alunos em provas de português, matemática e redação, com taxas de aprovação.

Segundo a Secretaria Estadual de Educação, o programa combina uma série de ações do governo que servem de incentivo para Professores, Alunos e Escolas, individualmente.
A secretária de Educação, Vanda Siqueira, diz que o pacto inclui 25 ações, entre elas o sistema de bônus de desempenho que premia Professores com R$ 1,5 mil, duas vezes por ano. O Aluno que tem bom rendimento – um dos dois indicadores usados no cálculo do Ideb – recebe a “poupança Aluno”, no valor de R$ 1,2 mil. Cerca de dez mil Alunos já foram beneficiados.

O bom resultado é visto nas Escolas como termômetro para o ingresso nas universidades federais. Taynara Babugem Mesquita, de 18 anos, cursa o 3º ano e também viaja quase 20 quilômetros diariamente para estudar. Ela diz que sonha com a faculdade de Engenharia e acredita que sair de uma Escola pública pode ajudar no programa de cotas.

Em Goiás, a taxa de rendimento – que é baseada em indicadores de aprovação, reprovação e abandono Escolar – foi a melhor do País: 0,88. A nota do Ideb é calculada multiplicando a taxa de rendimento pela média de proficiência.

 

Rede privada não bate metas e registra piora no ensino médio 
Apesar de ainda estar em situação melhor do que a rede pública, o setor privado também registrou resultados negativos no Ideb de 2013. Pela primeira vez desde que o indicador começou a ser calculado, houve queda na nota média das Escolas particulares no Ensino médio e nos anos finais do Ensino fundamental. Em nenhum dos níveis de Ensino avaliados a rede privada conseguiu alcançar suas metas específicas. Nos anos iniciais do Ensino fundamental, houve uma melhoria de 0,2 ponto, insuficiente para que as metas fossem batidas.

Assim como na rede pública, o quadro mais preocupante para a rede privada está no Ensino médio, onde houve queda de 5,7 para 5,4 na nota média dos Alunos. A meta era atingir 6,0. O resultado de 2013 foi o pior da série histórica, iniciada em 2005, da rede privada do Ensino médio.

As Escolas particulares do Rio no Ensino médio foram as que registraram a maior queda do país, passando da média de 5,5 para 4,8. Se, há quatro anos, era a rede estadual do estado que aparecia na incômoda posição de penúltimo lugar no ranking do Ideb, desta vez é a rede particular fluminense que ostenta esse dado negativo, superando apenas Alagoas (média 4,7) se forem consideradas somente as médias da rede particular. Com a mesma média do Rio, aparecem ainda as redes privadas de Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte e Sergipe. O estado com melhor colocação entre os colégios que cobram mensalidade é Santa Catarina, com 5,9.

“Fidelidade discutível”
O vice-presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Rio de Janeiro, Vitor Nótrica, considera discutível se o Ideb reflete com fidelidade a situação dos colégios privados. Para ele, há questões muito mais profundas, como particularidades das instituições e diferenças regionais, que não são contempladas pelo levantamento. Isso impossibilita que se faça uma decodificação completa do que está por trás dos resultados.

Por outro lado, ele admite que essas instituições estão sendo afetadas por um engessamento gerado pelo Exame Nacional do Ensino médio (Enem), que pode ter causado essa estagnação.

– A própria sociedade cobra isso das Escolas, pois tem como meta o ingresso dos Alunos na universidade ao final do Ensino médio. E o Enem é a principal forma de acesso. Com isso, as instituições ficam limitadas.
Ele também lembra que as Escolas privadas não estão blindadas quanto aos problemas que afetam todo o segmento da sociedade.

– As Escolas particulares também enfrentam crises com a qualificação de Professor, falta de estímulo à carreira do magistério e até crises econômicas – conclui.

O presidente do instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, diz que a queda nas médias do Ideb da rede privada (nos anos finais do Ensino fundamental, a nota caiu de 6 para 5,9) pode estar associada ao maior acesso de classes econômicas menos favorecidas nos últimos anos.

