MARIANA TIMÓTEO
O psicólogo Oliver P. John, diretor do Laboratório de Personalidade da Universidade de Berkeley Divulgação
SÃO PAULO – Diretor do Laboratório de Personalidade da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, o psicólogo Oliver P. John vem há 20 anos aprimorando as aplicações de sua criação mais famosa, o “The Big Five Personality Test” (ou teste de personalidade dos “cinco grandes”, em tradução livre). O método se baseia em cinco características da psicologia humana: abertura a experiências novas, conscienciosidade, extroversão, amabilidade e estabilidade emocional. Utilizado inicialmente por especialistas em recrutar pessoas para empregos, o método conquistou os educadores por ajudar os alunos a adquirirem as chamadas habilidades socioemocionais — como persistência, tolerância, responsabilidade, gerenciamento de conflitos, cooperação, autoestima e organização. Num congresso realizado sobre o tema na semana passada em São Paulo, organizado pelo Instituto Ayrton Senna, John falou ao GLOBO.
Como o senhor chegou ao ‘Big Five’?
Fomos ao dicionário buscar quase todas as palavras usadas para definir uma pessoa. E as englobamos em categorias maiores. Chegamos a cinco. Foi uma forma de conseguir aplicar de forma mais útil e objetiva o que Freud e Jung não conseguiram. O “Big Five” junta todas essas personalidades e as põe num único sistema de compreensão.
Numa sociedade que cultua a psicanálise, por que o senhor diz que Freud e Jung não foram acertados na criação de seus métodos?
Freud era um cara muito inteligente, mas era apenas um ser humano. A psicanálise funciona bem para pessoas verbais, capazes de se analisar. Mas, se você tiver um paciente que more numa favela e lhe pedir para se sentar num divã e pensar sobre si, ele vai olhar e dizer: “do que você está falando?”. Freud não é para todo mundo. E suas teorias são limitadas. Ele fala, por exemplo, sobre personalidade oral, personalidade anal, que estão muito conectadas à nossa conscienciosidade. Freud não falava em extroversão, foi Jung quem trouxe isso. As ideias estavam por aí, mas era necessário colocá-las juntas.
Por que só agora os educadores estão recorrendo ao seu teste?
Na educação, as pessoas pensam em características humanas que nunca mudam, como o temperamento de uma criança. Mas este é um pensamento antigo. Meu “avaliador de personalidade” mostra que a escola e a família são capazes de mudar as crianças, torná-las melhores e, assim, mais bem-sucedidas. Basta identificar logo quais são essas características mais problemáticas, o que é facilmente feito hoje, e aplicar isso no dia a dia, como política escolar. Identificar cedo que uma criança tem um problema de concentração pode trazer um enorme benefício para ela.
Como a escola e a família podem ajudar a criança de forma mais objetiva?
Pais e professores certamente poderiam monitorar progressos, estipular prazos e revisá-los. Em casa, pais podem perguntar a uma criança que larga coisas por aí onde estão seus sapatos ou a toalha esquecida. A ideia é transformar tarefas em passos lógicos.
A partir de que idade a criança deve ser treinada para algumas competências?
Se você quer avaliar um menino de 5 anos, não pode dar a ele um questionário para que descreva a si mesmo. Ele não consegue ler. O “Big Five” funciona como um jogo. O pesquisador tem dois fantoches, um em cada mão. Cada um “fala” sobre a sua personalidade. Um diz: “eu faço o que meus amigos pedem para eu fazer”, e outro: “eu mando nos meus amigos”. Assim, a criança consegue se identificar. A partir dos 3 anos, elas já são capazes de identificar coleguinhas “maus” ou “implicantes”, “tímidos” ou “engraçados”. Aí já aparecem algumas das cinco competências, como extroversão, amabilidade e estabilidade emocional.
No Brasil, muitos pais dividem a educação dos filhos com babás. Qual a sua opinião sobre isso?
Nos Estados Unidos, descobrimos que, se a cuidadora for amável, atenta e quiser o bem da criança, será ótima. Mas é preciso haver constância. Crianças adoram e precisam de uma rotina, e não vão se sentir seguras se, a cada hora, vier uma pessoa diferente cuidar delas. Até uma determinada idade, as babás não precisam ensinar nada. Precisam apenas cuidar e sorrir, mostrando que o mundo é legal e a vida pode ser bela.
Fonte: Portal jornal O globo/educação