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Publicado em 03 de agosto de 2012 | 3 minutos de leitura

Sem lugar, sem autoridade

No que se transformou a relação professor-aluno? Numa sociedade em que todas as informações estão ao alcance de um clique no Google, em que o professor já não é mais o único detentor do conhecimento e em que crianças e jovens são incentivados a serem cada vez mais autônomos, parece que a figura do professor perdeu o espaço de autoridade dentro da sala de aula. Espaço de reconhecimento de seu valor enquanto profissional/estudioso de uma determinada área do conhecimento.

Não sou contrário a era do Google, ao compartilhamento das informações, e muito menos a dar vez e voz aos jovens, mas acredito que muitos professores, no processo de mudanças das últimas três décadas, foram sendo colocados num sem lugar. Não só os professores, mas os adultos de uma forma geral frente à juventude.

Hoje, a sala de aula tornou-se um espaço onde o professor tem grande dificuldade de exercer sua autoridade (por favor, não vamos confundir com autoritarismo). Exemplos práticos: os estudantes ignoram a presença do professor, não cumprem prazos na entrega dos trabalhos, querem impor sempre a sua vontade no ritmo e na condução da aula.

Não, posso generalizar. Outros leitores dirão que os jovens sempre foram assim, testaram os limites do professor. Concordo. Mas não podemos negar que essa relação está mais complexa. Outro grupo culpará os professores por tal cenário. Afirmarão que o “mestre” é que não sabe lidar com os adolescentes, que não encontra um ponto de equilíbrio, que não tem pulso firme, que quer continuar com a sua postura conservadora. Será mesmo?

Neste complexo relacionamento, que une gerações tão diferentes, mas extremamente ricas, alguns professores já jogaram a toalha. Desistiram da ideia de envolver/conquistar, construir uma relação com todos os estudantes. Relacionam-se apenas com aqueles que ainda estão interessados na troca, no diálogo. Outros, na busca de uma melhor interface, vêm conseguindo lidar com a atual geração, mas vivem antenados para qualquer imprevisto que possa dificultar o relacionamento e colocá-lo por água abaixo.

Incentivamos e muitas vezes idolatramos a geração dos jovens, talvez, a primeira a ter acesso ilimitado e instantâneo a tanta informação. A primeira a poder criar, produzir e distribuir a sua própria informação. Mas, a primeira, talvez, que é criada sem ter nos adultos (pais e professores) referências e valores. Posso estar generalizando, mas em microespaços é essa a realidade.

Marcus Tavares é Professor e Jornalista. Doutorando em Educação pela PUC-Rio.
marcus.tadeu@uol.com.br


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