– No caso das Escolas particulares, que pioraram um pouco, a interpretação é mais complexa, pois elas não estão sujeitas a problemas de fluxo Escolar, pois nelas a reprovação é muito baixa. Uma possibilidade seria o ingresso de contingentes expressivos de Alunos de classe econômica C e abaixo dela – avalia Oliveira.

Para o presidente da Associação Brasileira de Avaliação, Ruben Klein, os dados fornecidos pelo Ideb não mostram de forma precisa se houve, de fato, uma queda no desempenho destas instituições ou uma flutuação amostral. Mesmo assim, é possível identificar uma estagnação no setor, que acende o alerta para que algo precisa ser mudado:

– Sabemos que nessas instituições também é preciso mudar a mentalidade dos Professores e o Ensino praticado. As Escolas precisam fazer um acompanhamento mais profundo de cada Aluno. Ainda é muito comum em colégios de elite aquela postura em que, se o Aluno vai mal, é convidado a migrar para outra instituição.

 

 

Opinião: A crise do Ensino Médio
Os pífios resultados do Ensino médio no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação básica), finalmente divulgado pelo MEC na sexta-feira passada, leva ntam uma questão per tinen te: por que não conseguimos aproveitar ventos favoráveis de mudança que, ao menos em tese , contr ibuir iam para a melhoria da qualidade do Ensino? Por causa da redução das taxas de fecundidade, a população de 15 a 17 anos, faixa etária considerada adequada para o Ensino médio, ficou estabilizada ao redor de 10,5 milhões de habitantes nos últimos dez anos.

Como reflexo disso, o número de Alunos frequentando o Ensino médio também se manteve. Em 2005, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, eram 8,6 milhões de jovens no antigo segundo grau. Em 2012, o total foi de 8,8 milhões. Não hou ve , por tanto , pressão par a ab ri r mais vagas, e o número de matrículas teve pouca alteração.

Nos anos 90, quando os indicadores de aprendizado registraram piora no Brasil, atribuiu-se a queda no desempenho acadêmico ao ingresso de Alunos mais pobres no sistema. Foi uma explicação bastante contestada na época por soar como desculpa pela má gestão, mas o raciocínio tinha alguma legitimidade, pois é fato cientificamente comprovado que o nível socioeconômico dos estudantes é o principal fator a influenciar seu desempenho.

Desta vez, ao menos no Ensino médio, o argumento não cola. Em 2005, quando a série do Ideb começou a ser calculada, a renda média nos domicílios por pessoa dos Alunos frequentando o antigo segundo grau era de R$ 549 (já considerando a inflação do período).

Em 2012, o valor observado foi R$ 635. Ofuturo do Ensino médio é ainda mais preocupante se considerarmos que há uma parcela significativa dos jovens, justamente os mais pobres, fora da Escola. Em 2005, 18% da população de 15 a 17 anos já não frequentava mais uma sala de aula. Em 2012, último dado disponível da Pnad, o percentual era quase o mesmo: 16%. Teriam faltado recursos? Para um país que ainda gasta por estudante cerca de um terço da média dos países desenvolvidos, dizer que já estamos num patamar suficiente é exagero.

Mas é preciso registrar que, de 2005 a 2011, último ano para o qual o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeir a) fez este cálculo, o valor investido por Aluno do Ensino médio mais do que tr iplicou, passando de R$ 1.348 anuais para R$ 4.212. Em período parecido (de 2005 a2012), a Pnad indicou um aumento real de 57% na média salarial do Professor desse nível de Ensino. Em Educação, é sabido que é preciso tempo para colher resultados.

Ninguém espera um salto de qualidade imediatamente após a injeção de mais recursos. No entanto, com ventos externos favoráveis ao Ensino médio, seria ju sto cobrar, ao menos, que não estivéssemos estagnados, quadro verificado nesta divulgação do Ideb. Diante disso, fica claro que não adianta fazer mais do mesmo para enfrentar a crise do Ensino médio. É preciso discutir seriamente soluções que mudem para valer a realidade do que acontece dentro da sala de aula, a começar pelo cur rí culo e pela for maçã o dos Professores. 

Fonte: O Globo (RJ) – 6/09/2014

 


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