Não encontrei expressão mais adequada – “TRISTEZA EDUCACIONAL” – para batizar o nosso sentimento de desencanto sempre que nos referimos à Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) da rede pública brasileira, salvo, evidentemente, honrosas exceções.
Parodiando Casimiro de Abreu, posso, com a minha própria experiência pessoal, declamar:
“Ai que saudades educacionais
Que eu tenho
Daquela minha infância querida
Que os anos não trazem mais.”
e ilustrar a paródia com a formação recebida no Colégio Estadual de Santos (cidade onde conheci a mocidade) considerado, nas décadas de 40 e 50, um dos melhores colégios do Estado de São Paulo (incluindo-se os particulares), onde só se entrava –como no Colégio Pedro II de hoje – por submissão a um rigoroso concurso, tantos eram os candidatos para tão poucas vagas. E a maioria arrasadora era de classe média!
É bem verdade que, ao contrário dos tempos atuais, não havia a universalização do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Não se pode negar que as portas escolares, no século XXI, abriram-se para todos, mas, por outro lado, tem de se reconhecer que tal ESCALA não assegurou qualidade à nossa atual ESCOLA.
E a frustração nacional se alavanca, quando se sabe que a carga tributária brasileira sendo, “per capita”, uma das maiores do mundo, o que se tem como contrapartida é “um dos piores sistemas públicos educacionais do mundo” (Darcy Ribeiro ao apresentar, no Senado, o substitutivo que originou a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).
O poder público brasileiro, de um modo geral, acostumou-se (este é o verbo), secularmente, a não considerar a educação como “um bem de primeira necessidade”. Esse costume trouxe um efeito colateral grave: não reconhecer o Professor como o profissional de maior efeito multiplicador em qualquer sociedade do planeta.
Se, hoje, somos o que somos e temos o que temos, cultural ou economicamente, é porque professores tivemos em uma certa época de nossas vidas. E, não obstante tamanha importância tão exaltada nos palanques, é relegada, ostensivamente, nos palácios. É a ação que não se coaduna com o discurso; é a ingratidão dos ex-educandos (governantes de hoje) com seus educadores de ontem (os professores de seu passado).
Para ilustrar o desabafo, imaginemos se o salário de Professor fosse igual ao de Procurador. Não tenhamos dúvidas de que, nesta hipótese, eis o anúncio que mais abundaria em todos os jornais do país: “PROCURA-SE PROFESSOR”.
O que acabo de escrever, sob a forma crítica de caricatura, carrega, inegavelmente, um fundo de verdade e tem de transformar-se em realidade, não digo “a curto” – porque seria lirismo – mas, pelo menos, a médio prazo para sermos realistas.
Tenho fundados receios de que já seja um componente cultural, nosso, a postura do poder público de não morrer de amores pela educação. Leva-a para a mesa, mas não a leva para a cama… Não digo que a odeie, mas, pelo menos, civicamente, não a ama.
Não é que recursos públicos sobrem a se perder de vista. Não! O que sobra é a falta de vontade política de se consagrar a e-s-s-e-n-c-i-a-b-i-l-i-d-a-d-e da educação. Falta o esforço olímpico nesse sentido.
Se os “tigres asiáticos” conseguiram-no, por que não poderemos nós consegui-lo? Reconheço que o governante que se disponha a essa tentativa tem de ter coragem e carisma e, em sua catequese, é imprescindível o apoio maciço do 4º poder – a imprensa – e o da sociedade civil organizada – o poder dos poderes!
Há um ditado popular que reza: “Comer e coçar é só começar”…Ora, como estamos em um ano eleitoral (escolha de nossos executivos e legislativos nas esferas federal e estadual), então, creio eu, é chegado o momento de começar a “comer e coçar educação”.
Como?
Alterando-se as dotações orçamentárias com corajosos detrimentos em favor de inadiáveis prioridades, despertando, dentre elas, com insuperável fulgor: a educação!
E como os mandatos são de quatro anos, eis aqui uma bandeira a ser desfraldada: “PRÓXIMO QUATRIÊNIO: EDUCAÇÃO BOA PARA SEMPRE”.
Posso estar repetindo lugares-comuns (aliás, tenho consciência disto), mas como dizia Goebbels (Ministro da Propaganda do governo nazista): “Quanto mais repetida, até uma mentira se torna verdade”. Ora, se o princípio vale para credibilizar a mentira, o mínimo que se pode fazer – para que esta máxima impere – é repetir, repetir, repetir a verdade. Sempre!
Poderíamos, daí, até arriscar a enunciação do seguinte teorema: “vontade repetida + apoio geral = é realidade conquistada” .
Se sua demonstração for acatada por “gregos e troianos” de norte a sul, então, podemos jurar que todos nós, todos, passaríamos a sentir , ao contrário do título deste texto, uma vibrante e incontível ALEGRIA EDUCACIONAL.
*João Pessoa de Albuquerque é presidente da Associação Brasileira de Educação, Membro do Conselho Estadual de Educação,
Presidente do IBAM (Instituto Brasileiro de
Administração Municipal), Diretor da
Associação Brasileira de Educação e
ex-Presidente da UNE.